27 de maio de 2013

Martírio: o testemunho da fé

Conforme está enunciado em nossa Constituição Federal, artigo V, inciso VI, temos no Brasil liberdade religiosa, assim como em muitas partes do mundo. Mas ainda hoje, em pleno século 21, neste mesmo ano de 2013, há lugares em nosso planeta em que muitos cristãos são martirizados por causa da fé em Cristo. Não é difícil encontrar notícias recentes de ataques a cristãos, muitas vezes dizimando comunidades inteiras incendiadas ou fazendo verdadeira chacinas durante a Missa, em lugares como Iraque, Nigéria, Paquistão, Egito, a maioria de autoria de grupos extremistas islâmicos.
Essa não é a nossa realidade, mas o martírio de sangue ainda acontece no mundo, embora raramente ganhe destaque nas mídias sociais. Na Vigília de Pentecostes de 2013, o Papa Francisco afirmou: “Há mais mártires hoje do que nos primeiros séculos da Igreja. Sim, mais mártires! Irmãos e irmãs nossos, que sofrem! Levam a fé até ao martírio. Mas o martírio nunca é uma derrota; o martírio é o grau mais alto do testemunho que devemos dar. Nós estamos a caminho do martírio, de pequenos martírios: ao renunciar a isto, ao fazer aquilo... vamos a caminho. E eles, coitados, dão a vida, mas dão-na – acabámos de ouvir a situação no Paquistão – por amor de Jesus, testemunhando Jesus.”
Um colega de curso, Douglas Mazuco, explicitou seu entendimento sobre esse tema de uma forma excelente, que transcrevo a seguir:
“A palavra martírio vem do grego "martiyria" que quer dizer, testemunha. O chamado de Atos 1, 8 é um chamado que transcende o tempo, sendo sempre atual: ‘E descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo’. Podemos, entender muito bem esse "sereis minhas testemunhas" por "sereis meus mártires". Somos convidados a testemunhar o Cristo em nossa vida, em nossa sociedade tão descrente. Não devemos nos ater apenas na proclamação, mas devemos viver o Evangelho e anunciá-lo à toda criatura. E, se isso custar a nossa vida, seria ainda muito pouco perto do que os mártires dos primeiros séculos fizeram. Somos chamados hoje a um martírio testemunhal, morrer para o mundo para anunciar para o mesmo que Jesus é a vida.”
 “Sereis minhas testemunhas = sereis meus mártires”. Em 2010, nosso querido papa emérito Bento XVI afirmou algo que eu, pessoalmente, tenho vivido muito (e imagino que possivelmente você, que lê agora este texto, também!), e guardado sempre em meu coração! Ele disse que hoje em dia vivemos um novo tipo de martírio, o da ridicularização e da exclusão. Pessoas que perdem o emprego por usarem um crucifixo no pescoço, jovens que são tidos como perdedores por viverem a castidade, juízes de paz que são obrigados a se demitirem por não aceitarem a realização de casamentos homoafetivos, médicos desqualificados profissionalmente por se oporem ao aborto, cristãos sempre retratados como corruptos, hipócritas ou imbecis na teledramaturgia, etc, etc...
É, meus irmãos, vivemos sim, tempos de martírio! Trágicos ou cotidianos, vermelhos ou brancos, mas martírio... Que Deus nos dê forças para que permaneçamos firmes na fé, preparados para de fato testemunhar que nada e nem ninguém pode nos separar do amor que Cristo manifestou por nós: nem a tribulação, nem nenhuma angústia, nem perseguição, ou fome, ou nudez, nem mesmo algum perigo ou espada! (Rom 8, 35) Que, como afirmava Tertuliano, todo martírio da Igreja, seja ele por derramamento de sangue ou por ridicularização, se converta sempre em semente de novos cristãos, amém!

