Nasci, graças a Deus, numa
família muito amorosa, trabalhadora e honesta. Sou a 1ª de três filhos. Como em
muitos lares brasileiros, fui criada em meio ao sincretismo da Fé católica com
a doutrina do espiritismo. Minha mãe é católica, meu pai, espírita kardecista,
ambos sempre atuantes em sua religião. Passei a minha infância pendendo para um
lado e outro, participando dessas duas realidades. Sempre estudei em colégios
católicos, fiz a catequese, 1ª Comunhão, embora frequentasse reuniões espíritas
ocasionalmente. Não faltou em nossas infâncias (minha e dos meus irmãos) as
novenas, as “barraquinhas”, visitas a asilos e orfanatos, etc. E por iniciativa
do meu pai (em obediência a seu pai, meu avô), toda quarta-feira, pontualmente
às 21hs, nos sentávamos à mesa, nos reconciliávamos de possíveis “perrengues”,
líamos a Bíblia e orávamos.
Na adolescência, embora
ainda estudando num colégio salesiano, me decidi por não fazer a Crisma, pois
entendia que se a fizesse, estaria “confirmando” minha adesão pela Igreja
Católica, coisa que não queria na época. Mesmo sendo muito jovem, me arvorava
em opiniões imaturas e sem fundamentos sobre a Igreja, tudo fruto de uma
personalidade forte (ainda que em formação), mas superficial, mergulhada em
desconhecimento, própria dos adolescentes. Ao invés da Crisma, enveredei pelo
espiritismo, estudando seus escritos, participando de suas práticas, tentando
promover a caridade ao modo deles, ao lado de meu pai.
Mesmo tendo optado
conscientemente por não ser católica, frequentemente ia às Missas com minha
mãe, pois me apegava às palavras de Jesus que afirmava: “Fazei isto em memória
de mim”. Achava que Jesus merecia minha consideração nesse quesito e, mesmo sem
ter a noção completa do grande milagre que é a Eucaristia, percebia que só na
Igreja Católica se cumpria o que Jesus pedia nessa sentença. Assim, hoje vejo
que a Santa Eucaristia sempre foi aquele elo espiritual que nunca se rompeu e
que ligava sempre minha alma batizada à Santa Igreja de Cristo.
Recordo-me que nesse período
sentia-me frequentemente muito sozinha, sem amigos verdadeiros (meus únicos
amigos eram os livros), passava dias e dias trancada no quarto com perguntas existenciais
rodando pela minha cabeça. Questionava-me se a vida era mesmo apenas aquilo: estudar
por cerca de 20 anos, casar, trabalhar, conseguir bens para depois morrer? E
depois de morrer, o que viria? Eu reencarnaria? Iria para o purgatório, para o
céu, ou (Ave Maria!) para o inferno? Sentia um profundo vazio com essas ideias.
Não tinha um relacionamento com Deus. Acreditava que Ele existia e que poderia
nos proteger se merecêssemos. Tinha medo de possíveis castigos e não queria que
Ele se intrometesse muito em minha vida.
Entenda bem, apesar do que
descrevi acima, eu sempre me considerei uma pessoa feliz, com uma família que
eu amava e que me amava, nunca nada me faltou, e eu sempre procurei ser uma
pessoa de bem, obedecer e respeitar meus pais, professores, cumprir com minhas
obrigações e tudo o mais. Obviamente não era perfeita, nem sempre acertava e algumas
vezes me sentia triste, mas no geral, não tinha por que reclamar de nada. Mas
eu queria mais e sentia que a vida poderia ser mais.
