Tivemos a oportunidade de morar em Portugal por quase um ano, em 2008 e 2009, por ocasião de um mestrado que Juliano, meu esposo, conseguiu ser selecionado para cursar em Lisboa. Tudo isso se deu de uma forma um pouco conturbada, pois foi justamente num momento em que íamos começar a mexer com a construção de nossa casa em Sobradinho-DF, um sonho meu desde a infância.
Então entramos em um impasse! Por um lado estava acordado entre nós que finalmente, depois de 7 anos de casados, iríamos dar início a este sonho de ter a casa dos sonhos para criar nossos filhos. Casa simples, modesta, mas com espaço e conforto para que eles pudessem crescer, receber os amiguinhos, na qual pudéssemos ter nossos momentos de oração e confraternização com familiares e amigos, enfim... Desde a infância, por não ter podido nunca ter tido isso com meus pais, sonhava em ter então com meu marido e filhos. Por outro lado essa oportunidade da viagem era tudo o que Juliano sempre sonhou: um mestrado, com suporte financeiro de uma licença capacitação no trabalho, morando fora do país. Resultado: como normalmente acontece, a mulher sacrifica seus anseios em prol da família, do esposo e dos filhos. Foi o que eu fiz, mas não sem um bom bocado de mágoa e uma condição: não venderíamos nosso lote aqui no Brasil. Ele aceitou e então fomos.
A reação da família e amigos foi variada. Alguns achavam loucura, recriminavam; outros davam apoio e prometiam que ia ser uma experiência maravilhosa para todos nós. Minha mãe Socorro se melindrou e magoou conosco, ficando sem falar direito com a gente por todo o período, o que dificultou ainda mais para mim, devido a nossa proximidade. Mas não me faltou colo de mãe, pois Maria esteve sempre comigo, em todos os momentos, em cada dificuldade que tive que superar, desde antes da viagem em si, quanto durante e depois, no colhimento dos frutos. Toda a burocracia e papelada com vistos, passaporte, documentos de trabalho e os acadêmicos do Juliano, cada etapa desta foi muito marcada pela sobrenatural providência divina, abrindo portas e destruindo obstáculos, fato que me dizia que a Vontade de Deus estava à favor desta viagem. Assim, mesmo não querendo, fui aceitando por força de um discernimento espiritual de que Deus e Nossa Senhora estavam conduzindo todo o processo.
A despedida foi difícil, mas como em tudo em minha vida, fui colocando nas mãos de Maria e pedindo a consolação do meu coração. Admito que minha relação com Juliano ficou abalada, e entregava continuamente nosso matrimônio à Maria e José, a quem havia consagrado nosso relacionamento. Eu tinha aceitado a viagem por obediência à condução que entendia que o Espírito Santa estava dando à nossa vida e por amor ao meu esposo, mas meu coração estava ferido por achar que ele tinha "rompido" um combinado nosso com relação à construção da nossa casa.
Na viagem de ida, dentro do avião, na agonia em cuidar dos dois filhos que tínhamos na época inquietos com o aperto da poltrona e no fato de terem que ficar quietinhos e "presos", lembro-me de que Juliano me recordou um plano que tínhamos feito ainda nos tempos de noivado: o de que em nosso aniversário de 10 anos de casamento faríamos uma viagem comemorativa a Fátima! Disse ele: "Nossa Senhora adiantou nosso sonho em 3 anos, pois a primeira coisa que faremos em Portugal depois de nos acomodarmos no Hotel é ir à Fátima, já programei tudo!" Aquilo aliviou enormemente meu coração pois via o dedinho de Maria a me acariciar e reconfortar e os esforços de meu marido para compensar o sacrifício que ele percebia que eu estava fazendo.
De fato, tão logo chegamos, nos instalamos rapidamente no Hotel e com um carro alugado e um GPS fomos direto à Fátima. Era um dia quente de verão, o sol estava azulzíssimo, sem nenhuma nuvem e fazia calor. No mesmo instante minha má vontade se dissipou e fui começando a me abrir àquela experiência. Fátima é solo eucarístico. Pisar ali é um acontecimento extraordinário, de um jeito que palavras não conseguem descrever. Me lembrei na hora do pediatra das crianças, Dr. Avelino Ramos, que é português de nascimento, nos dizendo quando contamos para ele que iríamos nos mudar por um tempo: "Vocês tem que ir logo em Fátima, vocês vão amar Fátima!! Ali é especial!" Ele estava certo...
