21 de abril de 2013

A quem iríamos nós?




Todo mundo tem um trecho preferido da Bíblia. O meu é João 6. Explico.

Eu nasci católica, fui batizada e, apesar de meu pai ser espírita, minha mãe sempre buscou me conduzir nos caminhos da Igreja, me matriculou em escolas católicas, me fez fazer a catequese e a 1ª Comunhão. Nessa ocasião, tinham me explicado que o Pão e o Vinho oferecidos o altar da Missa eram o Corpo e o Sangue de Cristo, mas eu nunca tinha refletido mais profundamente sobre o que isso significava. A única coisa que batia forte no meu coração era que Jesus havia mandado “fazer isso em memória de Mim”. Então sempre pensava que tinha que ter consideração por esse pedido e, mesmo que na adolescência tenha optado por não fazer a Crisma (pois na época havia decidido que não seria mais católica), sempre assistia uma Missa de vez em quando, afinal, Ele havia pedido essa memória...

Quando em 1996 fiz o encontro do Grupo Jovem Imago Dei da minha comunidade e fui paulatinamente retornando à Igreja, recebia sempre explicações sobre o tema da Eucaristia, mas ainda não havia captado toda a grandeza dessa verdade. A partir de 1998, ingressando na RCC, no Grupo de Oração São Vicente, esses ensinamentos foram se aprofundando, tanto pelas próprias formações do movimento, quanto pelo acompanhamento dos irmãos. No Imago Dei e também na RCC sempre era levada a participar de inúmeras Missas e Adorações Eucarísticas, mas ainda persistia em mim a ideia do simbolismo do Pão e do Vinho apenas, além da memória requerida por Jesus.

Até que ganhei de presente um livrinho do Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, intitulado “Caminho para a Santidade”. Em um dos seus capítulos, ele trata do tema da Eucaristia fundamentado justamente no Evangelho de São João, capítulo 6.


Se formos vendo o capítulo passo a passo, grandes lições poderemos recolher. Em primeiro lugar, João 6 se inicia com o relato da multiplicação dos pães. De 5 pães de cevada e 2 peixinhos, o Senhor alimentou 5 mil homens! Monsenhor Jonas destaca daí que Jesus tem poder sobre a matéria. Seguindo adiante, em Jo 6, 16ss, temos o relato de Jesus caminhando sobre as águas, de onde depreendemos que Ele possui também poder sobre seu próprio corpo.

Logo em seguida, a partir do versículo 22, temos o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida. É no mínimo intrigante: minha carne é verdadeira comida, meu sangue é verdadeira bebida! O Catecismo da Igreja católica ensina sobre esse trecho: O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da paixão os escandalizou: “Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode escutar?” (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. “Também vos quereis ir embora?” (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como convite do seu amor a descobrir que só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6, 68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-Lo a Ele próprio.

Francisco Fernandéz Carvajal analisa que, diante de tão maravilhosa revelação, os discípulos o abandonam. Não o "povão", mas os discípulos! Os Doze ficaram (leais num momento de deslealdade). Por quê? Por que eram AMIGOS de Jesus. Haviam compreendido que Ele tinha palavras de vida eterna; porque o amavam profundamente. Esse trecho do Evangelho fala sobre adesão, fidelidade, o centro é Jesus Eucarístico e nossa resposta a essa verdade de fé. Só é fiel quem ama!

O Papa João Paulo II nos aconselha: “Procurai Jesus, esforçando-vos por conseguir uma fé pessoal profunda que informe e oriente toda a vossa vida; mas sobretudo que o vosso compromisso e o vosso programa sejam amar a Jesus, com um amor sincero, autêntico e pessoal. Ele deve ser o vosso amigo e o vosso apoio no caminho da vida. Só Ele tem palavras de vida eterna”. Ninguém mais fora d’Ele. Enquanto estivermos neste mundo, a nossa vida será uma luta constante entre amar a Cristo e irmos embora.

A solene profissão de fé de Pedro se destaca no fundo trágico da traição de Judas, explicitam os cometários do Missal Cotidiano da Ed. Paulus. Judas, zelota, esperava em Cristo a libertação de Israel e o fim da Dominação romana, mas Jesus cada vez mais e mais o decepcionava indicando que não era para isso que Ele havia vindo. Ao meditar nesse trecho, eu me questionava: por que naquele momento Judas não foi embora? Ele ficou! Ficou sem abrir o coração para a proposta, para amar Jesus. 

O que acontece quando a pessoa se fecha, não CRÊ? Ef 6, 16 nos esclarece que para nos protegermos das investidas do demônio devemos nos armar com o escudo da fé, mas se não o fazemos... Satanás entra! Satanás entrou em Judas, no coração dele (Lc 22, 3; Jo 13, 2). Judas foi capaz de estar na Santa Ceia, instituição da Eucaristia, a primeira Missa, a antecipação do Sacrifício de Jesus na Cruz de forma incruenta, o cumprimento do que Ele havia dito em Jo 6 e ainda assim, sair para traí-lo. Nós também somos  assim, tantas vezes! Chico Buarque canta “Procurando bem, todo mundo faz pecado logo assim que a Missa termina”... E não é mesmo verdade?

Sem nos abrirmos a fé, é impossível aceitar as palavras de vida eterna do Senhor, é impossível aceitar sua proposta, seu jeito, e o extremo desse fechamento é a recusa até mesmo ao perdão que Ele nos dá quando o negamos e traímos! O que fez Judas? Preferiu tirar a própria vida (Mt 27, 3-10 Atos 1, 18.19). Roguemos a Deus que nos livre de sermos Judas, e que nos ajude a sermos Pedro! Capazes de aderirmos às suas Verdades mais difíceis e mesmo quando o negarmos, que choremos sim amargamente (Lc 22, 62), mas possamos voltar e dizer sempre “Sim, Senhor, Tu sabes tudo! Tu sabes que eu te amo! A quem eu iria?! SÓ TU TENS AS PALAVRAS DE VIDA ETERNA! E eu creio e sei que tu és o Santo de Deus!” (Jo 21, 17 e Jo 6, 68-69).

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