14 de maio de 2016

No mês de Maria, um testemunho por dia: nº 14


Esta é a Virgen Ama de Casa ou Nossa Senhora Dona de Casa, uma devoção que surgiu na Arquidiocese de Assunção, no Paraguai. Algumas fiéis que recomendavam seus trabalhos domésticos à Nossa Senhora tiveram essa inspiração e o Arcebispo Dom Edmundo Valenzuela aprovou a devoção e a imagem. Segundo o site ACI Digital "esta Virgem carrega o Menino Jesus em um braço e no outro uma bolsa que contém diversos frutos paraguaios. Aos seus pés, tem um cântaro e está vestida com uma túnica, enfeitada com 'ñandutí', renda paraguaia feita à mão, a qual simboliza as donas de casa" (Mais neste link: http://www.acidigital.com/noticias/nossa-senhora-das-donas-de-casa-ela-existe-e-trabalha-para-voce-49353/ ).
Eu sempre fui criada pelos meus pais para estudar e trabalhar. Desde cedo minha mãe (que é artesã de profissão, mas sempre dona de casa em primeiro turno) me ensinava o trabalho doméstico: cozinhar, lavar, passar, limpar, até costurar um pouco. Porém nunca me cobrava que eu o fizesse! A prioridade eram sempre os estudos, as leituras, os trabalhos, as pesquisas... no máximo me exigia um quarto limpo e organizado. Meu pai, do seu lado, sempre trabalhou muito para poder sempre termos uma ajudante em casa e assim, nos dedicarmos ao que ele chamava "o nosso trabalho": estudar e ir muito bem na escola. 
Assim fui crescendo e sempre me dedicando muito aos estudos, com vistas a ter boa qualificação profissional no futuro. Sem falsa modéstia, sempre fui aluna nota 10, mas sempre fui muuuuiito dedicada: minhas tardes eram sempre estudando e meu único hobby era a dança (com a qual gastava diariamente 2hs de segunda à sexta). Passei no vestibular para a UnB de primeira e já antes disso, ao 17 anos, comecei a trabalhar dando aulas de Balé em escolas. Desde sempre estudei e trabalhei simultaneamente e houve épocas que eram 2 (e até 3!) empregos, aulas, cursos, estágios, faculdade.
Comecei a namorar com meu hoje esposo Juliano e ele tinha o mesmo pensamento: que eu devia estar sempre estudando, me qualificando e buscando sempre uma melhor posição no mercado de trabalho. Quando me formei, já casados, me incentivou e apoiou a fazer uma especialização na minha área, montamos uma pequena escola de Balé nas salas da catequese de nossa Paróquia (com permissão do pároco, obviamente) e estava continuamente me inscrevendo em concursos públicos. Os dois melhores em que passei dentro da minha área (sou licenciada em Educação Física, especialista em Esporte Educacional), para a Secretaria de Educação do DF e para o Hospital Sarah Kubistschek, foram por insistência e suporte dele. 
Enfim, eu seguia nessa linha que me parecia óbvia e única para mim, dada a minha criação, ao senso comum que me cercava, a evolução que ia se desencadeando em minha vida. Mas eis que a vontade de Deus nem sempre é óbvia! Lembro-me que numa ocasião, antes de ter filhos, em oração no estacionamento do trabalho do Juliano, enquanto esperava sua saída, eu orava. Nesta oração, o Senhor me convidava a uma vida "escondida de tudo e de todos", apenas na companhia Dele, de Maria Santíssima e de José, a vida que Ele mesmo tinha levado em 30 anos de sua peregrinação nesta terra. Apesar de não ter entendido a dimensão daquele convite, aceitei de coração sincero. Apenas perguntava "como isso se dará?" e a resposta vinha em meu coração "Eu te conduzirei no momento certo". Naquele momento senti forte a presença de Jesus e de Maria naquele Chevette 77! Fiquei em paz e fui seguindo a vida. 
Mas eis que esse momento chegou quando eu menos esperava. Tinha tomado posse na Secretaria de Educação do DF como professora de Educação Física e trabalhava numa escola em Mestre D'armas em Planaltina. As condições não eram as melhores, mas eu já sabia disso, pois já havia trabalhado de contrato temporário na Secretaria e sabia como era a realidade da escola pública. Apesar disso, trabalhava da melhor maneira que podia e estava satisfeita, aguardando uma possibilidade de vir a ser transferida para Sobradinho e ficar mais perto de casa. Já tinha ficado grávida a 1º vez do Antônio, que perdi por um aborto espontâneo no 3º para o 4º mês de gestação. Em seguida veio a Clara, que tinha sido gerada com todo amor e teve uma gravidez sem problema nenhum, nascendo bela e fofa para a nossa consolação. Enquanto eu trabalhava, a Clarinha ficava aos cuidados da vovó Socorro, minha mãe.
