29 de maio de 2011

Palestra para catequistas – A Revelação Divina e sua transmissão (A doutrina apresentada pela Dei Verbum) Parte 3


Inspiração e Interpretação dos dados revelados
            Mesmo sabendo que a Revelação não se restringe à Bíblia, não há como negar que esta é um meio privilegiado de conexão com Deus e seus mistérios, e que possui uma autoridade especial na transmissão dos conceitos de fé e normas de conduta para as práticas cristãs. Mais do que isso, nas Sagradas Escrituras se pode constatar a “condescendência” de Deus pelo gênero humano. Da mesma forma que Ele foi capaz de tomar a carne da fraqueza humana para se aproximar do homem na Encarnação de Seu Verbo, se dignou a falar conosco do nosso jeito, em línguas humanas, através dos textos bíblicos (c.f. DV 13).
Tendo seu autor principal no próprio Deus, seus co-autores, os hagiógrafos, foram homens por Ele mesmo escolhidos e inspirados, por meio de Seu Espírito Divino. Embora não se trate de um ditado (ou seja, Deus se serviu desses homens na posse das suas faculdades e capacidades), somente foi posto por escrito tudo e só aquilo que foi desejado por Ele (c.f. DV 11).
É assim que se faz estritamente necessário que, quando da interpretação dos textos sagrados, seja observado o que o autor sagrado quis comunicar com aquelas palavras, de que gênero literário se utilizou, com que espírito escreveu aquele texto, para que seja possível discernir o exato conteúdo da verdade revelada e, posteriormente, relacioná-lo com a interpretação teológica (papel exercido de maneira especial pelo exegetas, os estudiosos da Bíblia, e pelo Magistério da Igreja, c.f. DV 12). 

Conteúdo, Relação e Unidade entre o Antigo e o Novo Testamento
            São Paulo afirma que tudo quanto está escrito, para nossa instrução está escrito, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança” (c.f. Rm 15,4). No mesmo sentido, o Catecismo da Igreja Católica (§102) recorda que “através de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no qual se expressa por inteiro”. Corroborando com essas premissas, Santo Agostinho ensinava que o Novo Testamento já estava latente no Antigo e que este está patente no Novo, de modo que ambos formam uma unidade vivamente relacionada (c.f. DV 16).  O que se achava ‘velado’ no Antigo, constituindo promessa de Deus para o homem, encontra-se plenamente “revelado” no Novo, e neste se concretiza o cumprimento dessas antigas promessas.
Assim, o Primeiro Testamento já manifesta o conhecimento de Deus e do homem (mesmo quando apresentam coisas imperfeitas e transitórias), deixando transparecer a pedagogia divina em sua relação com o povo eleito. Ele merece ser considerado por seu valor (perene, pois a palavra de Deus permanece para sempre, c.f. Is 40, 8) e significado (com conteúdo sempre válido, na medida em que expressa, através de suas palavras, da cultura da época, dos modos de expressão então em voga (cf. DV 12), o mesmo mistério de Deus e o plano de Deus para a humanidade, posteriormente levado à plena clareza e realização em Cristo) [3].
E o Segundo Testamento nos apresenta o mesmo e único Deus Vivo do Primeiro, agora encarnado na pessoa de Jesus. Ele é a ‘epifania’ deste Deus em suas palavras e obras, e esse mistério se revelou a nós pela pregação dos Apóstolos e profetas por meio da ação do Espírito Santo, que teve como evento culminante a congregação da Igreja, a redação do Novo Testamento e a consignação do cânon bíblico.

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