21 de abril de 2013

A quem iríamos nós?




Todo mundo tem um trecho preferido da Bíblia. O meu é João 6. Explico.

Eu nasci católica, fui batizada e, apesar de meu pai ser espírita, minha mãe sempre buscou me conduzir nos caminhos da Igreja, me matriculou em escolas católicas, me fez fazer a catequese e a 1ª Comunhão. Nessa ocasião, tinham me explicado que o Pão e o Vinho oferecidos o altar da Missa eram o Corpo e o Sangue de Cristo, mas eu nunca tinha refletido mais profundamente sobre o que isso significava. A única coisa que batia forte no meu coração era que Jesus havia mandado “fazer isso em memória de Mim”. Então sempre pensava que tinha que ter consideração por esse pedido e, mesmo que na adolescência tenha optado por não fazer a Crisma (pois na época havia decidido que não seria mais católica), sempre assistia uma Missa de vez em quando, afinal, Ele havia pedido essa memória...

Quando em 1996 fiz o encontro do Grupo Jovem Imago Dei da minha comunidade e fui paulatinamente retornando à Igreja, recebia sempre explicações sobre o tema da Eucaristia, mas ainda não havia captado toda a grandeza dessa verdade. A partir de 1998, ingressando na RCC, no Grupo de Oração São Vicente, esses ensinamentos foram se aprofundando, tanto pelas próprias formações do movimento, quanto pelo acompanhamento dos irmãos. No Imago Dei e também na RCC sempre era levada a participar de inúmeras Missas e Adorações Eucarísticas, mas ainda persistia em mim a ideia do simbolismo do Pão e do Vinho apenas, além da memória requerida por Jesus.

Até que ganhei de presente um livrinho do Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, intitulado “Caminho para a Santidade”. Em um dos seus capítulos, ele trata do tema da Eucaristia fundamentado justamente no Evangelho de São João, capítulo 6.

16 de abril de 2013

Vós sempre resististes ao Espírito Santo!




“Homens de cabeça dura, insensíveis e incircuncisos de coração e ouvido! Vós sempre resististes ao Espírito Santo!” (Atos 7, 51) Assim dizia Santo Estêvão, instantes antes de morrer por sua Fé em Cristo.

Sobre essa perícope, o Missal cotidiano da Assembleia Cristã (Ed. Paulus, pg. 383-384) ensina que o Proto-mártir evidencia em suas palavras toda a recusa e rejeição do povo que, em sua trágica aventura ao longo da história da salvação diz “não” a Deus. O ápice dessa negação é a Cruz para Cristo. Explica o Missal que “Estêvão não morre apenas por Cristo, morre como Cristo e com Ele”.

Jesus numa ocasião perguntou aos discípulos: “Para vocês, quem eu sou?” Foi Pedro, que também foi capaz de morrer por Cristo, como Cristo e com Cristo, que respondeu corretamente: “Tu és o Cristo!”. Diante dessa resposta, Jesus afirmou: “É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia. Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lc 9, 22-24).

Que proposta complicada! Jesus nos manda renunciarmos a nós mesmos; o mundo manda que valorizemos a nós em primeiríssimo lugar, sempre mais e mais. Ele nos manda tomarmos a nossa cruz, Satanás quer nos influenciar o tempo inteiro para que lancemos fora nossas Cruzes e gozemos livremente dos prazeres dessa vida. O Mestre convida-nos a segui-Lo, mas nossa carne com suas concupiscências muitas vezes quer trilhar outros caminhos, e não O Caminho que é Ele mesmo: Jesus!

Por nós mesmos, jamais conseguiremos cumprir essa proposta de Jesus! Por nossos méritos, nunca conseguiremos nos renegar, tomar cruz nenhuma e nem seguir o Mestre! Somos fracos, medrosos, vaidosos demais, preocupados apenas com nosso bem-estar... Somos, como acusou Estêvão, de fato cabeças-dura, insensíveis e “incircuncisos de coração e ouvido”! Resistimos a Deus, resistimos a Cristo, resistimos ao Espírito Santo, recusamos a proposta que nos traz a Palavra de Deus!  Como renunciar a mim mesmo?  Nossa carne canta como o antigo rock nacional: “Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim!” Como tomar cruz? CRUZ? Sacrifício causa-nos horror! Tudo o que buscamos nessa vida é não ter dores, não sofrer! Seguir Jesus?

