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23 de março de 2015

"Vai ter boicote!"


Entendo que em países democráticos qualquer mídia seja livre para apresentar a seu público o que achar conveniente do ponto de vista artístico, jornalístico ou até mesmo ideológico. Sou a favor da liberdade de expressão e aceito (dentro dos limites da lei e da ética) que as mídias sejam laicas e até ateias e não me surpreendo se forem também hostis à religiosidade, em especial ao cristianismo. Tenho tido uma expectativa negativa sobre os meios de comunicação de massa: já espero o pior deles. Seria desejável que os meios de comunicação social estivessem comprometidos com o bem comum, os bons costumes, a justiça e a verdade como orienta o Catecismo da Igreja Católica (§2498), mas sabemos que o compromisso maior é com a audiência a qualquer custo, em primeiríssimo lugar. Por trás de toda comunicação midiática, desconfio sempre de uma intenção publicitária e fico imaginando como é que eles estão faturando em cima do que apresentam. Cada vez mais percebo que a grande mídia está a serviço do mundo e não posso esperar dela uma visão cristã, não me iludo mais com isso.

 Mesmo assim, sob esse mesmo argumento da liberdade de expressão, acredito que podemos e devemos nos posicionar CONTRA a maneira como os mass media apresentam seus conteúdos, em especial a teledramaturgia, e questionar a visão artística que bate sempre nas mesmas teclas ideológicas (especialmente pelas redes sociais). Respeitar não é aceitar nem aplaudir... "É preciso combater o erro e amar o que erra", dizia Santo Agostinho. “Observai tudo e ficai com o que é bom” (1 Tes 5, 21), posto que “tudo me é permitido mas nem tudo me convém” (1 Cor 6,12), dizia São Paulo. Também o Salmo 100, 3 afirma: “Não proporei ante meus olhos nenhuma coisa má” já que, como Jesus exortava, “O olho é a luz do corpo” (Mt 6, 22).

Pois bem, diante disso, admito que eu, já há algum tempo, praticamente não assisto mais a TV Globo*. Nem mesmo o telejornalismo tem credibilidade pra mim. Gosto de assistir Globo Repórter, dependendo do assunto. Não suporto programas de auditório estilo Faustão, Luciano Huck, Vídeo Show, nos quais a entidade apenas se autopromove reciclando seus artistas e programas... Detesto Galvão Bueno (profissionalmente!) e na minha opinião, o Louro José devia ser o apresentador do Mais Você e a Ana Maria Braga, a boneca empoleirada! BBB então?! Não merece que se gaste nem os 140 caracteres do twitter com alguma crítica. Sempre fui telespectadora da TV Globo, mas diante da falta de inovação e classe, fui me cansando. Sempre gostei de novelas, sempre foi para mim um hobbie e um momento de entretenimento, de descanso, de lazer. Mas diante da teledramaturgia que essa emissora vem oferecendo ao longo dos anos, um produto que foi se deteriorando mais e mais, foi impossível não fazer uma análise mais crítica.

Vamos excluir a questão moral/religiosa apenas por um instante: o que uma dramaturgia como a que a Rede Globo tem oferecido ao povo brasileiro acrescenta a nós em termos de cultura, entretenimento, arte, humanismo, civilidade? Pouco, meus caros, muito pouco... possivelmente nada! Propõe-se um boicote pelas redes sociais, e a minha posição? Boicote sim! Sabemos que as artes muitas vezes retratam a sociedade mas, felizmente, não é a totalidade da sociedade brasileira que é como as novelas globais gostam de apresentar em suas histórias requentadas e previsíveis... Na minha casa existe até uma piada interna, piada pronta, que meu pai sempre repete por ocasião das estréias das novelas: “Para novelas da Globo, basta assistir o primeiro e o último capítulo”, pois o desenvolvimento é irrelevante. Dependendo do autor, já saberemos que haverá personagens com bordões, quais os atores e atrizes que irão atuar e até o nome da protagonista!

