Entendo que em países
democráticos qualquer mídia seja livre para apresentar a seu público o que
achar conveniente do ponto de vista artístico, jornalístico ou até mesmo
ideológico. Sou a favor da liberdade de expressão e aceito (dentro dos limites
da lei e da ética) que as mídias sejam laicas e até ateias e não me surpreendo
se forem também hostis à religiosidade, em especial ao cristianismo. Tenho tido
uma expectativa negativa sobre os meios de comunicação de massa: já espero o
pior deles. Seria desejável que os meios de comunicação social estivessem
comprometidos com o bem comum, os bons costumes, a justiça e a verdade como
orienta o Catecismo da Igreja Católica (§2498), mas sabemos que o compromisso maior
é com a audiência a qualquer custo, em primeiríssimo lugar. Por trás de toda
comunicação midiática, desconfio sempre de uma intenção publicitária e fico
imaginando como é que eles estão faturando em cima do que apresentam. Cada vez
mais percebo que a grande mídia está a serviço do mundo e não posso esperar
dela uma visão cristã, não me iludo mais com isso.
Mesmo assim, sob esse mesmo argumento da
liberdade de expressão, acredito que podemos e devemos nos posicionar CONTRA a
maneira como os mass media apresentam
seus conteúdos, em especial a teledramaturgia, e questionar a visão artística
que bate sempre nas mesmas teclas ideológicas (especialmente pelas redes sociais).
Respeitar não é aceitar nem aplaudir... "É preciso combater o erro e amar
o que erra", dizia Santo Agostinho. “Observai tudo e ficai com o que é bom”
(1 Tes 5, 21), posto que “tudo me é permitido mas nem tudo me convém” (1 Cor
6,12), dizia São Paulo. Também o Salmo 100, 3 afirma: “Não proporei ante meus
olhos nenhuma coisa má” já que, como Jesus exortava, “O olho é a luz do corpo”
(Mt 6, 22).
Pois bem, diante disso, admito
que eu, já há algum tempo, praticamente não assisto mais a TV Globo*. Nem mesmo
o telejornalismo tem credibilidade pra mim. Gosto de assistir Globo Repórter,
dependendo do assunto. Não suporto programas de auditório estilo Faustão,
Luciano Huck, Vídeo Show, nos quais a entidade apenas se autopromove reciclando
seus artistas e programas... Detesto Galvão Bueno (profissionalmente!) e na
minha opinião, o Louro José devia ser o apresentador do Mais Você e a Ana Maria
Braga, a boneca empoleirada! BBB então?! Não merece que se gaste nem os 140 caracteres do twitter com alguma crítica. Sempre fui telespectadora da TV Globo, mas diante
da falta de inovação e classe, fui me cansando. Sempre gostei de novelas,
sempre foi para mim um hobbie e um momento de entretenimento, de descanso, de
lazer. Mas diante da teledramaturgia que essa emissora vem oferecendo ao longo
dos anos, um produto que foi se deteriorando mais e mais, foi impossível não fazer
uma análise mais crítica.
Vamos excluir a questão moral/religiosa
apenas por um instante: o que uma dramaturgia como a que a Rede Globo tem
oferecido ao povo brasileiro acrescenta a nós em termos de cultura,
entretenimento, arte, humanismo, civilidade? Pouco, meus caros, muito pouco...
possivelmente nada! Propõe-se um boicote pelas redes sociais, e a minha
posição? Boicote sim! Sabemos que as artes muitas vezes retratam a sociedade
mas, felizmente, não é a totalidade da sociedade brasileira que é como as
novelas globais gostam de apresentar em suas histórias requentadas e
previsíveis... Na minha casa existe até uma piada interna, piada pronta, que
meu pai sempre repete por ocasião das estréias das novelas: “Para novelas da
Globo, basta assistir o primeiro e o último capítulo”, pois o desenvolvimento é
irrelevante. Dependendo do autor, já saberemos que haverá personagens com
bordões, quais os atores e atrizes que irão atuar e até o nome da protagonista!
Além das costumeiras baixarias
envolvendo golpes, traições, ódios, vinganças, chantagens, crimes, a bola da
vez é a questão da ideologia de gênero, a campanha pela assimilação da união
homoafetiva e a adoção de crianças por pares homossexuais pelo senso comum. A
Rede Globo está empenhada em “vender” a idéia do que se convencionou chamar de “novas
concepções familiares”. Ora, podem existir vários grupos e configurações
familiares na sociedade, mas família enquanto instituição é formada por um
homem, uma mulher e seus filhos. Em qualquer lugar do mundo, em qualquer época,
em qualquer cultura, um homem, uma mulher e sua prole são identificados como
família sem necessidade de reconhecimento por autoridade pública, estatutos ou
qualquer legislação específica. Isso independe de religião.
Respeito pela liberdade das
pessoas é básico para toda e qualquer situação, por toda e qualquer pessoa ou grupo
de pessoas. Proteção de direitos civis seria até aceitável, mas
descaraterização da instituição familiar por motivo de modernização de conceito
é ideologia, apenas. Então me pergunto: qual a real intenção da emissora com o
lobby lgbt? Como será que ela está faturando com essa campanha? Não venha me
dizer que é por amor ao ser humano que se faz isso que ninguém vai acreditar,
afinal, “o povo não é bobo”. Ou só é quando convém?