Bom, somos cristãos... Daí, infere-se, queremos seguir Jesus. Ele mesmo explicita: SE ALGUÉM ME QUISER SEGUIR, só se quiser... Mas queremos segui-Lo bem tranquilos, com muito amor, muita luz, estrelinhas, numa rede tomando coca-cola, daqui do alto das nossas teorias, indo para a Igreja uma vez por semana, suportando uma homilia de no máximo 15 minutos, não perdoado mesmo quando nós também precisamos de perdão...
Como estamos próximos do Sinédrio e distantes de Estêvão!!!

Mas como poderemos nos assemelhar a sua heróica adesão a Cristo, chegando ao ponto do martírio? Como seria possível a nós, pobres mortais, pecadores, com nossas vidas tão corridas, sempre ocupados conosco mesmos? Essa questão parece um túnel sem a luz no fim do túnel!

A resposta é simples: estando cheios do Espírito Santo. Sem Ele, nada pode ser feito. Com Ele, o impossível se torna possível. Se assim não fosse, não nos teríamos garantido Jesus quando exclamou que maiores obras nós faríamos se tivéssemos fé, e que Ele nos enviaria o Espírito Paráclito, o Espírito da Verdade, que ficaria conosco eternamente, que permaneceria conosco e, mais do que isso, EM nós! (Jo 14, 12.16-17)

Em Atos capítulo 6, versículos 8, 10 e 15, e capítulo 7, versículo 55, podemos perceber como Estêvão estava cheio do Espírito Santo!

Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo.
Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava.
Fixando nele os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um anjo.
Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus.

E nós?
Papa Francisco em mais uma de suas profundas homilias na Capela da Casa de Santa Marta (16/04/2013) no Vaticano, falando sobre esse trecho do Atos, afirmou: “Ao que parece, hoje o Espírito Santo nos incomoda, porque nos incentiva, empurra a Igreja para que vá adiante. E nós queremos que ele adormeça, queremos domesticá-lo, e isto não é bom porque Ele é Deus e é a força que nos consola, a força para prosseguirmos. Mas seguir avante dificulta... a comodidade é melhor!”

Com certeza não é assim que queremos evoluir na vida, não é assim que nos contentaremos em seguir a Cristo! Precisamos desestacionar! O Espírito quer nos mover, por que teimar em ficar paralisado, endurecidos, centrados em nós mesmos, focados nas nossas quedas? Levantemos, irmãos! Saiamos de nossas comodidades! Circuncidemos nossos corações e nossos ouvidos e, a partir de agora, paremos de uma vez por todas de resistir ao movimento do Espírito em nossas vidas! Renunciemos a toda imobilidade, espiritual ou humana em geral, tomemos nossas cruzes e sigamos o Mestre! Seguir implica em sair do lugar: avante! Obedeçamosas advertências do nosso Papa Francisco nessa mesma homilia citada acima: “Não oponhamos resistência ao Espírito. É Ele que nos liberta. Caminhemos na estrada da docilidade do Espírito Santo, no caminho da santidade da Igreja!”

É difícil? Claro! Se fosse fácil, o Reino de Deus já estaria implantado plenamente, mas não, não é fácil... É impossível? Com o Espírito, eu creio com toda fé: nada é impossível! Então repito as palavras de Moisés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom: “Sim, Pai, não é fácil! Mas EU DESEJO, EU QUERO, EU VOU!” 

15 de abril de 2013

Jesus, Maria e José: nossa família vossa é!