26 de maio de 2013

Memórias Bíblicas - a história de uma amizade entre uma mulher e O Livro



Sobre as minhas primeiras memórias bíblicas não tenho como precisar uma data, pois desde antes de eu nascer, meus pais, por ordem do meu avô, se uniam toda quarta-feira, sempre às 21hs, para um momento de oração familiar. Sentavam-se à mesa, liam a Bíblia, algum outro livro espiritual e faziam orações espontâneas. O mais interessante era que nem meu avô, nem meu pai eram católicos (só minha mãe), mas assim era feito na nossa casa antes de eu nascer, na gravidez da minha mãe, quando eu era bebê, quando vieram meus irmãos e continua a ser feito até os dias de hoje! Passamos nossa infância (eu e meus irmãos) toda com essa vivência: a Bíblia era lida, toda quarta-feira, às 21hs, em nossa casa. Meu pai tinha também adquirido uma "Bíblia Ilustrada" que amávamos folhear, pois os desenhos eram mesmo lindos!
Quando eu tinha cerca de 10 anos, lembro-me que minha mãe passou a participar mais da Igreja, passamos a estudar em colégio católico e ela comprou então uma Bíblia grande, capa preta, por conta de uma novena de Natal em nossa rua. Ela ficava sempre em um local de destaque na sala e passamos a lê-la nas nossas reuniões de quartas. Também na escola havia muitos momentos de orações, terços, além das aulas de religião, das quais eu gostava muito. Até hoje, mais de 20 anos depois, eu tenho comigo guardados os meus cadernos de religião daquela época com artes sobre a Criação, a Páscoa, o Natal, etc. Eram informações bíblicas que me eram passadas por meio das práticas piedosas da minha mãe, dos professores e das irmãs do colégio.
Com 11 anos fiz minha catequese e 1ª Comunhão. Nessa ocasião ganhei minha primeira Bíblia (também a tenho comigo até hoje) e vez por outra lia. Na adolescência me afastei da Igreja, voltando só com 16 anos, por um encontro de Grupo Jovem. Nesse grupo fiz um grande amigo que, apesar de jovem, lia e sabia muito sobre a Bíblia. Sempre gostava de tirar minhas dúvidas com ele e uma vez ele me presenteou com uma Bíblia nova, pois a minha estava meio velhinha (ainda era aquela, da minha catequese!): como fiquei feliz! Na capa dessa Bíblia ele, numa dedicatória, escreveu: “Querida Manu, que tu possas sempre ser guiada pelo Espírito Santo de Deus e seresse lindo reflexo da luz de Deus entre nós.” E ainda acrescentou a citação do Salmo 119, 9-10: “Como poderá o jovem manter a sua conduta irrepreensível? Cumprindo tua Palavra, procurando-te de todo coração: ‘Não deixes que me desvie de teus mandamentos’.” Foi assim que esse meu amigo conquistou meu coração, foi um de seus atos mais românticos e, com certeza, um dos melhores presentes que ele me deu. Somos os melhores amigos um do outro até hoje, pois nossa amizade foi fundada na rocha viva da Palavra de Deus e nesse ano de 2013, eu e ele completamos 12 anos de casados (meu marido Juliano).
Quando eu fiz 18 anos, ingressando na RCC eu meio que me "viciei" na Palavra! A partir da experiência do Batismo no Espírito Santo eu passei a ler a Bíblia sem conseguir parar: em casa, no trabalho, na faculdade, no ônibus... Não sentia vergonha de puxar a Bíblia que havia ganhado em lugar e ocasião nenhuma! Tinha fome e sede da Palavra. Lembro-me que, numa das minhas aulas da faculdade, uma professora gostava de implicar comigo pois me identificava como cristã (estava sempre com as minhas camisetas do Grupo Jovem, de eventos da RCC e da Arquidiocese, além da Bíblia na carteira) e, sabe-se se lá por que, ela se mostrava muito hostil à religião. Uma vez, na frente de todos, ela me provocou com um versículo bíblico. Perguntei a ela: “Mas, professora, o que a senhora sabe sobre Bíblia?” Ela então me inquiriu: “Você já leu a Bíblia toda”? Respondi que ainda não havia lido a Bíblia inteira, mas que a lia sempre. Ela me disse então: “Pois eu já li sim, a Biblia todinha, do Gênesis ao Apocalipse!” Fiquei sem palavras e não descansei enquanto não fiz o mesmo. Ora, vejam só: minha professora ateia foi a grande incentivadora para que eu lesse a Bíblia inteira pela primeira vez!  (Valeu, professora!)
Caminhando com a RCC, fui aprendendo a manusear a Palavra, conhecê-la, usá-la, proclamá-la e buscar a cada dia vivê-la e anunciá-la. Foi no trabalho pastoral, pelas demandas dele, que a meditação da Palavra foi se tornando um hábito em minha vida. Foi no aprofundamento da minha relação com o Senhor Jesus que a minha Bíblia foi promovida de “livro de cabeceira” a uma “amiga espiritual”. Minhas Bíblias (hoje tenho algumas) são mesmo uma categoria de objeto diferente para mim, eu as acaricio, carrego para cima e para baixo, beijo, cheiro, abraço, marco, grifo, faço anotações... Elas vivem tão presentes no dia-a-dia que muitas vezes precisei salvá-las dos meus filhos pequenos! Eles tanto sabem que aquele é um livro diferente que, sempre que trazem algum trabalhinho ou desenho especial para a mamãe da escola ou da Igreja, logo falam: “Coloca dentro da sua Bíblia, mamãe!” Faço de tudo para estar com seu conteúdo em minha mente, minha alma, meu coração, minha boca para anunciar, dentro da minha casa para educar meus pequenos, na ponta dos meus dedos para transmiti-la pela palavra escrita, digitada, pela internet...   Eu tenho sido aquela “chata” que toca no assunto de Bíblia, oportuna e inoportunamente ( 2 Tm 4, 2) para a minha comunidade, meus amigos, minha família, não por mérito meu, mas por graça e misericórdia do Senhor que me conduz...

