6 de maio de 2011

A presença de Cristo na Igreja


A Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium é o documento do Concílio Vaticano II que trata a respeito da Sagrada Liturgia e que proporcionou à Igreja uma grande renovação neste âmbito. O n.7 deste documento é um texto fundamental desta constituição, que evidencia o conceito do que seja a natureza teológica da Liturgia[1] e no qual se encontra uma descrição da mesma:  A Liturgia é tida como exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros.[2]

Por meio da Sagrada Liturgia, Cristo realiza seu papel de Único e Verdadeiro Sacerdote do Pai[3], ao mesmo tempo em que seu Corpo Místico (o Cristo mesmo, como Cabeça, mas também seus membros, a comunidade de fiéis) executa seu culto público integral de comunhão com Deus, figurando simultaneamente um serviço de Deus e dos homens[4]. Mediante a ação litúrgica observa-se a atuação eficaz do Sacerdócio de Jesus e de seu povo sacerdotal, qual seja: todos os batizados, os ministros e os fiéis leigos, como partícipes do múnus de Cristo.[5]

Na Liturgia, a Igreja cultua a Deus na qualidade de seu povo, mas mais do que isso, na pessoa de Cristo, o cultua também na qualidade de família de Deus, posto que tudo é feito “por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.” Assim, sendo Cristo o primogênito entre uma multidão de irmãos[6], somos Nele todos filhos de Deus[7] e pelo envio do seu Espírito, a Igreja é feita seu Corpo[8] e oferece com Ele um culto filial ao Pai.

Através de sinais visíveis, esta Liturgia comunica e efetua mesmo a Obra de Salvação que o Verbo Encarnado veio realizar no meio dos homens, com o objetivo de santificá-los e assim glorificar a Deus Pai[9]. Acontece na ação litúrgica um duplo movimento: um dinamismo descendente, quando Jesus realiza sua ação salvadora direcionada aos fiéis, e um ascendente, quando estes reagem a isto, elevando suas mãos e suas vidas todas na vivência da Liturgia[10]. De fato, o Senhor está mesmo no meio de nós e nossos corações se lançam ao alto, conforme reza o prefácio na Oração Eucarística.

Não obstante Jesus estar presente de inúmeras maneiras em sua Igreja[11], Ele se encontra de maneira incomparável nas ações litúrgicas, consideradas neste ínterim ações sagradas por excelência, de eficácia inigualável a nenhuma outra ação na Igreja[12]. Assim, de maneira real embora misteriosa, Ele age pessoalmente, quando da celebração dos Sacramentos; fala genuinamente quando é proclamada as Sagradas Escrituras; comparece indiscutivelmente quando se ora e salmodia na Igreja[13]. Entretanto, está presente, de maneira ainda mais eminente, no Santo Sacrifício da Missa, memorial de sua Paixão e Ressurreição, atuando tanto na pessoa do ministro quanto, sobretudo e de um modo único, nas espécies eucarísticas[14].

Por essa presença efetiva de Jesus, os fiéis cristãos constatam a fidelidade das palavras de Jesus que prometeu e de fato cumpre, ao longo de todos os séculos de história da Igreja e em todos os cantos da Terra, que estaria conosco todos os dias, até o fim do mundo[15]. Que esta presença viva e ativa na Igreja não cesse de promover a santificação de todo o gênero humano, para a maior glória de Deus.

REFERÊNCIAS
ARENAS, Octavio Ruiz. Jesus, epifania do amor do Pai. 2ª.ed. São Paulo: Loyola, 2001.



Catecismo da Igreja Católica – Edição Típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 1999.

Compêndio do Vaticano II – Constituições, decretos e declarações. 29ª ed.  Petrópolis: Vozes, 2000.



[1] AUGÉ, 2008, p.62.
[2] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogm. Sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 7.
[4] Ibid., p.1070.
[5] LUTZ, em Teologia da Sacrossanctum Concilium.
[6] Cf. Rom 8, 29
[7] Cf. Gal 3, 26
[8] ARENAS, 2001, p. 48
[9] Cf. Jo 13, 31.
[10] LUTZ, em Teologia da Sacrossanctum Concilium.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, 48.
[12] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogm. Sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 7.
[13] Ibid, SC 7.
[14] Catecismo da Igreja Católica, 1999, p.1374.
[15] Cf. Mt 28, 20

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