Estava tudo mais ou menos esquematizado e as coisas corriam bem, conforme nossos planos humanos. E foi justamente nesse momento que o chamado do Senhor por aquela vida escondida se repetia no meu coração. Ainda não tinha a noção do que podia ser isto, mas aos poucos tudo foi se delineando com clareza: era um chamado para estar em casa, cuidando do meu lar, da minha filha, do meu esposo. Eu resistia àquilo e achava que era algo humano, talvez saudades da Clarinha (que eu tinha muito quando estava no trabalho), mas com certeza muito medo de me entregar à Providência Divina no quesito dinheiro, pois teria que abrir mão do meu salário que era muito bom. 
Fiquei vários meses em oração por aquilo e nem tinha coragem de conversar com meu esposo Juliano, pois imaginava que ele seria terminantemente contra, especialmente por causa da grana. Enfim, aconteceu que fiquei grávida novamente, desta vez da Catarina, minha doce Catarina. A gravidez corria bem até o 3º mês, quando comecei a ter sangramentos initerruptos. Consegui uma licensa no trabalho para ficar de repouso completo mas, infelizmente, do 4º pro 5º mês, perdemos nossa bebê por conta de uma toxoplasmose. Foi um baque muito forte para nós, entrei em depressão. 
Tenho ainda outro testemunho da presença de Maria neste momento que vou deixar para um próximo post, mas adianto que ela esteve comigo o tempo todo, o tempo todo, o tempo todo... Minha família e amigos próximos me apoiaram 100%, mas mesmo assim foi muito duro. Nesse momento eu e o Juliano nos aproximamos como nunca e eu tive coragem de partilhar coisas com ele e dialogar como nunca tinha tido. Foi numa dessas conversas que expus esse chamado que sentia há algum tempo à essa vida do lar, cuidando dele, da Clara, da casa. Para a minha surpresa, em nenhum momento ele se opôs! Apenas me questionou: "mas isso não tem muito a sua cara, você sempre foi de estudar e trabalhar!". Eu concordei, mas disse que, mesmo me sentindo insegura (especialmente com relação ao dinheiro), realmente sentia isto como um chamado divino, algo que Jesus me encaminhava e que Maria abençoava. Sentia especialmente a bênção de Nossa Senhora, realmente como um magnetismo para essa experiência que não tenho como explicar... Ele disse então que "OK!", que ele estava de acordo e que só queria uma coisa para a vida dele e para minha: a Vontade de Deus e a bênção da Virgem Maria! 
Ainda demorei alguns meses para tomar coragem. Queria apenas ter certeza de que era uma condução espiritual e não um efeito da depressão ou outra coisa qualquer. Por fim, respirei fundo, comuniquei na escola e pedi minha exoneração. Muitas e muitas pessoas me questionaram, me chamavam de louca, repreendiam Juliano. Poucas pessoas nos entenderam e acolheram. Nem mesmo pessoas de caminhada na Igreja, que pregavam sobre confiança e entrega a Deus, foram favoráveis a esta decisão e colocavam em cheque nosso discernimento e sabedoria, mas meu coração estava em paz. Estava pacificada como nunca estive antes em toda a minha vida! Aquela antiga música se tornou meu lema e finalmente fazia todo sentido para mim: "Essa paz que eu sinto em minha'alma... Não é por que tudo me vai bem... Essa paz que eu sinto em minha'alma... É por que eu sigo ao meu Senhor!... Não olho as circunstâncias: olho o seu amor!... Não me guio por vistas: alegre estou!... E ainda que a terra não floresça ou que a vide não dê os seus frutos... Ainda que os montes se lancem ao mar, ou que a terra trema, EU HEI DE CONFIAR!"... 
Entendi que foi exatamente isso que Maria fez: aceitou os planos de Outro, disse "sim", se entregou, se abandonou. E ora, ora, quem diria... eu também estava vivendo a experiência de Maria! Tendo meu esposo como protetor e guardião, justamente como São José! 
