14 de fevereiro de 2013

A Última Mensagem para a Quaresma do Papa Bento XVI (2013)




Nesta Quaresma de 2013, na qual teremos além do costumeiro espírito de contrição e sobriedade que lhe é peculiar, uma certa melancolia extra pela renúncia de Sua Santidade, vale a pena examinar com atenção, oração e amor sua última mensagem para esse tempo tão rico. Nela, Bento XVI quis evidenciar a indissolúvel relação entre a Fé e a Caridade. Neste ano da Fé o Pontífice retorna ao seu tema predileto, a Caridade, sobre o qual já se aprofundou em encíclicas e escritos diversos e nos presenteia com mais uma mensagem de sábia profundidade e humilde simplicidade.
O texto não é extenso e a linguagem, como de costume, é elegantemente didática. Com o título “Crer na caridade suscita caridade” e o  fundamento bíblico em 1 Jo 4, 16 (Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele.), o Papa enumera quatro pontos com os quais desenvolve sua mensagem:
1.                 A fé como resposta ao amor de Deus
2.                 A caridade como vida na fé
3.                 O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
4.                 Prioridade da fé, primazia da caridade
Afirma o Sumo Pontífice que a descoberta de Deus pelo encontro místico e pessoal (“Sim, existe um Deus! Existe “O” Deus! Único e verdadeiro! Eu O encontrei!”) tem como consequência outras descobertas (“Sim, esse Deus é amor! Mais que isso: Esse Deus me ama!”) Desse processo que engloba coração e intelecto simultaneamente e que se desdobra continuamente sem se concluir ou se completar em definitivo, brota a fé do cristão como uma RESPOSTA (“Diante de uma amor como esse, como eu poderia ficar indiferente e inerte? Preciso fazer algo! Preciso corresponder!”).
Assim se manifestada uma consciência desse amor divino por nós e também uma compreensão de que o “procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado”.
Ah, como o mundo seria outro se os cristãos assumissem essa condição que os distingue! Assim se diria: “Cristãos? É aquele povo que ama! Que ama por que tem fé! Que tem fé porque ama!” Eis um ponto interessante para meditarmos na Quaresma: “eu me distingo em meu contexto, em meu dia-a-dia, diante dos homens, por ser alguém que tem fé e ama?”

Deus tem a iniciativa de nos amar e a nossa fé responde a isso em primeiro lugar tomando conhecimento e acolhendo esse amor. Mas Deus quer mais. Quer que essa nossa resposta ultrapasse o mero conhecimento e acolhimento desse amor divino e vá além! Quer que, nessa vivência amorosa, possamos nos assemelhar a Ele (que é Amor, cf. 1 Jo 4,8) e então nos abramos a sermos igualmente atuantes da Caridade, como Ele mesmo é. Precisamos, nas palavras de Bento XVI, “deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma "fé que atua pelo amor" (Gl 5, 6).”
A Fé e a Caridade, o crer e o fazer, não se podem separar: cremos por que fomos envolvidos num movimento de sermos amados e amar de volta, dinâmica iniciada por Deus, correspondida por nós. Colocamos em prática esse amor justamente porque cremos, por que aderimos de um modo concreto a essa experiência da caridade que vem Dele (1 Jo 4,7). O subir à montanha para encontro com Aquele que é objeto da Fé e o descer dela para executar concretamente essa fé por meio da caridade é a prática dessas duas virtudes siamesas na existência cristã.
Quando unimos Marta e Maria, ícones evangélicos do trabalho e da contemplação, do ora et labora beneditino, temos o perfeito Cristo, modelo para o cristão em sua busca de viver a fé pela caridade, expressa em obras materiais sim, mas com maior prioridade às obras imateriais e eternas da Evangelização. Nos ensina o Papa em sua Mensagem que “uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes (Fé e Caridade) implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.”
Em se tratando de Fé e Caridade, não se pode rebaixar nenhuma delas a um nível inferior já que ambas “remetem para a ação do mesmo e único Espírito Santo.” A Fé precede a Caridade, tal qual o Batismo à Eucaristia, mas uma possibilita a outra, fundamenta, justifica, sem que nenhuma delas seja rebaixada em sua excelência, assim como ocorre com as riquezas sacramentais. Bento XVI resume brilhantemente: “Tudo inicia do acolhimento humilde da fé ("saber-se amado por Deus"), mas deve chegar à verdade da caridade ("saber amar a Deus e ao próximo").”
Neste precioso tempo que é a Quaresma, o Papa, por fim, expressa o seu desejo de que possamos empreender dois procedimentos: passar esses 40 dias em exercício de “reavivar a Fé em Jesus Cristo” para que consequentemente entremos num “circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida.”
A Mensagem completa você pode ler no verso de seu folheto da Missa de Cinzas O POVO DE DEUS, da Arquidiocese de Brasília, se você o conservou. Ou na Página do Vaticano, neste link: http://migre.me/df1el 


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