Um pai, uma mãe e os filhos: eu acredito na família como Deus a criou!
Um pai, uma mãe e os filhos: eu acredito na família como Deus quis fazer parte na Sagrada Família de Nazaré!
E ainda que as nossas famílias não sejam perfeitas conforme o sonho de Deus, eu acredito que o Senhor quer fazer da minha e da sua família uma família sagrada!
Para isso, pais, mães, filhos, cada um exerça com amor e seriedade seu papel no seio familiar, colocando o Senhor acima de tudo e à frente de todos, tendo a consciência de que, embora nem todo mundo seja vocacionado ao matrimônio, todo ser humano é chamado a ser família!

Seguindo os conselhos do Pe. Zezinho na famosa Canção “Oração pela Família”:

Homens, carreguem em seus ombros a graça de serem verdadeiramente PAIS! Segundo Dom Henrique Soares (bispo auxiliar de Aracaju)*, “ a paternidade radical, fontal, princípio e modelo de toda paternidade brota de Deus e Pai. Ninguém pode ser pai a não ser em referência ao Pai de Jesus: "Dele procede toda paternidade no céu e na terra" (Ef 3,14). Seja o Pai Celeste o grande modelo para ti, homem! (Mt 5, 48) Mas também São José, o justo (Mt 1, 19)!

Mulheres, sejam de fato um céu de ternura, aconchego e calor! Tenham a percepção que é em sua feminilidade que se “exprime o seu talento com o serviço aos outros na normalidade do quotidiano. É no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a profunda vocação da própria vida,  enriquecendo a compreensão do mundo e contribuindo para a verdade plena das relações humanas. (Beato João Paulo II)** Seja Nossa Senhora a referência para ti, mulher! Referência de como ser a mulher virtuosa de Provérbio 31!

Filhos, procurem conhecer a força que brota do amor na busca sincera de Deus, na observância de seus Mandamentos, na participação da vida eclesial. Observem a manifestação desse amor nos esforços de seus pais para trazê-los ao mundo e criá-los com afeto e dignidade e os honre por um respeito, docilidade e obediência verdadeiros (CIC § 2216). Conheçam o amor e sua força amando e sendo amados no ambiente familiar. Seja Jesus, Filho de Deus Pai, filho de Maria e José, o grande e inigualável exemplo para todos os que são filhos (crianças, jovens, adultos e idosos)! Aprendamos com Ele a fazer bem todas as coisas, a sermos mansos, humildes de coração, obedientes (até a cruz se preciso for), a fazer a vontade dos pais e a Vontade do Pai!  

Famílias, contemplemos e imitemos a Sagrada Família de Nazaré! Rezemos pelas famílias do mundo inteiro, Igrejas domésticas, Santuários de Vida, Escolas de Amor!

“A preocupação de Maria e José por Jesus é a mesma de todos os pais que educam um filho, que o introduzem na vida e na compreensão da realidade. Portanto, hoje é indispensável dirigir uma oração especial ao Senhor por todas as famílias do mundo. Imitando a Sagrada Família de Nazaré, os pais se preocupem seriamente pelo crescimento e pela educação dos próprios filhos, a fim de que amadureçam como homens responsáveis e cidadãos honestos, sem nunca esquecer que a fé é um dom precioso que deve ser alimentado nos próprios filhos, inclusive com o exemplo pessoal. Ao mesmo tempo, rezemos para que cada criança seja recebida como dom de Deus, apoiada pelo amor do pai e da mãe, para poder crescer como o Senhor Jesus, “em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52). O amor, a fidelidade e a dedicação de Maria e José sejam exemplo para todos os esposos cristãos, que não são os amigos ou os donos da vida dos seus filhos, mas os guardiões deste dom incomparável de Deus. O silêncio de José, homem justo (cf. Mt 1, 19), e o exemplo de Maria, que ponderava todas as coisas no seu coração (cf. Lc 2, 51), nos façam entrar no mistério cheio de fé e humanidade da Sagrada Família. Desejo a todas as famílias cristãs que vivam na presença de Deus, com o mesmo amor e a mesma alegria da família de Jesus, Maria e José.”***

Jesus, Maria e José: nossa família vossa é!