E eu quero incentivar, você que agora lê essas linhas: leia a Sagrada Escritura! Você já leu a Bíblia toda? Quanto tempo faz que você não ouve a voz suave do Senhor nessas linhas? Faça da leitura da Bíblia um hábito! Permita que o Espírito Santo “ative” em você essa fome e essa sede da Palavra Dele! Quantas respostas que você espera da vida estão nessas páginas! Quanto força, quanto consolo! Não perca mais tempo! Não espere não ter nada para estudar! Não priorize a televisão ou a internet! Não dependa de nenhum método, atenha-se a dois passos, os únicos necessários: 1. Comece! 2. Não pare. Apenas pegue sua Bíblia, abra e leia, meditando, orando, hoje, amanhã e a cada dia, um pouquinho de cada vez. Não complique e nem procure desculpas: simplesmente faça. Coragem! Atitude! Fidelidade! O Senhor te espera em cada uma daquelas folhas... 

15 de maio de 2013

Unidade na Igreja: depende de nós




O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a Igreja é UNA, e explica o mistério da UNIDADE da Igreja em seus números 813 ao 822. Segundo o Catecismo, a Igreja é Una por sua fonte (a Trindade que é um só Deus), por seu Fundador (Jesus, que reconciliou todos em Si mesmo) e por sua alma (o Espírito Santo, que opera tudo em todos) e, apesar da grade diversidade de pessoas, culturas, espiritualidades e carismas, nada disso se opõe à sua unidade. Entretanto, existem feridas nas estruturas eclesiais.
Essa questão das divisões dentro da Igreja sempre me incomoda muito. Cada um de nós que fazemos parte de uma paróquia vivenciamos essa realidade. Vivemos na carne aquela música interessantíssima da Banda Exodus:

Eu sou católico, apostólico, romano.
Há muito tempo pratico a religião.
A minha Igreja exige fé e compromisso,
Ser fiel a tudo isso sempre foi minha intenção.

Mas, como eu, tem muita gente que se esquece
De vez em quando da sua obrigação.
Um só quer reza, o outro só quer trabalhar,
Como pudessem separar o serviço da oração.

Enquanto houver divisão ou parte contrária
A vida comunitária vai ser essa "arengação".

Tem que varrer a igreja, mas ninguém quer.
Tem que pintar o muro, mas ninguém quer.
Tem que tocar o sino, mas ninguém quer.
Entrar no paraíso todo mundo quer.
Tem que dobrar o joelho, mas ninguém quer.
Tem que fazer novena, mas ninguém quer.
Jejum e abstinência, mas ninguém quer.
Entrar no paraíso todo mundo quer.

( http://letras.mus.br/banda-exodus/1119401/ )


