Escrevo
hoje aos casais e a minha motivação é a grande quantidade de pessoas que tem me
pedido oração por seus casamentos. E o interessante é que, pelo menos nesses
casos em que as pessoas me procuram e relatam um pouco das suas dificuldades,
100% das crises tem uma causa comum: a falta de diálogo. Meu marido e eu, em 14
anos de relacionamento (um ano de namoro, um ano de noivado e 12 anos de
casados), aprendemos (não sem muita labuta) que se relacionar sem dialogar é
contra-producente, para dizer o mínimo. Graças a Deus, na caminhada de Igreja,
o Senhor providencia sempre encontros para casais nos quais sempre é possível
aprender a ser verdadeiros “ministros do sacramento do Matrimônio” através da
oração, do carinho, da solicitude, mas especialmente, através do DIÁLOGO.
Nós
já tivemos a oportunidade de viver por diversas vezes esses encontros um com o
outro e os dois com Deus e podemos testemunhar como fez toda a diferença na
nossa história. Como sempre, Deus em sua misericórdia, nos fazia lembrar os
motivos que nos levaram a nos unirmos em uma só carne e nos conduzia a recordarmos
tudo aquilo que nos levou a nos interessarmos um pelo outro. E mais, o Senhor
nos ajudou a constatar que tudo isso ainda estava em nós! Melhor ainda,
perceber que Ele já havia trabalhado muita coisa e que poderia acrescentar
muito mais!
Hoje
em dia, um pouco mais experimentados, nós aprendemos que a vida de casado não é
apenas flores e arco-íris em nuvens cor-de-rosa, mas traz consigo os seus
desafios, afinal, trata-se de unir duas histórias de vida distintas para forjar
uma nova história, que não é nem a de um, nem a do outro as quais estávamos tão
acostumados. Esse processo pode, às vezes, destacar mais os espinhos das flores
e os ocasionais raios e trovoadas das nuvens cinzas... Isso aconteceu conosco e
pudemos perceber que a principal causa dos desgastes, desentendimentos e mágoas
residiam nos desvios do plano original, ou seja, ao invés de uma nova história,
tentávamos juntos, cada um, escrever a sua. E sem contar pro outro! Aliás, o
grande trunfo do exercício do DIÁLOGO para nós está centralizado justamente
nessa expressão: “contar pro outro”. E contar com o outro!
É
claro que isso tudo só é possível pela graça de Deus, pela consciência de que
somos filhos de Deus e que Ele nos fez por amor e para o amor, mesmo nas
dificuldades, principalmente quando vivemos em um tempo marcado pelo
individualismo e egoísmo, no qual tudo, até as pessoas, são descartáveis.
Sabemos que, como afirma a Palavra de Deus, a origem do amor é Deus (1 Jo 4,
7). E, se estamos casados, ainda mais essa vocação para o amor se evidencia em
nosso dia-a-dia, pois o matrimônio é mais que uma mera escola de amor, está
mais para um curso intensivo de como amar 24hs por dia, de segunda a domingo,
sem pausas para folgas!
Muitos
casais que nos procuram relatando suas crises matrimoniais são pessoas de
Igreja, são pessoas de fé. Em vários casos, suas histórias (assim como a nossa)
nasceram a partir de um encontro com Deus e se desenvolveram sob essa
perspectiva divina, razão pela qual, devem se sustentar mantendo a visão
espiritual do sacramento ao qual fomos, todos nós, chamados pelo Nosso Pai em
Jesus, Nosso Senhor, no poder do Espírito. Não podemos jamais nos esquecer que
somente com a ajuda Dele poderemos empreender o matrimônio de maneira autêntica
e, nesse sentido, toda aprendizagem sobre DIÁLOGO poderá ser útil de fato. Não
podemos perder de vista que só pela graça específica do sacramento do
matrimônio é possível valorizar e aceitar o outro como Deus espera de que
façamos...
Sabemos
que tudo isso pode parecer ser teórico demais mas funcionou tanto conosco (meu
marido e eu) que fazemos questão de expressar sempre que temos oportunidade! Com
toda franqueza, a experiência do DIÁLOGO reconstruiu nosso matrimônio numa
ocasião em que estávamos sem esperanças de que isso fosse possível, num momento
em que estávamos até cogitando flexibilizar a indissolubilidade do que sempre
havíamos acreditado que Deus tinha unido “até que a morte separasse”. Aprender
e exercitar o diálogo realmente nos transformou como casal, mas também ultrapassou
esse aspecto, nos transformou como pessoas. Aprendemos e experimentamos que
FALAR CURA, OUVIR CURA, e acreditamos que o diálogo tem tanta eficácia quanto a
oração no processo de evolução do ser humano para além da efemeridade dessa
vida sempre tão mais curta do que desejamos...
Temos
uma gratidão eterna em primeiro lugar a Deus que encaminha nossas histórias, e
em segundo lugar aos Encontro de Casais que participamos na Igreja, por tudo
aquilo que eles possibilitaram em nossas vidas, principalmente por nos mostrar
a indispensabilidade do DIÁLOGO para uma relação, seja ela qual for, mas principalmente quando se trata da relação matrimonial. Aprendemos que a consequência
inexorável do DIÁLOGO é a amizade que ultrapassa as superficialidades e
transitoriedades e que sem ele, é impossível chegar ao coração do outro. Aprendemos
que, quando se trata de casamento, se não houver amizade verdadeira, fruto do
DIÁLOGO bem vivido, será impossível o amor verdadeiro, e o “na saúde e na
doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza” ganhará status de
conto de fadas utópico.