*Disponível em www.domhenrique.com.br
**Carta do Papa João Paulo às Mulheres (1995)
***Angelus na Festa da Sagrada Família, Papa Bento XVI, 2012

14 de abril de 2013

Razões a favor do aborto




A recente decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM) favorável ao aborto até a 12.ª semana de gravidez, dependendo apenas da vontade autônoma da mulher, dá-nos a ocasião para tratar mais uma vez desse tema. Ouso escrever novamente sobre o assunto mesmo porque o silêncio poderia sugerir falta de argumentos, e isso não é verdade. Por falar nisso, tratemos de alguns argumentos favoráveis ao aborto.

O aborto seria aprovável até a 12.ª semana de gestação porque o tubo neural do feto ainda não se formou? Assim, a sua condição equivaleria à de um morto cerebral? Mas se assim fosse, como justificar os estudos e práticas de psicologia e de psiquiatria que se ocupam da vida humana desde uma fase bem anterior a 12 semanas de gestação? A condição de um morto cerebral nunca pode ser equiparada à de um feto, que está em plena dinâmica vital.

Na vida humana, não se pode estabelecer uma fase que já não seja humana desde o seu primeiro início, na fecundação. Aquilo que aparece na 13.ª semana já existia também desde a primeira semana de gestação: um ser humano vivo. Embora ainda não esteja completo, ele já existe em sua identidade humana, que não se inicia somente na 13.ª semana de gestação.

Legalizar o aborto valorizaria a autonomia da mulher e o respeito pela sua decisão livre? A questão não está bem colocada. A decisão não envolve exclusivamente a mulher, mas também a vida de mais um ser humano; e a liberdade de um não pode prejudicar o direito do outro. O feto ou bebê, enquanto é gerado, não é parte do corpo da mulher, mas já é um outro ser humano, que tem o direito de viver e de ser amado.

O aborto implica a supressão da vida de um ser humano e esse ato não pode ser considerado um direito de ninguém, nem valorizaria a dignidade da mulher. Sabe-se quantas consequências e quantos sofrimentos, inclusive psíquicos, esse ato causa à mulher. O sofrimento de uma gravidez indesejada ou difícil pode ser aliviado e não pode ser equiparado ao dano causado por um aborto, sobretudo porque se trata de uma vida suprimida.

Afirma-se que o Estado brasileiro é laico e não deveria levar em conta argumentos de tipo religioso. Esse é um sofisma frequente e mal esconde uma discriminação religiosa contra o direito à livre manifestação dos cidadãos. Além disso, os direitos humanos independem de religião e valem para todos, tanto como benefício quanto como imperativo ético. No caso do aborto, não se trata de questão religiosa, mas do mais elementar direito humano à vida.

Países desenvolvidos seriam favoráveis ao aborto e só os obscurantistas, fundamentalistas e fanáticos seriam contrários à sua aprovação. Será mesmo? Dar aos adultos e fortes a possibilidade de dispor da vida de indefesos e inocentes, até ao ponto de suprimi-los, não parece um sinal de verdadeiro desenvolvimento, mas de retorno à lei da selva.

O bem da sociedade justificaria a eliminação dos indesejados, dos defeituosos e doentes, das "vidas inviáveis" antes mesmo de nascerem? Foi com semelhantes raciocínios, habilmente apresentados, que regimes totalitários, cruéis e desumanos eliminaram milhões de seres humanos considerados inferiores ou não dignos de viver.

A maioria das pessoas seria favorável ao aborto? Isso requer uma verificação séria, pois não parece verdade. Mesmo se fosse, o direito de matar pessoas não pode ser submetido à vontade da maioria; há coisas que independem de consenso por serem verdades ou direitos inalienáveis. Ninguém pensaria em submeter a uma decisão consensual o direito a respirar, comer ou dormir. Muito menos ainda, o direito de viver!