Além das costumeiras baixarias envolvendo golpes, traições, ódios, vinganças, chantagens, crimes, a bola da vez é a questão da ideologia de gênero, a campanha pela assimilação da união homoafetiva e a adoção de crianças por pares homossexuais pelo senso comum. A Rede Globo está empenhada em “vender” a idéia do que se convencionou chamar de “novas concepções familiares”. Ora, podem existir vários grupos e configurações familiares na sociedade, mas família enquanto instituição é formada por um homem, uma mulher e seus filhos. Em qualquer lugar do mundo, em qualquer época, em qualquer cultura, um homem, uma mulher e sua prole são identificados como família sem necessidade de reconhecimento por autoridade pública, estatutos ou qualquer legislação específica. Isso independe de religião.

Respeito pela liberdade das pessoas é básico para toda e qualquer situação, por toda e qualquer pessoa ou grupo de pessoas. Proteção de direitos civis seria até aceitável, mas descaraterização da instituição familiar por motivo de modernização de conceito é ideologia, apenas. Então me pergunto: qual a real intenção da emissora com o lobby lgbt? Como será que ela está faturando com essa campanha? Não venha me dizer que é por amor ao ser humano que se faz isso que ninguém vai acreditar, afinal, “o povo não é bobo”. Ou só é quando convém?  

Felizmente, assim como ninguém é obrigado a ser cristão e a viver sob o parâmetro do Evangelho, igualmente ninguém é obrigado a dar ibope ao que não concorda, ao que não agrada. O país é laico? Sim, graças a Deus. O público é laico? Não, senhor; não, senhora. Grande parte dos telespectadores ainda tem seus princípios religiosos e morais e se o Brasil não tem uma religião oficial, também não tem uma TV oficial, ditando norma social goela abaixo. Vai ter boicote sim e, se reclamar, vai ter terço, vai ter culto, vai ter Missa, vai ter campanha, vai ter tag e twittaço! Democracia é isso: não esperem mais unanimidade, estamos na era da diversidade! Vai ter boicote, vai ter reação, vai ter mimimi, vai ter reclamação, VAI TER CRISTÃO! O choro é livre e nós também (não é assim que se comenta nas redes sociais?).  

Felizmente somos livres! Existe uma frase que, embora seja atribuída a Clarice Lispecto, na verdade não se conhece a autoria. Essa frase resume bem o que penso: “Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas”. E eu acrescento: ainda bem que existem outras emissoras, outros canais! Tenho certeza que temos outras opções mais de acordo com nosso nível intelectual, cultural, humano, moral e espiritual! Temos outras histórias, outras músicas, outros livros, outros filmes, outras séries, outras atividades, inclusive provavelmente, outras novelas! Graças a Deus! O problema é que muitas vezes, nos contentamos com pouco, nos contentamos com a mesmice. Especialmente em se tratando de TV, aceitamos a mediocridade. A frase abaixo (neste caso, realmente de autoria de Clarice), foi dita para o Jornal do Brasil em 1967 e ilustra bem o que digo: 

“Não entendo. Nossa televisão, com exceções, é pobre, além de superlotada de anúncios. Mas Chacrinha foi demais. Simplesmente não entendi o fenômeno. E fiquei triste, decepcionada: eu quereria um povo mais exigente.”

É o que falta: um povo mais exigente. Bom, eu sou exigente. E sou livre. Vou criticar sim. Vou boicotar sim. Quero uma dramaturgia que entretenha sim, mas que agregue culturalmente. Quero respeito. Quero arte. Quero bom gosto. Quero valores elevados. Quero comédia inteligente e não apelativa. E amores verdadeiros. Rede Globo, sabia que existem casais que não se traem, que não se divorciam para viver uma paixão volúvel? Sabia que existe o “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe”? Sabia que, na vida real, existem pessoas que perdoam e não se vigam, que falam a verdade e que preferem se prejudicar a não manter a palavra dada? Existem sim, eu sou uma dessas pessoas e conheço várias outras. Quero me ver retratada, quero me identificar, quero minha fé respeitada. Rede Globo, sabia que existem cristãos que vivem com autenticidade sua fé buscando fazer o bem para a sociedade? Que nem todo padre é pedófilo ou larga a batina para ficar com alguma mocinha; que nem todo evangélico é ignorante ou só quer saber de dinheiro? Eu tenho plena convicção que o povo brasileiro cada dia mais não se vê retratado nessas novelas e o resultado natural da não identificação é o abandono.
Transcrevo uma postagem da cantora católica Vera Lúcia (retirado de sua página no Facebook): 