Não quero com isso afirmar que é somente esta a via que agrada a Deus e à Mãe Celeste. Entendo que TODA MULHER é mãe, esposa e dona de casa, mesmo as que trabalham fora (e encaram jornada dupla e tripla de trabalho em suas profissões e quando chegam em casa!), mesmo as que tem funcionárias e babás, pois nestes postos, ainda que em gerência, são insubstituíveis. Entendo que a muitas mulheres Jesus chama para missões estritamente espirituais mesmo quando as constituem médicas, professoras, pesquisadoras, políticas ou qualquer que seja a ocupação profissional, pois é como sal da terra e luz do mundo que as envia aos seus trabalhos! 
Apenas partilho que, para mim, o Senhor destinou a vida escondida nos moldes da Sagrada Família de Nazaré, com primazia absoluta da vocação ao Matrimônio e à Maternidade, não me excluindo outras missões, mas destacando essas vocações citadas para meu serviço, sacrifício, dedicação, com amor, com esmero, sem salário, sem promoções, sem férias nem tapinhas nas costas. 
Já vivo nesta moção há mais de 10 anos e testemunho: nunca nada nos faltou de material! Esse era meu grande medo e a fonte das recriminações das pessoas sobre nossa decisão. Depois da Clara tivemos mais 3 filhos, são 4 no total e Jesus, nosso Pastor, nunca deixou nada faltar das coisas que realmente importam. Não temos luxos, mas vivemos com relativo conforto, nossa vida é marcada pela Providência nos pequenos acontecimentos e nas grandes necessidades. O Senhor é fiel, quando chama, Ele sabe o "porquê" e o "como", e também o "até quando". Foi assim com Nossa Senhora e São José, e creio que será assim com Manuela e Juliano e com tantos outros que dizem "sim" aos planos pouco ortodoxos aos olhos do mundo da parte do Senhor. 
Assim me tornei dona de casa, como Maria! Confesso que tento, tento muito mesmo, mas sou ainda aprendiz nessa arte! Lembrem-se que não foi essa a minha formação! rsrsrs... Fui adquirindo experiência aos poucos, sempre ouvindo os conselhos da minha mãe (a maior expert da área que conheço!), aprendendo com os erros, pesquisando ideias em livros, na internet, contando com a ajuda eventual de ajudantes diaristas... e constantemente correndo atrás. As crianças, no dia a dia, tem a preferência suprema das atenções: deveres de casa, estudos, leituras, consultas, atividades e todas as outras mil coisas que se desencadeiam dessas. Aqui em casa os principais ensinamentos são, de fato, a vivência religiosa, a educação antes das outras atividades e o trabalho em equipe para tudo para todos, sem exceção, da mais velha ao pequeninho de 3 anos. 
E não posso me esquecer do maridão, pobrezinho, sempre na luta comigo no tal do "trabalho em equipe", na colaboração constante com as crianças e firme em seus estudos e trabalho, realizando tudo com a maior seriedade e profissionalismo possível, se desdobrando em mil para atender todas as demandas tanto quanto eu dentro de casa. Da mesma forma que ele me ajuda estendendo uma roupa, eu o ajudo preparando com ele seus planos de aula ou sua agenda de compromissos: somos um time! E temos aprendido a cada vez mais a termos nosso espaço e tempo para sermos um casal com amizade, intimidade, romantismo, espiritualidade (com e sem as crianças, na medida da Providência Divina!).
Quando vejo a vida que temos, tenho absoluta certeza da graça especialíssima da intercessão de Maria Santíssima por nós por nosso atendimento ao chamado de Deus para nossa família! Quando constato as Providências e Misericórdias em nossa vida financeira, não tenho dúvidas de fidelidade de Jesus que chama e sustenta, e transforma água em vinho bom por pedido de sua Mãe... Quando percebo as pequenas vitórias no "escondido da vida doméstica", certifico-me da presença de Nossa Senhora a me ensinar como Mãe e Mestra. 
Minha Mãe Celeste, minha única platéia, sempre me encorajando e motivando, orientado e incentivando! Nossa Senhora Dona de Casa, nunca imaginei que seria sua parceira de ocupação, mas o Espírito foi me conduzindo para essa nobre e desvalorizada missão para a qual nunca me preparei e na qual já estou há mais de uma década! Eu louvo a Deus: minha alma também glorifica ao Senhor e meu espírito também exulta de alegria pela vida que eu levo! Reconheço que jamais pensei que poderia ser feliz e realizada vivendo assim, mas eu sou! Nossa Senhora Dona de Casa, intercede por mim, para que sempre e cada vez mais eu possa me dedicar a esse ofício com saúde, força, disposição, organização, criatividade, sabedoria, serenidade, servindo minha família como também a Senhora serviu à sua! Dá-me sua bênção, companheira de missão! E obrigada por sua ajuda todos esses anos! Amém! 

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