8 de fevereiro de 2013

Redescobrir e Fortalecer nossa amizade com Cristo


Discurso do Papa ao Pontifício Conselho da Cultura 


Audiência com os participantes da plenária do Pontifício Conselho da Cultura - 
"As culturas juvenis emergentes"
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Queridos amigos,

Tenho o prazer de encontrar-vos na abertura da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho da Cultura, durante a qual vocês irão se concentrar na compreensão e aprofundamento, a partir de diferentes perspectivas, nas “culturas juvenis emergentes”. Eu cordialmente cumprimento o Presidente, Cardeal Gianfranco Ravasi, e agradeço a ele pelas gentis palavras a mim dirigidas em nome de todos vós. Eu cumprimento os Membros, os Consultores e todos os Colaboradores do Discatério, na esperança de que seu trabalho seja frutífero e dê uma útil contribuição para o trabalho da Igreja em relação à realidade juvenil; uma realidade complexa, como foi dito, e uma das que não pode ser entendida dentro do contexto de um universo culturalmente homogêneo, mas em um horizonte que pode ser definido como “multiverso”, que é determinado por uma pluralidade de visões, perspectivas e estratégias. Portanto, é apropriado falar de “culturas jovens”, uma vez que os elementos que distinguem e diferenciam os fenômenos e as áreas culturais prevalecem sobre aqueles que, em vez disso, eles têm em comum. Vários fatores de fato estão contribuindo para traçar uma paisagem cultural cada vez mais fragmentada, em constante e rápida evolução, para a qual não são estranhas as mídias sociais, as novas ferramentas de comunicação, que facilitam e, por vezes, são a própria causa de contínuas e rápidas mudanças na mentalidade, costumes, comportamento.

Existe, portanto, um clima de instabilidade que toca a esfera cultural, bem como a política  e econômica- esta último também marcada por dificuldades dos jovens em encontrar um emprego – afetando as pessoas principalmente em um nível psicológico e relacional. A incerteza e fragilidade que caracterizam tantos jovens frequentemente os empurra para as margens, tornando-os quase invisíveis e ausentes nos processos culturais e históricos das sociedades. E cada vez mais frequentemente fragilidade e marginalidade resultam no fenômenos da dependência das drogas, desvio e violência. As esferas sentimental e emocional, a esfera dos sentimentos, bem como a esfera corporal, são fortemente afetadas por este clima e tempestades culturais que se seguem expressas, por exemplo, em fenômenos aparentemente contraditórios, como o espetáculo da vida íntima e pessoal e relacionamentos íntimos e o foco individualista e narcisista sobre as necessidades e interesses pessoais. A dimensão religiosa, a experiência de fé e de membros na Igreja são muitas vezes vistas em uma perspectiva privada e emocional. 

Todavia, há fenômenos decididamente positivos. A generosidade e coragem de tantos jovens voluntários que dedicam seus melhores esforços para o outro necessitado, a sincera e profunda experiência de fé de tantos jovens garotos e garotas que alegremente dão testemunho da sua participação nos esforços da Igreja para construir, em muitas partes do mundo, sociedades capazes de respeitar a liberdade e a dignidade de todos, começando com os pequenos e mais indefesos. Tudo isso nos conforta e nos ajuda a desenhar uma imagem mais precisa e objetiva das culturas juvenis.  Nós não podemos, no entanto, nos contentar com uma visão dos fenômenos da cultura juvenil ditada por paradigmas estabelecidos, que tornaram-se clichês, analisá-los com métodos que não são mais úteis, com ultrapassadas e inadequadas categorias culturais. 

Nós estamos, afinal, diante de uma realidade extremamente complexa, mas fascinante, que precisa ser bem entendida e amada com um grande espírito de empatia, cuja linha de fundo e desenvolvimento nós devemos compreender cuidadosamente. Olhando, por exemplo, para os jovens em muitos países do chamado “Terceiro Mundo”, nós percebemos que eles representam, com suas culturas e necessidades, um desafio para a sociedade de consumo global, para a cultura de privilégios estabelecidos, que beneficia um pequeno grupo da população do mundo ocidental. As culturas juvenis, como um resultado, “emergem” no sentido de que exibem uma profunda necessidade, um pedido de socorro ou mesmo uma “provocação” que não pode ser ignorada ou negligenciada, seja pela sociedade civil ou pela comunidade eclesiástica. Eu tenho frequentemente expressado, por exemplo, minha preocupação e a de toda a Igreja com a chamada “emergência educativa”, que certamente é uma dentre outras “emergências” que afetam diferentes dimensões da pessoa e relações fundamentais e que não podem ser respondidas de forma evasiva e banal. Penso, por exemplo, nas dificuldades crescentes no campo de trabalho ou o esforço que é necessário para permanecer fiéis às responsabilidades que assumimos ao longo do tempo. Um empobrecimento, não somente econômico e social, mas também humano e espiritual poderia seguir, para o futuro do mundo e de toda a humanidade: se os jovens não mais têm esperança, se eles não mais progridem, se eles não mais se inserem em dinâmicas históricas com a sua energia, sua vitalidade, suas habilidades para antecipar o futuro, nós encontraríamos uma humanidade voltada para si mesma, sem confiança e uma perspectiva positiva para o futuro. 

Apesar de estarmos conscientes de muitas situações problemáticas, que também afetam a área da fé e os membros da Igreja, nós renovamos a nossa fé nos jovens, para reafirmar que a Igreja vê sua condição, sua cultura, como um essencial e inevitável ponto de referência para seu trabalho pastoral. Por esta razão, eu gostaria de retomar algumas significantes passagens da Mensagem que o Concílio Vaticano II dirigiu aos jovens, como base para reflexão e inspiração para as novas gerações. Primeiro foi dito: “A Igreja olha para vocês com confiança e amor ... Ela possui o que constitui a força e o encanto da juventude, isto é, a habilidade de alegrar-se com o que está para começar, para doar-se sem reservas, para renovar a si mesmo e partir para novas conquistas”. O Venerável Paulo VI dirigiu este apelo para os jovens do mundo “é em nome desse Deus e de Seu Filho, Jesus, que nós exortamos vocês a abrir seus corações para as dimensões do mundo, a escutar o apelo de seus irmãos, a colocar a sua energia juvenil a seu serviço. Lutem contra todo egoísmo. Recusem-se a dar livre curso aos instintos de violência e ódio que geram guerras e todo seu cortejo de misérias. Sejam generosos, puros, respeitosos e sinceros, e construam com entusiasmo um mundo melhor do que os seus antepassados tiveram”. 

Eu também quero reafirmá-lo com força: a Igreja tem confiança nos jovens, ela espera neles e em suas energias, ela precisa deles e da sua vitalidade, para continuar a viver a missão confiada por Cristo com renovado entusiasmo. Espero sinceramente, portanto, que o Ano da Fé seja, mesmo para as jovens gerações, uma preciosa oportunidade para redescobrir e fortalecer nossa amizade com Cristo, que  traz alegria e entusiasmo para transformar profundamente culturas e sociedade. 

Queridos amigos, obrigado pelos esforços que vocês generosamente colocam a serviço da Igreja, e pela sua especial atenção para com os jovens, sobre vós eu cordialmente concedo minha Benção Apostólica. 


Fonte: 
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=288632

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