Se assistir “Babilônia” te gerar paz, concórdia, união, aceitação, harmonia familiar, tranquilidade, cultura de um país melhor, se criar em crianças e adolescentes mais vontade de estudar, valorizar seu país e pais... Se gerar isso, edificar a vida, a família… eu também vou assistir e divulgar! Se quisermos a presença de Deus em nossas vidas, não podemos concordar com caminhos contrários. O meu caminho é Jesus Cristo, sigo o que diz a Bíblia e em Apocalipse 17,5 como um mistério: “BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DA PROSTITUIÇÃO E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA”. 

Assim, conclamo: boicote! Por questões religiosas? Sim, também por elas (e por que não?!), mas também por que meu cérebro e minha sensibilidade demandam mais.  

*Minha crítica é somente à Rede Globo? Obviamente não. 
Todavia para este post, preferi me limitar à esta emissora 
devido aos debates que tive com conhecidos e desconhecidos 
por ocasião da estréia da novela Babilônia. 

3 de junho de 2013

Lançar sementes e redes na evangelização pela internet


São Paulo afirma: “Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9, 16)
Tenho empreendido a evangelização pela internet como um chamado feito por Deus a mim num período de grande deserto. Percebi que o mundo da web, a blogosfera, as redes sociais são um campo sedento da Palavra da Vida. Para mim, evangelizar pela internet muitas vezes significa enfrentar uma boca de venda de drogas, um ponto de prostituição, um ambiente ateu e hostil à religião, onde acontece pornografia, pedofilia, corrupção, roubos, etc, etc.
A internet, é verdade, é só uma ferramenta que pode ser utilizada tanto pro bem quanto para o mal, tanto para a vida quanto para a morte, para bênção ou para a maldição. E de que lado estamos? Temos lançado sementes da Palavra nesse imenso campo onde estão cada vez mais plantadas milhares de almas humanas, filhos de Deus? Ou temos procurado apenas falar de nós mesmos? O Papa Bento XVI na 45º Mensagem do Dia Mundial das Comunicação Social adverte para o perigo de empreendermos uma interação parcial, com uma tendência a comunicar só algumas partes do próprio mundo interior e o risco de cair numa espécie de construção da auto-imagem que pode favorecer o narcisismo. A tentação é grande!
Por graça e misericórdia de Deus, desde 2008 eu tenho tentado lançar as sementes do Reino pela internet, seja nesse blog, seja nas redes sociais, seja no que eu chamo “a pastoral do email”. Compartilho “oportuna e inoportunamente” a Bíblia, o Magistério, palestras, pregações, dicas, partilhas, etc, etc... Tudo o que o Espírito me inspirar, pois acredito que a semente do Evangelho merece ser lançada, e o ser humano tem o direito de recebê-la! Para mim, é uma obrigação que se me impõe! Temos que ser como Paulo e dar esse testemunho público de nossa fé: “Animados pelo mesmo espírito de fé, como está escrito: Eu acreditei, portanto, eu falei, nós também acreditamos e, portanto, falamos” (2 Coríntios 4, 13), nós acreditamos e, portanto, teclamos, twittamos, postamos!
Eu penso que a partir do momento que o Vaticano tem um site, toda paróquia do mundo tem o dever de ter uma página na internet também! Sempre digo que se o Papa Francisco twitta em média umas três vezes por semana palavras de paz, de amor, QUEM SOU EU, QUEM SOMOS NÓS para não lançar as sementes também pela internet?! A desculpa de não ter tempo não cola, já que perde-se tanto tempo twittando, ‘facebookand’, navegando em tantas outras coisas!! Duvido que qualquer um de nós seja mais ocupado que o nosso Papa Francisco! Às vezes enchemos o coração de vontade e a boca de discursos para falar de missão, mas somos incapazes de anunciar do conforto das nossas casas pela internet em nossos horários vagos! Precisamos refletir na URGÊNCIA da evangelização pela internet...
