As tragédias fazem parte da vida. E eu não o digo em tom de conformismo, mas simplesmente constatando um fato. O ser humano rejeita essa realidade e procura de todas as formas prevenir-se de passar por isso. Crentes ou ateus, ricos ou pobres, todos estão sujeitos às vicissitudes dessa vida. Uma velha amiga sempre dizia: para morrer, basta estar vivo! Por mais que cuidemos do quesito segurança, o adágio popular enuncia que "acidentes acontecem" e faz parte do significado do termo a imprevisibilidade. Nossa vulnerabilidade aí se destaca e por mais que racionalizemos, procuramos sempre um "culpado" que console nossos sentimentos de fracasso, nossa incapacidade de concertar a situação. Logo, a parte de nós que não é mera matéria, mera razão, busca compreender: Por quê? Não tarda, nossa parte ainda mais intangível, imaterial, íntima questiona: onde estava Deus?
O Catecismo Jovem (YouCat), no número 51, indaga: "Se Deus tudo sabe e tudo pode, porque não evita o mal?" A resposta vem em seguida:
"Deus só permite o mal para fazer surgir dele algo melhor." (São Tomás de Aquino)
"O mal no mundo é um mistério sombrio e doloroso. O próprio Crucificado perguntou ao Seu Pai: 'Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?' (Mt 27, 46) Muito dele é incompreensível. Mas de algo temos certeza: Deus é cem por cento bom. Ele nunca pôde ter sido o autor de algo mau. Deus criou o mundo bom, embora ainda não aperfeiçoado. Com violentas falhas e penosos processos, ele desenvolve-se até a definitiva perfeição. Pode distinguir-se aquilo a que a Igreja chama mal físico, como uma deficiência congênita ou uma catástrofe natural, do mal moral, que atinge o mundo pelo abuso de liberdade. O 'inferno na terra' - crianças soldados, atentados suicidas, campos de concentração... - é geralmente operado por seres humanos. A pergunta decisiva não é, portanto, 'Como se pode crer num Deus bom, se há tanto mal?', mas 'Como poderia o ser humano, com coração e inteligência, suportar a vida nesse mundo se não existisse Deus?' A morte e a ressurreição de Cristo mostram-nos que o mal não tem a primeira nem a última palavra: do pior dos males Deus fez surgir o bem absoluto. Nós cremos que Deus, no Juízo final, acabará com toda injustiça. Na vida do mundo vindouro, o mal não terá mais lugar e o sofrimento acabará."
Diante das tragédias, o ser humano sofre, se horroriza, mas também se sente atraído.
Pe. Fábio de Melo em seu livro "É sagrado viver" sustenta na crônica intitulada "O Belo no Trágico" que a tragédia é sedutora, se não o fosse, não atrairia milhões para os cinemas com filmes dramáticos, como o Titanic por exemplo. Quem nunca ficou preso em um engarrafamento por que as pessoas diminuem a velocidade para tentar ver a extensão do acidente provocador do congestionamento? Em muitas pessoas uma curiosidade irresistível e mórbida aflora, e nela há por vezes muito de compaixão e solidariedade, todavia infelizmente, em outros tantos, o que emerge é realmente um lado negro de interesse inexplicável e inconveniente que por vezes suplanta a humanidade e a consideração pela dignidade das vítimas. A mídia de massa, tantas e tantas vezes a serviço da cultura de morte, alimenta esse traço humano sombrio providenciando ampla cobertura para esses episódios sofridos nas rádios, TVs, internet, mídia impressa, etc. São horas seguidas, por vezes dias, talvez meses, noticiando, debatendo, analisando incidentes dolorosos que colocam a sociedade local, nacional e por vezes global remoendo a desgraça da vez.
Pe. Fábio de Melo em seu livro "É sagrado viver" sustenta na crônica intitulada "O Belo no Trágico" que a tragédia é sedutora, se não o fosse, não atrairia milhões para os cinemas com filmes dramáticos, como o Titanic por exemplo. Quem nunca ficou preso em um engarrafamento por que as pessoas diminuem a velocidade para tentar ver a extensão do acidente provocador do congestionamento? Em muitas pessoas uma curiosidade irresistível e mórbida aflora, e nela há por vezes muito de compaixão e solidariedade, todavia infelizmente, em outros tantos, o que emerge é realmente um lado negro de interesse inexplicável e inconveniente que por vezes suplanta a humanidade e a consideração pela dignidade das vítimas. A mídia de massa, tantas e tantas vezes a serviço da cultura de morte, alimenta esse traço humano sombrio providenciando ampla cobertura para esses episódios sofridos nas rádios, TVs, internet, mídia impressa, etc. São horas seguidas, por vezes dias, talvez meses, noticiando, debatendo, analisando incidentes dolorosos que colocam a sociedade local, nacional e por vezes global remoendo a desgraça da vez.