Acredito que a causa das divisões dentro da Igreja está no pecado individual de seus fiéis, ou seja, cada um de nós, e nesse contexto esse pecado pode ser ambição, vaidade, intolerância, etc. Também não excluiria a ação de Satanás, o divisor por excelência, que age sempre que encontra alguma brecha... Em tudo isso, destacaria a desobediência, pois ainda haja discordâncias e conflitos, se houvesse sempre obediência, não haveria divisões. Já dizia Santa Faustina: "O demônio pode ocultar-se atrás do manto da humildade, mas não pode vestir o manto da obediência.”
Não obstante Jesus tenha feito a Oração Sacerdotal (Jo 17) clamando ao Pai pela unidade dos cristãos, já por conhecer o ser humano e ter mesmo a expectativa de que haveria divisões na Igreja, não compreendo como muitas pessoas podem optar conscientemente por ser agentes de conflitos e polêmicas no meio do povo de Deus ao invés de se buscar uma convivência pacífica amparando-se no que une em detrimento de somente focar no que separa.
O caminho para a unidade, acredito, é num primeiro momento, a ORAÇÃO e o DIÁLOGO. Pela primeira a Igreja se une a Cristo, suas diretrizes, suas ordens, sua maneira de ser e agir; pelo segundo, poderemos ultrapassar as diferenças de entendimento e a grande variedade de visões de espiritualidade e ação pastoral. Aquele que ora, capacita-se sempre mais na caridade, sem a qual o diálogo ficaria infrutífero. Na hora dos conflitos, quando a divisão ameaça rachar a comunidade de fé, se persistir o orgulho e a opinião pessoal for priorizada sobre a obra de Deus, Satanás invade e a nossa carne facilmente sucumbe ao pecado, gerador das heresias, apostasias e cismas (CIC 817).
Além desses dois aspectos, para alcançarmos a unidade é imprescindível a OBEDIÊNCIA aos nossos superiores, seja o coordenador do grupo, o pároco, o bispo, o Papa. Quando não se obedece, o que estava só trincado termina por rachar, quebrar, dividir, e o resultado é o escândalo, e já sabemos, “ai daquele por quem vierem os escândalos”! (Lc 17,1-2)
Como eu sonho com a possibilidade dentro de uma comunidade paroquial, por exemplo, de os movimentos e pastorais poderem se articular para uma ação mais integrada! Imaginemos que o Ministro da Eucaristia fosse levar a comunhão para um idoso doente juntamente com a Pastoral da Saúde. Nesse contexto, vendo a necessidade material da família, os Vicentinos seriam acionados. Percebendo que a situação estava afetando todas as relações familiares, se convidaria a RCC para fazer uma oração naquela casa, se encaminharia o casal para o Encontro de Casais, o rapazinho seria acolhido no Grupo Jovem e as crianças na Catequese. Todos com seus trabalhos autônomos mas assumindo uma co-responsabilidade pelos filhos de Deus necessitados da ação da Igreja!
Vejo muitos católicos cheios de opiniões sobre Movimento X e Pastoral Y, muitas críticas aos padres... Gostaria de ver esse mesmo empenho para o blá blá blá se converter em trabalho duro e mãos na massa no serviço do Reino, com muita oração e diálogo, fechando toda e qualquer fresta para a ação do inimigo de Deus e priorizando a obediência aos superiores! Não digo uma obediência cega e alienada, mas com aquela confiança filial na Palavra de Deus que nos garante que “não há autoridade que não venha de Deus” (Rm 13,1), sempre com tolerância, espírito de oração e diálogo (insisto, muito diálogo!). A autoridade constituída é instrumento de Deus para o nosso bem! (Rm 1, 4)
Não percamos o foco: todas as obras da Igreja tem como meta a santificação dos homens em Cristo e à glorificação de Deus (CIC 824). Fomentar a divisão só atrapalha nossos objetivos (Mt 12,25ss). Sejamos instrumentos de paz e unidade, lutemos por essa causa! Que sejamos UM, como Ele queria...


4 de maio de 2013

Oração antes de uma operação




Meu Pai,
Tu és o meu refúgio, o único refúgio.
Eu te clamo, Senhor, para fazeres com que tudo corra bem em minha operação e para que me concedas cura e ajuda.
Guia a mão do cirurgião afim de que ele tenha êxito. Eu agradeço a Ti, Senhor, por que sei que os médicos são teus instrumentos e ajudadores. Nada pode acontecer-me, exceto o que está decidido para mim, no teu amor, ó Pai.
Toma-me em teus braços agora, durante as próximas horas e nos dias que virão. Poderei assim repousar completamente no Senhor, mesmo quando estiver inconsciente. Permite que eu me comporte durante a operação de maneira que não desonre o teu nome. Se, pela tua graça, eu acordar depois da operação, meus primeiros pensamentos e palavras serão de agradecimento ao Senhor.
À medida que entrego todo o meu ser a ti nesta operação, permite que minha vida inteira esteja em tua luz. Não quero submeter-me a esta operação sem confessar todos os meus pecados a ti e, se necessário, também a outros. Quero receber o teu perdão.
Senhor Jesus, aguardo tudo o que deva acontecer comigo, com o conhecimento consolador de que sou teu e tu és meu. Nada poderá separar-me do teu amor, seja na vida ou na morte.
Amém.
(Pe. Alberto Gambarini)

