Nesta Quaresma de 2013, na qual teremos além do costumeiro espírito de contrição e sobriedade que lhe é peculiar, uma certa melancolia extra pela renúncia de Sua Santidade, vale a pena examinar com atenção, oração e amor sua última mensagem para esse tempo tão rico. Nela, Bento XVI quis evidenciar a
indissolúvel relação entre a Fé e a Caridade. Neste ano da Fé o Pontífice retorna
ao seu tema predileto, a Caridade, sobre o qual já se aprofundou em encíclicas
e escritos diversos e nos presenteia com mais uma mensagem de sábia
profundidade e humilde simplicidade.
O texto não
é extenso e a linguagem, como de costume, é elegantemente didática. Com o
título “Crer na caridade suscita caridade”
e o fundamento bíblico em 1 Jo 4, 16 (Nós
conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele.), o Papa enumera quatro
pontos com os quais desenvolve sua mensagem:
1.
A
fé como resposta ao amor de Deus
2.
A
caridade como vida na fé
3.
O
entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
4.
Prioridade
da fé, primazia da caridade
Afirma o
Sumo Pontífice que a descoberta de Deus pelo encontro místico e pessoal (“Sim,
existe um Deus! Existe “O” Deus! Único e verdadeiro! Eu O encontrei!”) tem como
consequência outras descobertas (“Sim, esse Deus é amor! Mais que isso: Esse
Deus me ama!”) Desse processo que engloba coração e intelecto simultaneamente e
que se desdobra continuamente sem se concluir ou se completar em definitivo,
brota a fé do cristão como uma RESPOSTA (“Diante de uma amor como esse, como eu
poderia ficar indiferente e inerte? Preciso fazer algo! Preciso
corresponder!”).
Assim se
manifestada uma consciência desse amor divino por nós e também uma compreensão
de que o “procedimento principal que
distingue os cristãos é precisamente o amor fundado sobre a fé e por ela
plasmado”.
Ah, como o
mundo seria outro se os cristãos assumissem essa condição que os distingue!
Assim se diria: “Cristãos? É aquele povo que ama! Que ama por que tem fé! Que
tem fé porque ama!” Eis um ponto interessante para meditarmos na Quaresma: “eu
me distingo em meu contexto, em meu dia-a-dia, diante dos homens, por ser
alguém que tem fé e ama?”
Deus tem a
iniciativa de nos amar e a nossa fé responde a isso em primeiro lugar tomando
conhecimento e acolhendo esse amor. Mas Deus quer mais. Quer que essa nossa
resposta ultrapasse o mero conhecimento e acolhimento desse amor divino e vá
além! Quer que, nessa vivência amorosa, possamos nos assemelhar a Ele (que é
Amor, cf. 1 Jo 4,8) e então nos abramos a sermos igualmente atuantes da
Caridade, como Ele mesmo é. Precisamos, nas palavras de Bento XVI, “deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar
com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma
"fé que atua pelo amor" (Gl 5, 6).”
A Fé e a
Caridade, o crer e o fazer, não se podem separar: cremos por que fomos
envolvidos num movimento de sermos amados e amar de volta, dinâmica iniciada
por Deus, correspondida por nós. Colocamos em prática esse amor justamente porque
cremos, por que aderimos de um modo concreto a essa experiência da caridade que
vem Dele (1 Jo 4,7). O subir à montanha para encontro com Aquele que é objeto
da Fé e o descer dela para executar concretamente essa fé por meio da caridade
é a prática dessas duas virtudes siamesas na existência cristã.
Quando
unimos Marta e Maria, ícones evangélicos do trabalho e da contemplação, do ora
et labora beneditino, temos o perfeito Cristo, modelo para o cristão em sua busca
de viver a fé pela caridade, expressa em obras materiais sim, mas com maior prioridade
às obras imateriais e eternas da Evangelização. Nos ensina o Papa em sua
Mensagem que “uma fé sem obras é como uma
árvore sem frutos: estas duas virtudes (Fé e Caridade) implicam-se mutuamente.
A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã,
convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e
prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo
tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através
do jejum, da penitência e da esmola.”
Em se
tratando de Fé e Caridade, não se pode rebaixar nenhuma delas a um nível
inferior já que ambas “remetem para a
ação do mesmo e único Espírito Santo.” A Fé precede a Caridade, tal qual o
Batismo à Eucaristia, mas uma possibilita a outra, fundamenta, justifica, sem
que nenhuma delas seja rebaixada em sua excelência, assim como ocorre com as
riquezas sacramentais. Bento XVI resume brilhantemente: “Tudo inicia do acolhimento humilde da fé ("saber-se amado por
Deus"), mas deve chegar à verdade da caridade ("saber amar a Deus e
ao próximo").”
Neste
precioso tempo que é a Quaresma, o Papa, por fim, expressa o seu desejo de que
possamos empreender dois procedimentos: passar esses 40 dias em exercício de
“reavivar a Fé em Jesus Cristo” para que consequentemente entremos num “circuito
de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida.”
A Mensagem completa você pode ler no verso de seu folheto da Missa de Cinzas O POVO DE DEUS, da Arquidiocese de Brasília, se você o conservou. Ou na Página do Vaticano, neste link: http://migre.me/df1el
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