Foi então que eu participei,
aos 16 anos, do Encontro do Grupo Jovem da minha comunidade, o V Imago Dei,
mais por insistência das minhas colegas da escola. Fui com a maior má vontade
do mundo e creio mesmo que foi o Espírito que me conduziu, ou melhor, foi me
empurrando ladeira acima! Nessa ocasião, sinto que fui, pela primeira vez,
apresentada ao Senhor Jesus. Ainda de maneira formal, tive esse 1º encontro com
Ele, algo mais ou menos como um aperto de mão. Foi uma porta que se abriu para
que eu pegasse o retorno do caminho que estava trilhando e iniciasse uma nova
rota, agora na Igreja e de uma maneira nova. E foi por essa porta que eu trouxe
de volta para uma maior vivência eclesial minha mãe, novamente, e meus dois
irmãos, Marcos e Márcio, mais conhecidos como os “Manolos”. J
Continuei em cima do muro por
algum tempo, dentro da Igreja e dentro do centro espírita, mas gradualmente,
com as reuniões do Grupo, as formações, os encontros, fui conhecendo o que era
verdadeiramente a Igreja Católica. Não era nada do que eu imaginava do alto da
minha arrogante ignorância juvenil. Ainda assim, muitas dúvidas brotavam em mim
sobre Bíblia, doutrina, dogmas e posicionamentos da Igreja Católica. Foi então
que, através de um Congresso de Jovens organizado pela RCC e Comunidade Canção
Nova na minha cidade (Sobradinho-DF) em 1998, Ano do Espírito Santo, que tive,
de fato, um encontro PESSOAL com Aquele para qual eu já trabalhava, mas que
ainda não tinha permitido que adentrasse meu coração: Jesus. Depois disso, de
fato, TUDO mudou, e eu nunca mais fui a mesma pessoa. Progressivamente fui
percebendo que o caminho que Deus queria para mim estava na Igreja Católica e
não em outras experiências e doutrinas. No começo aconteceram alguns embates
com meu pai, mas aos poucos fomos aprendendo a aceitar e respeitar a opção de cada
um.
Passei a participar do Grupo
de Oração São Vicente e, nesse contexto, dentro da Renovação Carismática Católica,
tive um contato mais íntimo com a Bíblia, entendi de fato o que é a Santa
Eucaristia (ou melhor, QUEM É), aprofundei meu amor por Maria e a minha vida de
oração se transformou completamente, tanto a pessoal quanto a comunitária,
especialmente pela participação nos Sacramentos. Fiz a experiência de ser
curada emocional e espiritualmente de tantas experiências que vivi.
Gradualmente, vi o Senhor me usando como um instrumento para a realização de
seus desígnios, através do conhecimento da Doutrina da Igreja e do
discernimento e uso dos carismas. Foi crescendo em mim um comprometimento muito
grande com Jesus, com o anúncio de Seu Reino através de Sua Santa Igreja e
todas aquelas dúvidas da juventude foram sendo respondidas uma a uma, através
dos estudos que a própria RCC promovia de várias formas.
Foi dentro da Igreja,
através da minha Comunidade São Vicente (no Grupo Imago Dei, no Grupo de Oração
São Vicente e, posteriormente, como Ministra da Eucaristia), que adquiri os
melhores amigos que poderia ter, verdadeiramente uma família, e posso afirmar
sem demagogia: nunca mais senti falta de amigos verdadeiros. Na São Vicente formei
minha família. Casei-me com um grande amigo de missão, meu marido Juliano, e
tenho a plena convicção que nossa união ultrapassa o “estado civil: casados” e
vai muito além, pois assumimos nosso casamento como “Vocação” e tudo o que esse
termo significa. Tivemos 6 filhos, dois deles já na Glória de Deus e os outros
quatro aqui conosco, nos santificando sempre mais e nos dando a dimensão do que
é serviço por amor. Em nenhum momento dessa trajetória sentimos a ausência ou
omissão de Deus em nenhum segundo sequer da nossa história.
Para finalizar, preciso
dizer que, para cada parágrafo desses acima, eu teria pelo menos, no mínimo, mais
uns 3 ou 4 testemunhos da presença ou ação de Deus em minha vida, de maneira
direta ou por meio dos irmãos! São muitas bênçãos e graças e, de fato, seria
preciso uma coletânea inteira de livros para mencionar um a um. Como se pode
perceber, a minha história não é, por assim dizer, de grande superação ou
dores, tragédias, etc, onde o Senhor tenha que ter feito alguma ação extraordinariamente
miraculosa... Eu também nunca fui tão perdida nas trevas, no pecado, para que
Deus tivesse que me resgatar de forma dramática, por muito sofrimento e dor! Não.
Eu sempre fui uma pessoa, entre aspas: “boa”, que procurava fazer a coisa certa
da melhor maneira possível. Minha história é simples, mas com certeza, Deus
agiu nela e a transformou! E, se me permitem dizer, creio que tudo isso é só o
começo, e que muito mais ainda está por vir! ;)