Quantas pessoas só tem a internet como opção para encontrar Deus de seus leitos de enfermidade! Quantas e quantas pessoas só tem por amiga a tela do computador! Quantos filhos e filhas de Deus perdidos jamais passarão perto de nossos grupos jovens, grupos de oração, missas, etc, mas ficam horas e horas na internet! E eles estão se perdendo por falta de quem anuncie! Por falta de quem lance as sementes da Palavra que cura, que salva, que converte! Precisamos nos convencer que os confins do mundo de Atos 1, 8, atualmente, também é o ciber-espaço.
Muitas vezes, nessa empreitada, me sinto como a voz que clama no deserto! Twittando sobre Deus, postando sobre a Bíblia, divulgando sobre as atividades da minha comunidade, e percebo pouco retorno, pouca interação. Tenho plena consciência de que o mundo é hostil a Deus, o virtual também (talvez até mais que o real!). O Papa Bento XVI nos alerta na mesma mensagem citada acima que “devemos estar cientes de que a verdade que procuramos partilhar não extrai o seu valor da sua “popularidade” ou da quantidade de atenção que lhe é dada.” Mas é difícil sentir essa solidão na missão.
Muitas vezes buscamos resultados, lançamos a semente e queremos ver a planta romper a terra, queremos ver o broto, as folhas, as flores, os frutos... Eu também sou assim! Mas aí vem a Palavra de Deus e consola nosso coração: Um é o que semeia, outro o que colhe (Jo 4, 37).
Recentemente me escreveram nas redes sociais: “Não deixe de passar mensagens, sempre fará um bem a quem você menos espera!” Quando penso que estou sozinha, clamando no deserto, o Senhor me providencia tais coisas, pequenas coisas que vai me dando a certeza de que todos esses esforços não são em vão! Que eu preciso continuar lançando sementes sem racionalizar se elas cairão à beira dos caminhos, nas pedras ou nos espinhos. Que eu preciso ter confiança de que a semente é boa, indubitavelmente boa, e o meu trabalho é simplesmente semear! Fazer como diz o Padre Raniero Cantalamessa: “Semear então e depois… ir dormir! Ou seja, semear e depois não estar lá o tempo todo olhando, quando brota, onde brota, quantos centímetros está crescendo diariamente. A germinação e o crescimento não é nosso negócio, mas de Deus e do ouvinte.” (Leia na íntegra: http://www.cantalamessa.org/?p=1131&lang=pt)

E quando eu me cansar, quando me sentir só, quando já tiver trabalhado a noite inteira sem retorno aparente nenhum, que eu possa fazer como Pedro naquela ocasião de Lucas 5, 1-11: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.” 

20 de fevereiro de 2013

Jornalismo arregão e a renúncia do Papa



O jornal Gazeta do Povo publicou hoje um artigo do publicitário Sílvio Medeiros que responde à opinião da colunista Barbara Gancia  vinculada no jornal Folha de São Paulo no dia 15 de Fevereiro de 2013 a respeito da renúncia de Sua Santidade o Papa Bento XVI. Para os que não ficaram sabendo da polêmica, a dita colunista fez piada da decisão do Pontífice de renunciar, publicando um texto superficial, vulgar, pobre, numa linguagem que só demonstra como o jornalismo brasileiro se encontra num período não de crise moral, mas antes, de crise de competência e profissionalismo. Cito apenas este episódio expondo o artigo que responde com civilidade e inteligência à aberração da imprensa-lixo representada pela Folha de São Paulo e sua colunista, a Gancia (cuja transcrição disponibilizo abaixo*), mas recomendo a postagem do Blog do Pe. Paulo Ricardo intitulado "A renúncia do Papa e os oportunistas da imprenssa secular" (http://padrepauloricardo.org/blog/a-renuncia-do-papa-e-os-oportunistas-da-imprensa-secular) que evidencia como só ele poderia fazer a mediocridade da mídia secular e o desserviço que promovem com seu despreparo e falta de seriedade profissional. 