Uma breve olhada na internet, seja seu email ou seu perfil nas redes sociais te dará o desprazer (ou estranho prazer, para alguns) de contemplar imagens recentíssimas do acontecimento infausto. A tragédia fascina a muitos!
Pe. Fábio desdobra ainda mais o tema:
"A vida é narração. A vida é drama. A vida é tragédia. Nem mesmo Deus se livrou dela. O mistério da Encarnação nos revela isso. Um drama completo e original. Um Deus* que se humaniza para experimentar o desconforto e o encanto de ser humano, de se divertir com a comédia, de se emocionar com a dor, e de não fugir do trágico. No alto do calvário, o drama divino assume o seu ápice. Morre humilhado, solitário, administrando sozinho o pavor que todo vivente precisa enfrentar no momento derradeiro."
No trágico incêndio do dia 27 de Janeiro de 2013 em Santa Maria, cidade universitária do Rio Grande do Sul, um espaço que se destinava à alegria e celebração se tornou a vala comum de inúmeras vidas que foram ceifadas prematuramente em meio as chamas das irresponsabilidades cotidianas. Buscam-se explicações, procuram-se culpados, explora-se o quanto se pode a dor alheia... 'Compartillha-se' e 'retuíta-se' as imagens dos corpos indefesos dos irmãos (filhos de Deus, nosso Pai!) sem pudor nenhum! A cena de um Calvário atual se descortina diante do Brasil, com destaque para a Morte elevada ao centro das atenções. Em segundo plano as lágrimas das mães dolorosas comovem a audiência que fica cada vez mais acostumada (e imune!) ao sofrimento alheio. Não faltam os curiosos ao redor, alguns sem respeito, outros piedosos. Nós, que a tragédia não atingiu diretamente, de qual grupo fazemos parte?
No Calvário de Jesus, João não se omitiu de estar presente aos pés da Cruz, quando todo o resto dos que andavam com o Mestre haviam fugido. Sempre imaginei: o que se passou em sua cabeça? Qual foi o tamanho do seu medo em estar ali, sem compreender bem as coisas que aconteciam? Com que desconforto confortou a Mãe do seu querido amigo que era obrigada a presenciar o martírio do seu amado filho?... TENHO CERTEZA ABSOLUTA de que ele tenha estado em oração... Talvez tenha perguntado ao Deus que seu querido Senhor ensinou a chamar de Pai: Por quê? Talvez tenha procurado culpados... Mas com certeza absoluta: João orou.
No dia de hoje, somos como João, estamos todos aos pés das cruzes desses jovens. Sejamos cristãos de verdade: soframos sim, mas antes de mais nada confiemos em Deus! OREMOS! Oremos por eles, por suas mães, pais, famílias, amigos... Oremos pelos jovens do Brasil afora, atingidos por tantas tragédias, previsíveis e evitáveis ou não. Creiamos que não era esta a vontade de Deus para a vida de cada um deles e suas famílias! Tenhamos a convicção de que, se por algum misterioso desígnio isso veio a se suceder nessas histórias particulares, não foi por omissão divina, talvez antes por imprudência ou irresponsabilidade humana. OREMOS! Se a oração não pode fazer voltar o tempo até o passado e modificar o que já aconteceu, não tenhamos dúvidas de que sem ela o presente demasiado pungente não se sustenta e nenhum futuro fará sentido. Diante do altar ou da Bíblia; da TV ou do computador: OREMOS! Só perto de Deus conseguiremos prosseguir nessa existência fugaz cheia de situações que não compreendemos. Só pela esperança no Apocalipse 21, 4** poderemos não desistir... OREMOS...
* Copio aqui conforme o texto do sacerdote, mas penso que que o artigo indefinido é supérfluo.
** Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição.
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