19 de março de 2013

No dia de São José, meditemos na exortação Redemptoris Custos de São João Paulo II




Dia 19 de Março, dia de São José de Nazaré, esposo de Maria, pai de Jesus.
Em 1989, nosso querido São João Paulo II nos deixou uma Exortação Apostólica, a Redemptoris Custos, em celebração ao centenário da Carta Encíclica Quamquam Pluries, de Leão XIII, sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja.
Achei oportuno meditar um pouco sobre essa figura singular no dia de hoje, com base na referida Exortação e nas minhas experiências pessoais, tanto por conta da sua grande dignidade na história da salvação e da Igreja quanto por causa da grande admiração que devoto a ele, a quem Deus, nosso Pai, confiou os “inícios da nossa Redenção” juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria (RC 31)*.
No século XIX, Pio IX declarou José Patrono Universal da Igreja e Leão XIII justifica tal título pelo o fato de ele ser esposo de Maria e pai putativo de Jesus e, se costumava socorrer a família de Nazaré, também com certeza sempre cobrirá e defenderá a Igreja de Cristo.
Muitos pontos me tocam muito nesta Exortação Apostólica de João Paulo II e destes destaco alguns. O primeiro deles é o quesito da e a consequente obediência de José. Impressiona-me a Fé que opera pela caridade (Gal 5,6) na história deste homem. No que foi anunciado por parte de Deus pelo anjo Gabriel, José, tanto quanto Maria acreditou e obedeceu, só que de maneira diferente: Maria o fez falando (“Faça-se em mim segundo a tua palavra”, cf Lc 1, 38), e Deus realizou. Mas José o fez “fazendo” (“Despertando do sono, José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa”, cf Mt 1, 24)! O Papa João Paulo II explica que ele teve “uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro.” (RC 3) A Bíblia nos diz que Maria, de fato, costumava “guardar todas as coisas meditando-as em seu coração” (cf Lc 2, 51), mas em alguns momento, podemos “ouvir sua voz”. Foi assim na Anunciação do Anjo, na perda do menino Jesus por ocasião da peregrinação da Páscoa aos 12 anos, nas Bodas de Caná... José, entretanto, “não proferiu palavra alguma”, os Evangelhos “não registram palavra alguma que ele tenha dito” (RC 17). Em outras palavras, “o que Maria fez por ações e palavras, como resposta a Deus na Anunciação e ao longo de sua peregrinação de fé, José simplesmente fez, numa expressão puríssima de obediência da fé (RC 4). Existe um ditado que afirma: “Quem muito fala, pouco faz”. Como precisamos aprender de José a responder a Deus fazendo, realizando, operando de acordo com sua Vontade, guiados pelo Espírito! Falemos COM o Senhor, falemos DO Senhor, sim, mas façamos também conforme nos pede esse mesmo Senhor, assim como São José!

Outro ponto com o qual me identifico muito, sendo mulher como sou, é a história de amor de José e Maria. O Papa, no tópico III (O Justo, o Esposo) faz toda uma análise da questão conjugal desta união tão peculiar e, entre outras coisas, explica que “nas palavras da ‘anunciação’ noturna, José escuta não apenas a verdade divina acerca da inefável vocação da sua esposa, mas ouve novamente também a verdade acerca da própria vocação” (RC 19). O Pontífice compara o casal com o qual se inicia o relato bíblico (Adão e Eva) no Antigo Testamento a este nosso casal em questão, com o qual se inicia o Novo Testamento, afirmando que o primeiro “tinha sido a fonte do mal que inundou o mundo, enquanto o casal formado por José e Maria constitui o vértice, do qual se expande por toda a terra a santidade (RC7). Além de tudo, afirma que “o fato de ela ser ‘desposada’ com José está incluído no desígnio de Deus (RC 18) desde o Antigo Testamento, “de acordo com ordens divinas bem precisas, transmitidas mediante o ministério dos anjos. Numa hermenêutica romântica, se é que isso é possível ou aceitável, atrevo-me a sonhar que o Senhor preparou essa história de amor, detalhe por detalhe, segundo a sua presciência e Divina Providência, já que “na vida de Jesus nada foi deixado ao acaso; mas nela tudo se desenrolou em conformidade com um plano divinamente preestabelecido” (RC 8).