1 de maio de 2013

TESTEMUNHO: Deus entrou na minha vida




Nasci, graças a Deus, numa família muito amorosa, trabalhadora e honesta. Sou a 1ª de três filhos. Como em muitos lares brasileiros, fui criada em meio ao sincretismo da Fé católica com a doutrina do espiritismo. Minha mãe é católica, meu pai, espírita kardecista, ambos sempre atuantes em sua religião. Passei a minha infância pendendo para um lado e outro, participando dessas duas realidades. Sempre estudei em colégios católicos, fiz a catequese, 1ª Comunhão, embora frequentasse reuniões espíritas ocasionalmente. Não faltou em nossas infâncias (minha e dos meus irmãos) as novenas, as “barraquinhas”, visitas a asilos e orfanatos, etc. E por iniciativa do meu pai (em obediência a seu pai, meu avô), toda quarta-feira, pontualmente às 21hs, nos sentávamos à mesa, nos reconciliávamos de possíveis “perrengues”, líamos a Bíblia e orávamos.
Na adolescência, embora ainda estudando num colégio salesiano, me decidi por não fazer a Crisma, pois entendia que se a fizesse, estaria “confirmando” minha adesão pela Igreja Católica, coisa que não queria na época. Mesmo sendo muito jovem, me arvorava em opiniões imaturas e sem fundamentos sobre a Igreja, tudo fruto de uma personalidade forte (ainda que em formação), mas superficial, mergulhada em desconhecimento, própria dos adolescentes. Ao invés da Crisma, enveredei pelo espiritismo, estudando seus escritos, participando de suas práticas, tentando promover a caridade ao modo deles, ao lado de meu pai.
Mesmo tendo optado conscientemente por não ser católica, frequentemente ia às Missas com minha mãe, pois me apegava às palavras de Jesus que afirmava: “Fazei isto em memória de mim”. Achava que Jesus merecia minha consideração nesse quesito e, mesmo sem ter a noção completa do grande milagre que é a Eucaristia, percebia que só na Igreja Católica se cumpria o que Jesus pedia nessa sentença. Assim, hoje vejo que a Santa Eucaristia sempre foi aquele elo espiritual que nunca se rompeu e que ligava sempre minha alma batizada à Santa Igreja de Cristo.
Recordo-me que nesse período sentia-me frequentemente muito sozinha, sem amigos verdadeiros (meus únicos amigos eram os livros), passava dias e dias trancada no quarto com perguntas existenciais rodando pela minha cabeça. Questionava-me se a vida era mesmo apenas aquilo: estudar por cerca de 20 anos, casar, trabalhar, conseguir bens para depois morrer? E depois de morrer, o que viria? Eu reencarnaria? Iria para o purgatório, para o céu, ou (Ave Maria!) para o inferno? Sentia um profundo vazio com essas ideias. Não tinha um relacionamento com Deus. Acreditava que Ele existia e que poderia nos proteger se merecêssemos. Tinha medo de possíveis castigos e não queria que Ele se intrometesse muito em minha vida.
Entenda bem, apesar do que descrevi acima, eu sempre me considerei uma pessoa feliz, com uma família que eu amava e que me amava, nunca nada me faltou, e eu sempre procurei ser uma pessoa de bem, obedecer e respeitar meus pais, professores, cumprir com minhas obrigações e tudo o mais. Obviamente não era perfeita, nem sempre acertava e algumas vezes me sentia triste, mas no geral, não tinha por que reclamar de nada. Mas eu queria mais e sentia que a vida poderia ser mais.
Foi então que eu participei, aos 16 anos, do Encontro do Grupo Jovem da minha comunidade, o V Imago Dei, mais por insistência das minhas colegas da escola. Fui com a maior má vontade do mundo e creio mesmo que foi o Espírito que me conduziu, ou melhor, foi me empurrando ladeira acima! Nessa ocasião, sinto que fui, pela primeira vez, apresentada ao Senhor Jesus. Ainda de maneira formal, tive esse 1º encontro com Ele, algo mais ou menos como um aperto de mão. Foi uma porta que se abriu para que eu pegasse o retorno do caminho que estava trilhando e iniciasse uma nova rota, agora na Igreja e de uma maneira nova. E foi por essa porta que eu trouxe de volta para uma maior vivência eclesial minha mãe, novamente, e meus dois irmãos, Marcos e Márcio, mais conhecidos como os “Manolos”. J