A violência sexual, que viola a "dignidade sexual" da mulher, ou certas situações de injustiça social, que dão origem à pobreza, legitimariam, talvez, o aborto? O problema é que, dessa forma, se decretaria de maneira simplista a pena de morte contra um ser humano inocente e indefeso, em vez de atingir os verdadeiros culpados por injustiças e violências.

Fala-se que há males que vêm para bem. Assim, mesmo admitindo que o aborto seja um mal, considera-se que dele resultaria um bem, pois se evitariam os sofrimentos de "vidas inúteis", o fardo social de seres humanos improdutivos, o aumento da pobreza e a temida explosão demográfica. É preciso lembrar, contudo, que os fins não justificam os meios. Os males sociais e os da saúde precisam ser enfrentados, mas jamais mediante a negação do direito à vida das pessoas.

Diz-se ainda que os países mais desenvolvidos já liberaram o aborto e a não legalização dessa prática seria um sinal de atraso. Por certo, o descontrole na prática do aborto em clínicas especializadas, ou por mãos inexperientes, é um sinal de atraso e de pouco respeito à vida humana ou à lei que a protege. A solução seria, então, a legalização do aborto? Não o seria, antes, mediante uma atenção maior à saúde das gestantes e à educação para comportamentos sexuais dignos e responsáveis, sem o recurso à fórmula simplista e inaceitável da supressão de vidas indefesas e inocentes?

Não é por demais inglório manifestar-se sobre essa questão antipática, recebendo o carimbo de "conservador" e "mente fechada"? Dia mais, dia menos, o aborto será aprovado; existem pressões muito fortes sobre os legisladores e diversos interesses estão em jogo. Vale mesmo a pena? Eis o problema. A questão delicada da dignidade humana e do direito à vida é demasiado séria para ficar refém da pressão ideológica.

Não é questão religiosa, mas de direitos humanos. Só haveria uma maneira de mudar essa visão: se fosse provado, de maneira convincente, que o feto ou o bebê ainda não nascido não é um ser humano. Mas esse é um outro discurso, longo e complexo. Afirmamos que é um ser humano e, portanto, seu mais elementar direito, que é viver, não lhe deve ser negado.

Publicado em O ESTADO DE S.PAULO ed. 13/4/2013

Cardeal dom Odilo Scherer

9 de abril de 2013

Carta a um amigo de fé que se afastou de Deus



Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo. Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante. (Eclo 6, 14-17)

