O Cânon do Novo Testamento
Foi por meio da Tradição, com a assistência do Espírito Santo, que a Igreja pôde conhecer o cânon inteiro dos livros sagrados (c.f. DV 8). Só no Concílio de Trento (1545 – 1563) se estabeleceu a lista de 45 livros para o Antigo Testamento e 27 escritos para o Novo, como é conhecida a Bíblia hoje. De maneira geral, os livros bíblicos (dos dois Testamentos) podem ser classificados em 3 categorias: livros históricos, didáticos e proféticos. Os livros neotestamentários acompanham essa categorização, tendo, contudo a especificidade dos livros didáticos serem designados espistolares em sua constituição literária. Versam eles sobre os fatos que dizem respeito a Jesus Cristo, explicam sua doutrina, pregam a virtude salvadora de sua obra divina, são narrados os começos da Igreja e a sua admirável difusão, e é anunciada a sua consumação gloriosa (c.f. DV 20).
Os escritos epistolares, 21 no total, são cartas escritas por São Paulo e pelos outros apóstolos (ou discípulos destes) com o objetivo de dirigir, aconselhar e instruir as primeiras comunidades cristãs recém-formadas. O único livro profético é o Apocalipse, atribuído a João, que pode ser o Apóstolo do senhor ou um discípulo dele. Os livros históricos, que constituem 60% de todo o NT, são os 4 evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e o livro dos Atos dos Apóstolos. Destes todos, os Evangelhos, cuja historicidade é defendida sem hesitação pela Igreja, tem a primazia por seu caráter de testemunho principal da vida e doutrina de Jesus (c.f. DV 18 e 19). De suas narrativas, 3 momentos se destacam, como veremos a seguir.
Os três momentos através dos quais chegaram até nós o conjunto de ensinos e a vida de Jesus
É fato que os escritos do NT não chegaram à forma que dispomos hoje de maneira linear e cronológica, conforme um relato jornalístico moderno, como se os hagiógrafos estivessem a registrar os acontecimentos in loco, tão logo iam ocorrendo. Os textos passaram por um processo de redação com várias revisões, sendo adaptados aos destinatários aos quais eram dirigidos, sem que isso represente impacto algum na fidelidade aos acontecimentos ou mesmo ao sentido das palavras e expressões usadas por Jesus. Três momentos se sucederam:
°1º momento: composto pelo querigma (pregação oral feita pelos Apóstolos que evidenciava uma apresentação sintética e esquemática da vida e atividade de Jesus) e pela didaquê (instrução mais completa, com maiores detalhes da vida e dos ensinamentos de Jesus, dada aos que já estavam inseridos em alguma comunidade);
°2º momento: certa padronização dos relatos, inicialmente nos relacionados à Paixão (observável no paralelismo presente nos 4 Evangelhos) e em seguida em outros relatos mais curtos (milagres, parábolas, etc.), ainda que não se verifique uma ordem definida;
°3º momento: enfim, os registros evangélicos. Quando as testemunhas oculares começavam a desaparecer ou ficar distantes, tornou-se indispensável um maior cuidado com os relatos históricos disponíveis. Selecionando-os da própria memória ou do testemunho dos que vivenciaram as situações, os hagiógrafos organizaram-nos em ordem (ou mais ou menos cronológica, ou temática, por exemplo) e estes foram progredindo de estratos avulsos até as formas canônicas que conhecemos hoje.
REFERÊNCIAS
[2] LIMA, Maria de Lourdes Corrêa. Novas leituras na Dei Verbum: a centralidade da Escritura na Igreja. In AGOSTINI, Nilo. (org). Revelação e História: uma abordagem a partir da Gaudium et Spes e da Dei Verbum. São Paulo: Paulinas, 2007.
[3] KONTOVSKI, Jorge. A Unidade da Sagrada Escritura: O Antigo e o Novo Testamento. 2008. Catequese. Disponível em http://migre.me/BtZB. Acesso em 17/04/2010.
BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de La Bible de Jérusalem. São Paulo: Paulus, 2002.
COMPÊNDIO do Vaticano II – Constituições, decretos e declarações. 29ª ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
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