Continuei em cima do muro por algum tempo, dentro da Igreja e dentro do centro espírita, mas gradualmente, com as reuniões do Grupo, as formações, os encontros, fui conhecendo o que era verdadeiramente a Igreja Católica. Não era nada do que eu imaginava do alto da minha arrogante ignorância juvenil. Ainda assim, muitas dúvidas brotavam em mim sobre Bíblia, doutrina, dogmas e posicionamentos da Igreja Católica. Foi então que, através de um Congresso de Jovens organizado pela RCC e Comunidade Canção Nova na minha cidade (Sobradinho-DF) em 1998, Ano do Espírito Santo, que tive, de fato, um encontro PESSOAL com Aquele para qual eu já trabalhava, mas que ainda não tinha permitido que adentrasse meu coração: Jesus. Depois disso, de fato, TUDO mudou, e eu nunca mais fui a mesma pessoa. Progressivamente fui percebendo que o caminho que Deus queria para mim estava na Igreja Católica e não em outras experiências e doutrinas. No começo aconteceram alguns embates com meu pai, mas aos poucos fomos aprendendo a aceitar e respeitar a opção de cada um.
Passei a participar do Grupo de Oração São Vicente e, nesse contexto, dentro da Renovação Carismática Católica, tive um contato mais íntimo com a Bíblia, entendi de fato o que é a Santa Eucaristia (ou melhor, QUEM É), aprofundei meu amor por Maria e a minha vida de oração se transformou completamente, tanto a pessoal quanto a comunitária, especialmente pela participação nos Sacramentos. Fiz a experiência de ser curada emocional e espiritualmente de tantas experiências que vivi. Gradualmente, vi o Senhor me usando como um instrumento para a realização de seus desígnios, através do conhecimento da Doutrina da Igreja e do discernimento e uso dos carismas. Foi crescendo em mim um comprometimento muito grande com Jesus, com o anúncio de Seu Reino através de Sua Santa Igreja e todas aquelas dúvidas da juventude foram sendo respondidas uma a uma, através dos estudos que a própria RCC promovia de várias formas.
Foi dentro da Igreja, através da minha Comunidade São Vicente (no Grupo Imago Dei, no Grupo de Oração São Vicente e, posteriormente, como Ministra da Eucaristia), que adquiri os melhores amigos que poderia ter, verdadeiramente uma família, e posso afirmar sem demagogia: nunca mais senti falta de amigos verdadeiros. Na São Vicente formei minha família. Casei-me com um grande amigo de missão, meu marido Juliano, e tenho a plena convicção que nossa união ultrapassa o “estado civil: casados” e vai muito além, pois assumimos nosso casamento como “Vocação” e tudo o que esse termo significa. Tivemos 6 filhos, dois deles já na Glória de Deus e os outros quatro aqui conosco, nos santificando sempre mais e nos dando a dimensão do que é serviço por amor. Em nenhum momento dessa trajetória sentimos a ausência ou omissão de Deus em nenhum segundo sequer da nossa história.
Para finalizar, preciso dizer que, para cada parágrafo desses acima, eu teria pelo menos, no mínimo, mais uns 3 ou 4 testemunhos da presença ou ação de Deus em minha vida, de maneira direta ou por meio dos irmãos! São muitas bênçãos e graças e, de fato, seria preciso uma coletânea inteira de livros para mencionar um a um. Como se pode perceber, a minha história não é, por assim dizer, de grande superação ou dores, tragédias, etc, onde o Senhor tenha que ter feito alguma ação extraordinariamente miraculosa... Eu também nunca fui tão perdida nas trevas, no pecado, para que Deus tivesse que me resgatar de forma dramática, por muito sofrimento e dor! Não. Eu sempre fui uma pessoa, entre aspas: “boa”, que procurava fazer a coisa certa da melhor maneira possível. Minha história é simples, mas com certeza, Deus agiu nela e a transformou! E, se me permitem dizer, creio que tudo isso é só o começo, e que muito mais ainda está por vir! ;)