Felizmente, assim como ninguém é
obrigado a ser cristão e a viver sob o parâmetro do Evangelho, igualmente
ninguém é obrigado a dar ibope ao que não concorda, ao que não agrada. O país é
laico? Sim, graças a Deus. O público é laico? Não, senhor; não, senhora. Grande
parte dos telespectadores ainda tem seus princípios religiosos e morais e se o
Brasil não tem uma religião oficial, também não tem uma TV oficial, ditando
norma social goela abaixo. Vai ter boicote sim e, se reclamar, vai ter terço,
vai ter culto, vai ter Missa, vai ter campanha, vai ter tag e twittaço!
Democracia é isso: não esperem mais unanimidade, estamos na era da diversidade!
Vai ter boicote, vai ter reação, vai ter mimimi, vai ter reclamação, VAI TER
CRISTÃO! O choro é livre e nós também (não é assim que se comenta nas redes
sociais?).
Felizmente somos livres! Existe
uma frase que, embora seja atribuída a Clarice Lispecto, na verdade não se conhece
a autoria. Essa frase resume bem o que penso: “Ainda bem que sempre existe
outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas”.
E eu acrescento: ainda bem que existem outras emissoras, outros canais! Tenho
certeza que temos outras opções mais de acordo com nosso nível intelectual,
cultural, humano, moral e espiritual! Temos outras histórias, outras músicas,
outros livros, outros filmes, outras séries, outras atividades, inclusive
provavelmente, outras novelas! Graças a Deus! O problema é que muitas vezes,
nos contentamos com pouco, nos contentamos com a mesmice. Especialmente em se
tratando de TV, aceitamos a mediocridade. A frase abaixo (neste caso, realmente
de autoria de Clarice), foi dita para o Jornal do Brasil em 1967 e ilustra bem
o que digo:
“Não entendo. Nossa televisão, com exceções, é pobre, além de superlotada de anúncios. Mas Chacrinha foi demais. Simplesmente não entendi o fenômeno. E fiquei triste, decepcionada: eu quereria um povo mais exigente.”
“Não entendo. Nossa televisão, com exceções, é pobre, além de superlotada de anúncios. Mas Chacrinha foi demais. Simplesmente não entendi o fenômeno. E fiquei triste, decepcionada: eu quereria um povo mais exigente.”
É o que falta: um povo mais
exigente. Bom, eu sou exigente. E sou livre. Vou criticar sim. Vou boicotar
sim. Quero uma dramaturgia que entretenha sim, mas que agregue culturalmente.
Quero respeito. Quero arte. Quero bom gosto. Quero valores elevados. Quero
comédia inteligente e não apelativa. E amores verdadeiros. Rede Globo, sabia
que existem casais que não se traem, que não se divorciam para viver uma paixão
volúvel? Sabia que existe o “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
até que a morte os separe”? Sabia que, na vida real, existem pessoas que
perdoam e não se vigam, que falam a verdade e que preferem se prejudicar a não
manter a palavra dada? Existem sim, eu sou uma dessas pessoas e conheço várias
outras. Quero me ver retratada, quero me identificar, quero minha fé respeitada.
Rede Globo, sabia que existem cristãos que vivem com autenticidade sua fé
buscando fazer o bem para a sociedade? Que nem todo padre é pedófilo ou larga a
batina para ficar com alguma mocinha; que nem todo evangélico é ignorante ou só
quer saber de dinheiro? Eu tenho plena convicção que o povo brasileiro cada dia
mais não se vê retratado nessas novelas e o resultado natural da não
identificação é o abandono.
Transcrevo uma postagem da cantora católica Vera Lúcia (retirado de sua página no Facebook):
Transcrevo uma postagem da cantora católica Vera Lúcia (retirado de sua página no Facebook):
Se assistir “Babilônia” te gerar
paz, concórdia, união, aceitação, harmonia familiar, tranquilidade, cultura de
um país melhor, se criar em crianças e adolescentes mais vontade de estudar,
valorizar seu país e pais... Se gerar isso, edificar a vida, a família… eu
também vou assistir e divulgar! Se quisermos a presença de Deus em nossas
vidas, não podemos concordar com caminhos contrários. O meu caminho é Jesus
Cristo, sigo o que diz a Bíblia e em Apocalipse 17,5 como um mistério: “BABILÔNIA,
A GRANDE, A MÃE DA PROSTITUIÇÃO E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA”.
Assim, conclamo: boicote! Por
questões religiosas? Sim, também por elas (e por que não?!), mas também por que
meu cérebro e minha sensibilidade demandam mais.
*Minha crítica é somente à Rede Globo? Obviamente não.
Todavia para este post, preferi me limitar à esta emissora
devido aos debates que tive com conhecidos e desconhecidos
por ocasião da estréia da novela Babilônia.
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