Quando me casei com meu esposo Juliano, com muito esforço e sacrifício, compramos um Chevette 79 para darmos conta de todos os nossos compromissos. Este carro foi responsável pelas maiores raivas que passei nesses primeiros tempos de casamento! Ele sempre nos deixava na mão! Sempre era um problema aqui, outro acolá, nos momentos mais inconvenientes e acho que gastamos mais dinheiro com consertos nele do que se tivéssemos comprado um carro mais novo. Mas fomos ficando com ele e dividíamos esse carro da melhor maneira que podíamos, um sempre esperando o outro, organizando os horários, traçando os itinerários, etc...
Nesta realidade, Juliano estudava e trabalhava no Plano Piloto, e eu trabalhava em Sobradinho e fazia estágio e ainda estudava no Plano em dias alternados. Os dias que ficava em Sobradinho, tinha carona no início da manhã e no final do dia apenas. Nos dias em que ia para o Plano Piloto, eu deixava Juliano no trabalho e ficava com o carro para ir ao estágio e às minhas aulas. Às 16hs estava liberada, então precisava esperar meu esposo até pelo menos 18hs, no final de seu expediente. Ele trabalhava num local meio afastado, o almoxarifado do Ministério Público Militar. A solução que eu encontrava era escolher alguma sombra de árvore por ali por perto e aguardar essas 2 horas (que muitas vezes se tornava 3 ou 4hs, dependendo das demandas do trabalho dele...
Lembro-me que aproveitava esse período para fazer todas as minhas tarefas, leituras, pesquisas e estudos da faculdade. Já comprava um lanchinho na saída da UnB, e me colocava a estudar e adiantar o que poderia ser adiantado por ali mesmo. Ligava o rádio na Nova Aliança, a emissora da Arquidiocese de Brasília, única Rádio Católica da época, e ia ouvindo os programas, as músicas enquanto fazia minhas atividades. Quando terminava as coisas da faculdade, colocava em dia os planejamentos dos trabalhos. Quando terminava, já fazia meu estudo da Palavra. Depois de tudo isso, muitas vezes olhava no relógio e ainda faltava muito tempo para pegar Juliano!
Então era o momento de ficar quietinha, aproveitando da presença de Maria naquele "carro-casa"! Sim, a Mãe era a minha companhia nessas tardes de espera pelo Juliano. Ela me inspirava uma ligeira faxina no carro, nas inúmera sacolas e mochilas que mantínhamos nele (pois realmente muitas vezes vivíamos mais tempo nele do que em nossa casa!), organizava os livros que ficavam nele, os materiais da Igreja que carregávamos para cima e para baixo no pequeno porta-malas... Então, juntas, contemplávamos os mistérios do Terço... e muitas vezes do Rosário inteiro! E depois cantava para ela o Ofício inteirinho enquanto não dava a hora.
Quando às vezes terminava e tinha dado a hora combinada com meu esposo, me dirigia ao estacionamento de seu serviço (que era fechado, mas o porteiro já me conhecia e me deixava entrar) e ficava esperando sua chegada para podermos ir embora para casa. Algumas vezes ele vinha me avisar que ia precisar demorar mais um pouco, então eu começava o "consagraço". Explico do que se trata: espontaneamente começava uma grande oração de consagração a Nossa Senhora de tudo o que o Espírito me trouxesse à mente! Eu digo "tudo", tudo mesmo que me viesse à mente. Começava por mim mesma e todas as "minhas coisas" (responsabilidades, missões, preocupações, estudos, trabalhos, saúde, coração, espiritualidade, etc), passava pro Ju e "suas coisas", meu pais, irmão, familiares, amigos, conhecidos, as pessoas e situações que haviam me pedido orações, Sobradinho, o Distrito Federal, Brasil, a Igreja, a humanidade, os jovens, as famílias, o clero, etc, etc, etc... Ia rezando, intercedendo, entregando tudo a Jesus, pelas mãos de Maria... Isso podia durar horas em oferta e súplicas!
Quantas vezes até chegava a orar em línguas em meio ao "consagraço": era um verdadeiro combate de oração pelo qual eu posso testemunhar que alcancei inúmeras graças, bênçãos especiais, restaurações, milagres... Eram momentos fortes de oração esses dias de espera! Nossa Senhora, a que sempre está envolvida com as sombras do Espírito (Lc 1, 35), era realmente um "canal especial de graça" para mim. Quem me conhece sabe que não há nada mais difícil para mim do que esperar! Mas naquela época eu não podia me dar ao luxo de ficar rodando com o carro (para não gastar gasolina!) fazendo outras coisas. Acredito, porém, que era a divina Providência me encaminhando para o "treino da espera", uma constante de Deus para mim, pela vivência desses momentos fortes de oração dentro daquele Chevette 79!
Aquele carro foi para mim, naquela época, mais que um posto avançado de casa, mais que um escritório-biblioteca, ele foi muitas tardes, verdadeira Capela! E todas as raivas que passamos com ele, hoje já fomos curados interiormente e o perdoamos, de todo coração! Lamentamos muito o dia em que ele foi roubado da frente da casa da minha mãe, uma lástima... E o "consagraço" se tornou um hábito que cultivo até os dias de hoje, em outras circunstâncias e momentos (adorações, nas caminhadas e corridas, etc), cuja eficácia ainda experimento e testemunho todo cuidado de Jesus e proteção de Maria Santíssima. Agradeço a Deus essa "escola de oração" pouco convencional que o Espírito providenciou em minha história, sempre na companhia de minha Mãe amada, a Virgem Santíssima!
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