*Bento XVI e o jornalismo arregão

Já foi dito por muitos católicos que acompanhar a cobertura desta renúncia papal e do próximo conclave por determinada imprensa era um tipo excelso de sacrifício. Não é de se admirar. Já teve jornal de primeira linha divulgando desde que a renúncia criava um precedente para se acabar com a infalibilidade papal - oi? - até que o momento era uma deixa para um Concílio Vaticano III. Mas até aí, sejamos tolerantes, opiniões jogadas ao vento, aceitas por qualquer papel.

O nível geral, no entanto, desceu drasticamente na última sexta feira, dia 15, quando a Folha de São Paulo divulgou o artigo de Barbara Garcia sobre o tema em questão.

Muito diferente dos outros textos, em que opiniões e especulações - por mais mirabolantes que fossem - eram colocadas em pauta com um mínimo de fundamento e seriedade, esse artigo chocou pelo seu caráter estrito de folhetim, propaganda e ataque pessoal. Dá para ver o veneno contido por entre a tipografia. Ao que tudo indica, a idéia era mesmo debochar, invocar ar de superioridade e capitalizar.

O artigo se intitula "Bento XVI, o Arregão". O escopo do artigo versa que Bento XVI se acovardou diante dos desafios da Igreja, que sua renúncia foi um sinal de "derrotismo", "frouxidão", e que este sai "de cena mordido", incapaz de imitar a Cristo. Começa criticando o fato do papa ter renunciando em latim - não ficou claro qual seria a sugestão para se falar diante de cardeais do mundo inteiro que falam em comum, o latim - depois entra nos clichês sobre pedofilia e encerra de forma épica qualificando João Paulo II de misógino. Mas a idéia toda do artigo é a exploração do próprio título, sendo o conteúdo conseguinte apenas desculpa para se divulgar o rótulo e ridicularizar.
Bento XVI, seria então arregão.

29 de janeiro de 2013

Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital


MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O 45º DIA MUNDIAL
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
 
5 de Junho de 2011



Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião do XLV Dia Mundial das Comunicações Sociais, desejo partilhar algumas reflexões, motivadas por um fenômeno característico do nosso tempo: a difusão da comunicação através da rede internet. Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos, está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão.
Aparecem em perspectiva metas até há pouco tempo impensáveis, que nos deixam maravilhados com as possibilidades oferecidas pelos novos meios e, ao mesmo tempo, impõem de modo cada vez mais premente uma reflexão séria acerca do sentido da comunicação na era digital. Isto é particularmente evidente quando nos confrontamos com as extraordinárias potencialidades da redeinternet e a complexidade das suas aplicações. Como qualquer outro fruto do engenho humano, as novas tecnologias da comunicação pedem para ser postas ao serviço do bem integral da pessoa e da humanidade inteira. Usadas sabiamente, podem contribuir para satisfazer o desejo de sentido, verdade e unidade que permanece a aspiração mais profunda do ser humano.
No mundo digital, transmitir informações significa com frequência sempre maior inseri-las numa rede social, onde o conhecimento é partilhado no âmbito de intercâmbios pessoais. A distinção clara entre o produtor e o consumidor da informação aparece relativizada, pretendendo a comunicação ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha. Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas. Por outro lado, isto colide com alguns limites típicos da comunicação digital: a parcialidade da interação, a tendência a comunicar só algumas partes do próprio mundo interior, o risco de cair numa espécie de construção da auto-imagem que pode favorecer o narcisismo.
Sobretudo os jovens estão a viver esta mudança da comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida. O envolvimento cada vez maior no público areópago digital dos chamados social network, leva a estabelecer novas formas de relação interpessoal, influi sobre a percepção de si próprio e por conseguinte, inevitavelmente, coloca a questão não só da justeza do próprio agir, mas também da autenticidade do próprio ser. A presença nestes espaços virtuais pode ser o sinal de uma busca autêntica de encontro pessoal com o outro, se se estiver atento para evitar os seus perigos, como refugiar-se numa espécie de mundo paralelo ou expor-se excessivamente ao mundo virtual. Na busca de partilha, de «amizades», confrontamo-nos com o desafio de ser autênticos, fiéis a si mesmos, sem ceder à ilusão de construir artificialmente o próprio «perfil» público.
As novas tecnologias permitem que as pessoas se encontrem para além dos confins do espaço e das próprias culturas, inaugurando deste modo todo um novo mundo de potenciais amizades. Esta é uma grande oportunidade, mas exige também uma maior atenção e uma tomada de consciência quanto aos possíveis riscos. Quem é o meu «próximo» neste novo mundo? Existe o perigo de estar menos presente a quantos encontramos na nossa vida diária? Existe o risco de estarmos mais distraídos, porque a nossa atenção é fragmentada e absorvida por um mundo «diferente» daquele onde vivemos? Temos tempo para reflectir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas que sejam verdadeiramente profundas e duradouras? É importante nunca esquecer que o contato virtual não pode nem deve substituir o contato humano direto com as pessoas, em todos os níveis da nossa vida.