Assim,
o que eu sempre aconselho é que busquemos aprender a DIALOGAR, a ouvir e a
falar, sem cobranças, sem julgamentos, mas com acolhimento, simples aceitação
do que o outro quiser ou precisar desabafar, expressar. Estranhamente encontro
muita resistência à ideia. As pessoas não querem mais dialogar, não querem se
abrir, não estão dispostas a ouvir. Penso que esta seja a razão pela qual o
mundo de hoje está doente: as pessoas, deliberadamente, se fecham ao diálogo. Tem
medo de se colocar numa posição vulnerável quando expressam suas opiniões e
sentimentos. São incapazes de ouvir o outro sem preconceitos, com paciência e com
interesse genuíno. Alguns se colocam na posição arrogante de monólogo, outros
se fecham em seus silêncios, o resultado inevitável é o isolamento, tanto de quem fala, quanto de quem cala. Ambas as posturas num
casal são paradoxais, pois denunciam um comportamento que só teria lógica a
pessoas que estivessem só! Ora, um casal não é mais o “um” ou “o” outro
dissociados, como dissemos acima, entretanto, quantos casais de almas solitárias
e carentes existem por aí que, sem essa comunicação vital, observam dia após dia
seus casamentos desmoronando...
Quando
chegamos nesse ponto em que o diálogo não existe mais, a única saída é, em nossa inegável liberdade, analisar
com toda franqueza se se quer que o casamento dê certo. Pois amor é decisão! A resposta sendo afirmativa, é preciso que saibamos que não conseguiremos sem DIALOGAR. É preciso ter a consciência de que, sem DIÁLOGO, o amor morrerá de fome, sede e
solidão e o divórcio fatalmente se insinuará, até o ponto da insinuação se tornar imposição. Sem DIÁLOGO, veremos o que Deus uniu rachar, trincar, quebrar, se despedaçar, se destruir. A falta de DIÁLOGO é o câncer do casamento. Muitas coisas podem
ajudar um casamento (e desta destaco a oração), mas sem DIÁLOGO, um casamento
jamais será uma união nos moldes de Deus, pleno. Se de fato existirem
barreiras intransponíveis para que o casal dialogue, é hora de ceder, deixar o
orgulho de lado e BUSCAR AJUDA. Seja num encontro para casais (como foi o nosso
caso, do meu marido e eu), seja numa terapia de casais, seja numa pessoa de confiança
e com sabedoria para fazer a mediação... mas busquem ajuda! Se esforcem,
queiram, busquem, orem, orem muito, orem mais... e DIALOGUEM! Sempre com
gentileza, educação, respeito e civilidade.
Não
adianta conversar com “Deus e o mundo”, amigas e amigos, familiares, padres,
psicólogos e não conversarem UM COM O OUTRO! O empreendimento é complexo, pois
necessita da adesão dos dois com o mesmo espírito, com a mesma abertura, na “mesma
vibe”. Necessita de sabedoria e maturidade, para que não acabe em julgamentos, acusações ou brigas. Acontece muitas vezes de um querer e o outro estar fechado. Mas taí uma
coisas pela qual vale a pena se esforçar! E eu acredito que aquele que sente esse
impulso pelo DIÁLOGO foi escolhido por Deus para ser o “guardião” de sua
relação matrimonial. É preciso que assuma esse posto e se torne mesmo o “arauto”
do DIÁLOGO então! Se foi escolhido por Deus, será capacitado por Ele, não tenho
dúvidas. O ideal seria que ambos assumissem a missão, mas se não for o caso, no
que depender de nós, tentemos com todas as forças incentivar o DIÁLOGO com
nosso cônjuge! O DIÁLOGO é a chave que abre os corações, tanto para quem fala
quanto para quem ouve, e permite que saiam as mágoas, os ressentimentos, as
incompreensões, e que entrem os esclarecimentos, pedidos de perdão, carinhos...
O DIÁLOGO tem a força de destruir o negativo e construir o positivo na vida de
um casal. O DIÁLOGO é instrumento de paz na relação. Insistamos no diálogo!
Eu não afirmo tudo isso como quem “acha”, mas
como quem “vive”. Nossa oração é que todos esses casais que nos procuram possam
vivenciar o DIÁLOGO franco e aberto, e que essa experiência possa fazer aos
dois tanto bem quanto fez (e faz) a nós e à nossa família. Que o Senhor ajude
na abertura do coração de cada um, para que o DIÁLOGO produza frutos de
reconciliação, amizade, melhor comunicação e “chamego”. Que a Sagrada Família
possa fortalecer essas uniões para que o filhos possam ter a grande graça de
crescer numa família amorosa, que testemunhe mesmo ao mundo o quanto é
maravilhoso amar e perseverar no amor, que testemunhe que vale a pena lutar,
mudar e se sacrificar pelos que amamos, afinal, sabemos que não há amor maior
do que aquele que dá a sua vida por quem ama (Jo 15, 13). E cada vez que DIALOGAMOS
em nosso casamento, creia, geramos vida em nós e no outro.
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