Isso tudo aquece os corações mais sensíveis, tendenciosos de acreditar que existe por aí um “José” para cada “Maria” e vice-versa, que o Senhor tem um plano de amor “preestabelecido” em nossas vidas também, e que é só questão de tempo para que um anjo venha “anunciar” tudo com uma música romântica ao fundo e coraçõezinhos trazidos por pombas sobre as cabeças dos envolvidos! Ora, penso que antes de mais nada, há que se refletir, como fez o Papa, na vocação de um e de outro. Creio que nossa história particular nessa questão de relacionamento jamais pode se desvincular desse entendimento. Partilho um detalhe do meu testemunho de discernimento de namoro com meu marido Juliano. Éramos grandes amigos de grupo jovem e, tendo ambos tido um encontro pessoal com Jesus, a questão vocacional surgiu na vida de cada um. Eu pensava numa vida consagrada, ser “esposa de Cristo”, consumir minha vida na Igreja. Ele se sentia atraído pela missão sacerdotal, celebrar o milagre da consagração, anunciar aos povos as Verdades Evangélicas. Enquanto buscávamos em oração qual seria a Vontade de Deus para nossa vida, algo começou a nos distrair: os sentimentos que começávamos a sentir um pelo outro! Que dilema! Cada um sofria do seu lado: “E se Deus me quiser para a sua obra? Vou precisar abrir mão desse amor que estou sentindo? Qual é o plano de Deus para a minha vida? Fala, Senhor! Vou para o retiro vocacional do Seminário ou peço em namoro? Vou para o noviciado na Congregação das Irmãs ou digo que aceito namorar? Caso ou compro uma bicicleta? O que queres de mim, Senhor?!” Bom, no nosso caso, uma grande amiga, experiente e madura na fé, pessoa de oração, nos aconselhou de uma maneira que nunca me esqueci. Disse ela: “Você pode fazer a sua opção. O Senhor aceitará e abençoará seus desejos também, por que Ele te ama. Não tenha medo, se de fato não for o que Ele escolheu para você, você sentirá conforme for se relacionando tanto com o rapaz quanto com Ele próprio.” Deu no que deu: nossa vocação ao matrimônio determinou nossa história de amor. Com base nisso, eu sempre tenho um conselho pronto para “tirar da manga” a quem me procura pedindo para orar por sua vida afetiva (coisa rara... #sqn): antes de pedir um “José” ou uma “Maria” em sua vida, você deve orar para discernir sua vocação! Se o que Ele sonhou para você é a vocação do matrimônio, se a sua missão enquanto batizado for, em primeiro plano, no seio de uma família, Ele com certeza não o (a) deixará sem seu respectivo “José” ou “Maria”! Ore, peça o discernimento e peça a Ele que conduza sua vocação a termo!
Mais um ponto que me chama a atenção é a Natividade do Senhor, do qual São José em sua extrema simplicidade foi, juntamente com Maria, o primeiro depositário da fé. A partir da Encarnação do Filho de Deus, junto com sua esposa, ele fez a peregrinação da fé, embora não tenha avançado até o Calvário, como ela. (RC 5) Maria é a humilde serva do Senhor, preparada desde toda a eternidade para a missão de ser Mãe de Deus; e José, como ensina o teólogo Orígenes, é aquele que Deus escolheu para ser o “coordenador do nascimento do Senhor” (RC 8). José foi testemunha ocular deste nascimento que, conforme assinala o Beato João Paulo II, autor da Exortação, “se verificou em condições humanamente humilhantes, e foi um primeiro anúncio daquele ‘despojamento’, no qual Cristo consentiu livremente, para a remissão dos pecados (RC 10).
