“Homens de cabeça dura,
insensíveis e incircuncisos de coração e ouvido! Vós sempre resististes ao
Espírito Santo!” (Atos 7, 51) Assim dizia Santo Estêvão, instantes antes de
morrer por sua Fé em Cristo.
Sobre essa perícope, o
Missal cotidiano da Assembleia Cristã (Ed. Paulus, pg. 383-384) ensina que o
Proto-mártir evidencia em suas palavras toda a recusa e rejeição do povo que,
em sua trágica aventura ao longo da história da salvação diz “não” a Deus. O
ápice dessa negação é a Cruz para Cristo. Explica o Missal que “Estêvão não
morre apenas por Cristo, morre como Cristo e com Ele”.
Jesus numa ocasião perguntou
aos discípulos: “Para vocês, quem eu sou?” Foi Pedro, que também foi capaz de
morrer por Cristo, como Cristo e com Cristo, que respondeu corretamente: “Tu és
o Cristo!”. Diante dessa resposta, Jesus afirmou: “É necessário que o Filho do
Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos
sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que
ressuscite ao terceiro dia. Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida,
perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lc 9,
22-24).
Que proposta complicada!
Jesus nos manda renunciarmos a nós mesmos; o mundo manda que valorizemos a nós
em primeiríssimo lugar, sempre mais e mais. Ele nos manda tomarmos a nossa
cruz, Satanás quer nos influenciar o tempo inteiro para que lancemos fora
nossas Cruzes e gozemos livremente dos prazeres dessa vida. O Mestre
convida-nos a segui-Lo, mas nossa carne com suas concupiscências muitas vezes
quer trilhar outros caminhos, e não O Caminho que é Ele mesmo: Jesus!
Por nós mesmos, jamais
conseguiremos cumprir essa proposta de Jesus! Por nossos méritos, nunca
conseguiremos nos renegar, tomar cruz nenhuma e nem seguir o Mestre! Somos
fracos, medrosos, vaidosos demais, preocupados apenas com nosso bem-estar... Somos,
como acusou Estêvão, de fato cabeças-dura, insensíveis e “incircuncisos de
coração e ouvido”! Resistimos a Deus, resistimos a Cristo, resistimos ao
Espírito Santo, recusamos a proposta que nos traz a Palavra de Deus! Como renunciar a mim mesmo? Nossa carne canta como o antigo rock nacional:
“Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim!” Como tomar cruz? CRUZ?
Sacrifício causa-nos horror! Tudo o que buscamos nessa vida é não ter dores,
não sofrer! Seguir Jesus?
Bom, somos cristãos... Daí,
infere-se, queremos seguir Jesus. Ele mesmo explicita: SE ALGUÉM ME QUISER
SEGUIR, só se quiser... Mas queremos segui-Lo bem tranquilos, com muito amor,
muita luz, estrelinhas, numa rede tomando coca-cola, daqui do alto das nossas
teorias, indo para a Igreja uma vez por semana, suportando uma homilia de no
máximo 15 minutos, não perdoado mesmo quando nós também precisamos de perdão...
Como estamos próximos do
Sinédrio e distantes de Estêvão!!!
Mas como poderemos nos
assemelhar a sua heróica adesão a Cristo, chegando ao ponto do martírio? Como
seria possível a nós, pobres mortais, pecadores, com nossas vidas tão corridas,
sempre ocupados conosco mesmos? Essa questão parece um túnel sem a luz no fim
do túnel!
A resposta é simples:
estando cheios do Espírito Santo. Sem Ele, nada pode ser feito. Com Ele, o
impossível se torna possível. Se assim não fosse, não nos teríamos garantido
Jesus quando exclamou que maiores obras nós faríamos se tivéssemos fé, e que
Ele nos enviaria o Espírito Paráclito, o Espírito da Verdade, que ficaria
conosco eternamente, que permaneceria conosco e, mais do que isso, EM nós! (Jo
14, 12.16-17)
Em Atos capítulo 6,
versículos 8, 10 e 15, e capítulo 7, versículo 55, podemos perceber como
Estêvão estava cheio do Espírito Santo!
Estêvão,
cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo.
Não
podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava.
Fixando
nele os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante
ao de um anjo.
Mas,
cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de
pé à direita de Deus.
E nós?
Papa Francisco em mais uma
de suas profundas homilias na Capela da Casa de Santa Marta (16/04/2013) no Vaticano,
falando sobre esse trecho do Atos, afirmou: “Ao que parece, hoje o Espírito
Santo nos incomoda, porque nos incentiva, empurra a Igreja para que vá adiante.
E nós queremos que ele adormeça, queremos domesticá-lo, e isto não é bom porque
Ele é Deus e é a força que nos consola, a força para prosseguirmos. Mas seguir
avante dificulta... a comodidade é melhor!”
Com certeza não é assim que
queremos evoluir na vida, não é assim que nos contentaremos em seguir a Cristo!
Precisamos desestacionar! O Espírito quer nos mover, por que teimar em ficar paralisado,
endurecidos, centrados em nós mesmos, focados nas nossas quedas? Levantemos,
irmãos! Saiamos de nossas comodidades! Circuncidemos nossos corações e nossos ouvidos
e, a partir de agora, paremos de uma vez por todas de resistir ao movimento do
Espírito em nossas vidas! Renunciemos a toda imobilidade, espiritual ou humana
em geral, tomemos nossas cruzes e sigamos o Mestre! Seguir implica em sair do
lugar: avante! Obedeçamosas advertências do nosso Papa Francisco nessa mesma
homilia citada acima: “Não oponhamos resistência ao Espírito. É Ele que nos
liberta. Caminhemos na estrada da docilidade do Espírito Santo, no caminho da
santidade da Igreja!”
É difícil? Claro! Se fosse
fácil, o Reino de Deus já estaria implantado plenamente, mas não, não é
fácil... É impossível? Com o Espírito, eu creio com toda fé: nada é impossível!
Então repito as palavras de Moisés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom: “Sim,
Pai, não é fácil! Mas EU DESEJO, EU QUERO, EU VOU!”
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