Querido amigo, amado irmão,
A Providência Divina movimentou nossa história para que nossos caminhos se encontrassem nessa nossa passagem tão breve por esta terra. Eu creio que foi obra de Deus termos nos conhecido na Igreja e nos tornado, como diz a canção, “amigos pra sempre, dois amigos que nasceram pela fé”. Eu acredito no sopro do Espírito Santo que movimenta várias vidas conectadas, formando como que uma "onda de realização da Vontade Divina". Creio que ter te conhecido nesse contexto de espiritualidade e fé tem um motivo, um propósito divino.
Para mim, você é mais que um amigo, em Cristo somos irmãos (Prov 18, 24). Hoje o nosso Pai me pergunta como perguntou a Caim: “Onde está seu irmão?" E eu não posso responder como ele respondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?”(Gn 4,9).  Não posso fingir que sou indiferente ao que se passa com você. Se eu não me importasse com você, certamente nem estava perdendo tempo com essas reflexões, mas o caso é que eu me importo.
O que foi que aconteceu? O que Deus fez para que você se afastasse Dele? Por que as coisas do Céu foram perdendo a importância para você? Em que momento, o que antes você considerava como verdade, se tornou mentira? Quando foi que Maria deixou de ser sua Mãe? Por que as palavras de Jesus naquela época faziam tanto sentido e agora não fazem mais? Que acontecimento fez com que a Eucaristia que comungávamos juntos deixou de ser o Corpo e o Sangue de Cristo para você? O que tem alimentado a tua alma, irmão? O que tem preenchido o teu coração? Que sonhos você tem sonhado que excluem tanto assim as coisas de Deus?
Eu conheço teu coração, amado irmão. Sei que ele já foi terra boa para a semente da Palavra (Mt 13, 4-23). Sei por que já colhi dos frutos que você frutificou para a minha caminhada de conversão. Quantas e quantas vezes você foi referência de santidade e busca de Deus para mim, para tantos! Quantas e quantas vezes você foi a Voz de Deus para os meus ouvidos! Quantas e quantas vezes dos seus braços eu recebi os abraços do Mestre, eu vi a misericórdia Dele em seus olhos, você foi canal da ação do Espírito para mim, para tantos!... Eu conheço teu coração, irmão, mas o que há nele nos dias de hoje? Que pássaros tem comido as sementes da Palavra de Deus que foram lançadas no seu coração? Que pedras as tem enterrado, que sol as tem queimado, que espinhos a tem sufocado? Pois a semente foi lançada, chegou a frutificar, eu sou testemunha! Mas qual o lugar da Palavra de Deus na sua vida hoje, meu querido irmão?
Não entendo tanto cansaço, indisposição, tédio, até mesmo uma certa hostilidade sua no quesito viver a Fé... Cansar-se de Deus é desistir do único Amor Verdadeiro, é retirar o sentido da própria vida! Se afastando de Deus, você se afasta de si mesmo, se desfigura, te desconheço... E não digo isso como julgamento, apenas com saudade! Sinto sua falta nas Adorações, nas Vigílias, nas Missas, nos terços... Sinto falta da sua sabedoria me aconselhando sobre a Palavra. Sinto falta da unção do seu cantar. Sinto falta da ação do Espírito atuando em você em favor da minha conversão, da conversão de tantos irmãos...
Meu irmão, ouça o apelo de Deus pela boca de alguém que te ama muito: “Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto!” (Is 55,6) O propósito dessa carta não é te dar nenhum sermão, é antes um desabafo... Desabafo de amigo! Se eu, que sou tão imperfeito (e você sabe o quanto!) sinto sua falta, imagine o coração de Jesus como não está pela sua ausência... Volta para o Senhor! O Senhor é bom! As coisas de Deus são agradáveis também! Volta para a comunidade! Você faz falta! Você é querido! Não se trata de cobrança, de pressão: é o coração falando... Venha, vamos caminhar juntos de novo nos caminhos da eternidade! Não precisa falar nada, não precisa explicar nada: simplesmente volte. E continuaremos de onde paramos, passo a passo com Jesus, amparados por Maria.

8 de abril de 2013

Oração na enfermidade




O Catecismo da Igreja Católica explica em seu parágrafo 1508 sobre cura e doença:

O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar a força da graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as orações mais intensas não conseguem obter a cura de todas as doenças. Por isso, São Paulo deve aprender do Senhor que "basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9), e que os sofrimentos que temos de suportar podem ter como sentido "completar na minha carne o que falta às tribulações de Cristo por seu corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24).

Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida plena” (Jo 10,10). A Palavra ensina (Mt 8, 17) que a profecia de Isaías 53, 4 que diz “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou nossas doenças” se aplica a Jesus. Ainda assim Jesus não curou (e não cura) todos os doentes. O Catecismo, nos parágrafos 1505-1506, esclarece ainda:

Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o "pecado do mundo" (Jo 1,29). A enfermidade não é mais do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora. Cristo convida seus discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o, adquirem uma nova visão da doença e dos doentes.

Essa configuração do doente e de Cristo é tão radical que em Mt 25, 36. 39-40 Jesus afirma que o que fizermos a um enfermo, estaremos fazendo a Ele próprio. Acho que Deus “sabe o que faz” quando permite que experimentemos em nossa história os dois lados: o do doente e o do que cuida/convive com um doente. 

Uma vez um médico me esclareceu em tom de brincadeira, mas baseado na sua experiência profissional, parafraseando Euclides da Cunha (que escreveu a célebre frase “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”): “O doente é, antes de tudo, um chato.”