Sempre me vem à cabeça a figura de José, pobre como seus familiares e vizinhos da Aldeia de Nazaré, tendo aceitado assumir um filho que não era fruto de seu sêmen (RC 7), apoiado na fé e obediência a Deus (e gosto de supor que no seu amor por Maria também). Sempre me vem à cabeça as condições em que São José conseguiu arrumar, em sua total falta de recursos, para que a esposa tivesse o nenê. Seu coração de homem, de chefe de família protetor, deve ter doído por aquelas circunstâncias. Mas fez o melhor que pôde, e assistiu de camarote o anúncio dos anjos e a adoração dos pastores e magos (RC 10), grandes mistérios que a singeleza da situação não o impediu de vivenciar. Por meditar nisso, já há alguns anos nosso Natal aqui em casa nunca mais comportou ostentações e desperdícios, nem muito menos o corre-corre e consumismo que querem impor goela abaixo das famílias. A figura de José, na simplicidade da Sagrada Família naquela gruta, não nos permite celebrar de outra forma a não ser nesse mesmo espírito de pobreza e intimidade. Além disso, eu e meu marido, que temos (até agora) cinco filhos, sempre louvamos muito e agradecemos a Deus a oportunidade que Ele, em sua imensa bondade, nos concedeu de trazê-los ao mundo em tão belas e confortáveis condições, todos eles em excelentes Hospitais, cercados de assistência e cuidados, com enxovais e bercinhos tão mais ricos do que as faixas e manjedoura que o Salvador teve! A simplicidade e a ação de graças, para nós, se tornaram absolutamente indispensáveis diante dessa contemplação da Encarnação do Verbo, sob os cuidados de São José!
Um outro ponto que quero evidenciar é a questão do trabalho e da vida interior de São José, comentados na Redemptoris Custos. João Paulo II, no parágrafo 22 afirma que “a expressão quotidiana deste amor na vida da Família de Nazaré é o trabalho. José aproximou o trabalho humano do mistério da Redenção.” Assim, dá-se uma “santificação da vida quotidiana, no que cada pessoa deve empenhar-se, segundo o próprio estado, e que pode ser proposta apontando para um modelo acessível a todos: São José. Prova-se, desse modo, “que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessitam ‘grandes coisas’, mas requerem-se somente virtudes comuns, humanas, simples e autênticas’. Para sermos bons e autênticos seguidores de Cristo, mais importante é mesmo a vida interior manifestada em nossa rotina de tarefas diárias! Segundo o Pontífice, “tudo em José tem um clima de silêncio (embora esse silêncio se torne eloquente por sua justiça), o que conduz ao traço de um exemplo luminoso de vida interior, que faz mais do que fala (RC 17), como analisamos no início. O sacrifício total de sua vida, colocando-se à margem de acordo com exigências de um servo da vinda do Messias é um testemunho de que a vida simplesmente cumprida com compromisso e consciência se torna diante de Deus grande missão de santificação para toda uma existência. E assim, mais uma vez eu me identifico com São José na execução de uma missão de serviço “nos bastidores”. Quando eu me firmei no trabalho pastoral na Renovação Carismática Católica, como é de praxe, muitas pessoas oravam por mim para discernir os carismas que Deus tinha me confiado, os dons e ministérios para o serviço na assembleia do Senhor, além de ouvir de Deus moções e diretrizes para a minha vida de uma maneira geral. Eu, por inúmeras vezes ouvi a frase: “O Senhor tem uma GRANDE OBRA para a sua vida”! Imaginava o que significava isso: o Senhor me quer coordenadora? Consagrada? Missionária? Uma pregadora de nível internacional? O Senhor me quer uma “Madre Tereza de Calcutá”? Um belo dia em que eu estava num estacionamento do Setor de Autarquias Sul em Brasília, em oração dentro do meu chevrola 79 aguardando o meu então esposo Juliano sair do trabalho, eu perguntava a Deus: “Que grande obra é essa que as pessoas dizem e que eu mesma sinto que o Senhor tem para a minha vida?” Então, de dentro do meu coração, eu quase pude ouvir uma voz que me respondia: “Minha GRANDE OBRA para você é a vida oculta da Sagrada Família de Nazaré. Você aceita?” E eu que pensava que “grandes obras” só podiam ser grandes exteriormente fui gradualmente percebendo que no interior da gente existe o infinito, que no escondido existem as maiores missões, que nos bastidores também se vive os Mistérios divinos. Assim o Senhor tem me encaminhando para um dia-a-dia de trabalho árduo e intensa vida interior, dentro da minha casa, cuidando da minha família, tendo como parâmetro a Virgem Maria e São José, que “estavam quotidianamente em contato com o mistério ‘escondido desde todos os séculos’, que ‘estabeleceu a sua morada’ sob o teto da sua casa (RC 25).