Durante todo o tempo que passamos lá fomos várias vezes a Fátima e todas elas foram incríveis momentos de reavivamento de nossa fé. Nos sentíamos em casa lá e pudemos constatar a fé do povo português em Jesus e Nossa Senhora. De fato há um ditado popular lusitano que afirma que Portugal pode ser resumido em 3 "fs": Fado, futebol e Fátima! Eu, por minha conta, incluiria mais um "F", de Fernando Pessoa, mas isso é cá comigo... Voltando ao assunto em questão, ir à Fátima era como voltar um pouquinho para a São Vicente, nossa comunidade em Sobradinho, nos sentíamos em casa. A casa da Canção Nova em Fátima também ajudou muito para essa sensação de estar em família. Pudemos participar um pouquinho de alguns encontros lá com a comunidade em algumas ocasiões.
Lá em Portugal, o grande dia de celebração em Fátima é dia 13 de Outubro, o dia do grande milagre do sol, presenciado não só pelos 3 pastorinhos mas também por cerca de 70 mil presentes e outras tantas pessoas que não estavam no local no momento. Neste dia é feriado em Portugal e tivemos a oportunidade de irmos à Fátima mais uma vez e experimentar uma grande comunhão com as inúmeras pessoas que ali estavam! Foi inesquecível, um verdadeiro Pentecostes onde o Espírito se derramava abundantemente e, embora a Sagrada Liturgia se desenvolvesse em várias línguas (português, espanhol, inglês, grego, italiano), todos nós os ouvíamos no mesmo idioma do amor. Idosos, famílias, crianças, todos comungavam do mesmo sentimento de unidade, com piedade e devoção a Nossa Senhora: uma coisa linda de se ver e de viver! Milhares de lencinhos brancos com a figura da Mãezinha de Fátima agitados ao vento, os olhares cheios de fé, as lágrimas de emoção também em nossos olhos... todos esses detalhes fizeram deste momento uma recordação para nunca mais esquecermos!
Assim, com a ajuda de Nossa Senhora de Fátima, fui aceitando mais a experiência de morar em Lisboa nestes meses. Fui me abrindo gradativamente, aproveitando, gostando e hoje tenho consciência de que realmente foi Vontade de Deus nossa ida para lá. Hoje afirmo sem medo de errar, que foi uma das melhores experiências da minha vida! Ainda que em alguns momentos eu tenha vivido em solidão, insegurança, sentimentos embaralhados no coração, não tenho dúvidas: uma das melhores experiências da minha vida, pois creio que quando estamos plantados na Vontade de Deus para nós e sob a proteção da Virgem Maria, somos felizes, genuinamente felizes, embora todas as vicissitudes que possamos passar! Eu creio nisso e atesto, não da boca pra fora, mas confirmo como quem viveu e vive assim!
Por isso desde essa vivência temos sido ainda mais devotos da Mãe de Deus e nossa Mãe, sob o título de Nossa Senhora de Fátima! As aparições aos três pastorinhos muitas vezes foram (e são) excelentes materiais para a catequese familiar com as crianças sobre santidade na infância, vida de oração, oração do Terço, amor à Mãezinha do Céu e muitos outros temas. Invocamos sempre sua intercessão e contamos sempre com seus cuidados. No dia de hoje, 13 de Maio, dia em que no Brasil celebramos o grande presente do Céu que foi o episódio de Fátima, proclamamos com Lucas 1, 48-49: nós somos dessa geração que proclama Maria de Bem-Aventurada, pois sabemos que foi Ele que fez nela todas essas maravilhas! Nossa Senhora de Fátima, nós te amamos, ROGAI POR NÓS! Roga por Portugal, e roga também pelo Brasil, roga pela paz no mundo inteiro! Amém!
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