27 de janeiro de 2013

Diante das tragédias da vida


As tragédias fazem parte da vida. E eu não o digo em tom de conformismo, mas simplesmente constatando um fato. O ser humano rejeita essa realidade e procura de todas as formas prevenir-se de passar por isso. Crentes ou ateus, ricos ou pobres, todos estão sujeitos às vicissitudes dessa vida. Uma velha amiga sempre dizia: para morrer, basta estar vivo! Por mais que cuidemos do quesito segurança, o adágio popular enuncia que "acidentes acontecem" e faz parte do significado do termo a imprevisibilidade. Nossa vulnerabilidade aí se destaca e por mais que racionalizemos, procuramos sempre um "culpado" que console nossos sentimentos de fracasso, nossa incapacidade de concertar a situação. Logo, a parte de nós que não é mera matéria, mera razão, busca compreender: Por quê? Não tarda, nossa parte ainda mais intangível, imaterial, íntima questiona: onde estava Deus? 

O Catecismo Jovem (YouCat), no número 51, indaga: "Se Deus tudo sabe e tudo pode, porque não evita o mal?" A resposta vem em seguida: 

"Deus só permite o mal para fazer surgir dele algo melhor." (São Tomás de Aquino)
"O mal no mundo é um mistério sombrio e doloroso. O próprio Crucificado perguntou ao Seu Pai: 'Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?' (Mt 27, 46) Muito dele é incompreensível. Mas de algo temos certeza: Deus é cem por cento bom. Ele nunca pôde ter sido o autor de algo mau. Deus criou o mundo bom, embora ainda não aperfeiçoado. Com violentas falhas e penosos processos, ele desenvolve-se até a definitiva perfeição. Pode distinguir-se aquilo a que a Igreja chama mal físico, como uma deficiência congênita ou uma catástrofe natural, do mal moral, que atinge o mundo pelo abuso de liberdade. O 'inferno na terra' - crianças soldados, atentados suicidas, campos de concentração... - é geralmente operado por seres humanos. A pergunta decisiva não é, portanto, 'Como se pode crer num Deus bom, se há tanto mal?', mas 'Como poderia o ser humano, com coração e inteligência, suportar a vida nesse mundo se não existisse Deus?' A morte e a ressurreição de Cristo mostram-nos que o mal não tem a primeira nem a última palavra: do pior dos males Deus fez surgir o bem absoluto. Nós cremos que Deus, no Juízo final, acabará com toda injustiça. Na vida do mundo vindouro, o mal não terá mais lugar e o sofrimento acabará." 

Diante das tragédias, o ser humano sofre, se horroriza, mas também se sente atraído.