Por fim, o último ponto que queria destacar da figura de José é a confiança que sempre tive em sua intercessão. São João Paulo II finaliza a exortação “recomendando-nos à proteção daquele a quem o próprio Deus ‘confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos e maiores’. Assim eu, desde muito pequena, aprendi a confiar-lhe meus tesouros particulares: minha família, meu pais (Socorro e Luiz e seu matrimônio), meus irmãos Marcos e Márcio, depois o meu namoro-noivado-casamento-família com o Juliano. Em nossa cerimônia de casamento, as consagrações a Maria e José tiveram seus momentos especiais. Mas um dos momentos mais marcantes que vivi com essa devoção a São José foi quando eu e o Juliano queríamos engravidar. O testemunho nessa área é extenso, então vou resumir. Nosso primeiro filho, nós perdemos ainda na gestação, e a partir de então, todos os médicos que consultávamos nos dava o diagnóstico de ovários policísticos e, no meu caso, estava afetando diretamente a minha fertilidade. Em meio a muitas orações e tentativas, pela graça de Deus veio nossa primeira filha Clara, numa gestação e parto sem problemas nenhum. Nossos médicos diziam que Deus tinha tido misericórdia de nós e tinha mandado pelo menos uma filha, mas que não fizéssemos expectativas de termos outros, já que o problema se agravava, inclusive com outros sintomas. Eu cheguei a engravidar de novo, e perder uma outra filha em gestação. Numa ocasião, estávamos num Seminário de vida no Espírito Santo e era justamente dia de São José. Durante a Missa de encerramento, o Pe Lindomar proclamou durante uma oração: “Entre nós existe uma mulher que quer engravidar, mas tem tido problemas. Minha irmã, peça a São José que interceda por esse seu sonho!” Eu não quis nem saber se era para mim ou para outra pessoa: tomei posse da graça, como se costuma dizer! Clamei ao Senhor e supliquei pela intercessão do meu querido São José, e ainda fiz uma promessa: “Se eu consegui engravidar de novo nessa vida e a criança for um menino, se chamará José”. Isso aconteceu em Março, e no mês de Maio eu já estava grávida, era um menino, seu nome é José e ele hoje tem 10 anos e é um menino super especial, piedoso à sua maneira, que recentemente confidenciou que almeja ser um “padre-mergulhador” quando crescer (coisas do Zé...). E como São José é comprovadamente um homem que não gosta de deixar compromisso assumido pela metade (Maria pode atestar!), depois do nosso José engravidamos mais três vezes (do João, do Tiago e recentemente do Paulo), como eu mencionei acima: temos, até agora, cinco filhos!
Por tudo isso, espelhemo-nos em José, aquele que "acreditou fazendo" e, em seu trabalho silencioso e postura simples, estabeleceu uma íntima relação com Nosso Senhor e Nossa Senhora! Entreguemos a ele nossas necessidades e clamemos por sua intercessão: Valei-nos, São José!

*A sigla RC se refere a Redemptoris Custos, e o número que segue se refere ao parágrafo da mesma.

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