Para mim a
vivência do Natal se inicia mesmo antes do Advento. Umas
duas semanas antes do Advento, eu finalizo todas as compras de presentes de
Natal. Evito ao máximo a multidão desesperada pelo consumo nos dias de Dezembro
nos shoppings e comércios. A Bíblia diz “foge à ocasião de
pecado” (Eclo 17, 21-22) então não posso me dar ao
luxo de ficar na frente de batalha das liquidações, saldões, consumo, gastos
exacerbados, etc, etc. Procuro ser precavida com relação às ciladas das
compras: faço uma lista, um roteiro, compro, volto e fim. E por mais que meu
marido não concorde algumas vezes :) , busco sempre fazer o dinheiro render,
na tentativa de ser como a mulher virtuosa de que fala Provérbios 31,
18: “A mulher virtuosa alegra-se com o seu lucro, e sua lâmpada não se
apaga durante a noite.” É preciso planejar com antecedência esses gastos de fim
de ano para não 'ficar no escuro' no começo do ano seguinte com os gastos com
impostos e materiais escolares, por exemplo.
Nesses presentes procuro sempre incluir pessoas especiais, que colaboraram
comigo durante o ano, como por exemplo professoras das crianças, médicos,
funcionários ou prestadores de serviço, amigos especiais em geral. Não somos
ricos e não há dinheiro para presentear todos, mas sempre dá para, com
criatividade e carinho, preparar umas lembrancinhas, cartõezinhos, gestos
simbólicos de afeto para pessoas distintas para demonstrar nossa gratidão pelo
bem que nos fizeram.
Normalmente planejo a “Ceia” no mês de Novembro, embora deixe para
comprar os ingredientes frescos no começo do mês de Dezembro. Nossa Ceia nunca
é luxuosa nem copiosa, mas falo mais sobre isso logo abaixo.
Antes do 1º Domingo do Advento, procuro fazer também uma grande faxina,
o mais abrangente quanto possível, em oração e na caridade, nos moldes do Retiro
da Boa Morte*. É impressionante a quantidade de objetos,
sentimentos, emoções, pecados etc que acumulamos ao longo do ano. Nossa casa
precisa ser um santuário! Nossa casa de tijolos e também a casa do nosso
coração. É o momento que eu corro na minha paróquia e busco a confissão. É
também o momento que eu abro cada gaveta, cada pasta, cada caixa e faço uma
grande varredura. Encaminho os itens para doação e que realmente não for reaproveitável, faço o exercício do desapego e mando para o lixo. Eu
sinto uma alegria simples e inexplicável quando a casa está arrumada e limpa,
tudo no seu devido lugar, nada sobrando ou amontoado... “Como o sol se
levantando sobre as montanhas do Senhor, assim é o encanto da mulher em sua
casa bem arrumada.” Eclo 26, 21
Enfim, essa parte “material” do Natal, tento ao máximo finalizar antes
do Advento, pois os dias do Advento, gosto de ‘gastar’ com outras coisas...
Gosto de, na medida do possível, preparar várias atividades relacionadas
ao Advento e ao Natal para as crianças. A festa do Deus que se fez uma criança
tem muito apelo infantil, mas gostamos, meu marido e eu, de direcionar tudo
para o Cristo. Esse ano preparamos no fim de novembro um “Calendário de Natal”,
para criar nas crianças a expectativa da espera que o Advento inspira. Elas
gostaram muito, foi uma atividade divertida e aproveitamos para começar as “conversas
catequéticas” sobre o Natal.
Em preparação
para o Natal e já na vivência dele, aqui em nossa casa temos alguns costumes
espontâneos, nada pré-combinado, mas já tradicionais. O primeiro deles são as
missas do Advento: são sagradas! Como aliás todas as missas do fim de semana. Tentamos
ir em família (por mais difícil que seja com as crianças), sempre que podemos.
Com a casa
toda organizada, enfeitamos com símbolos natalinos e luzes, sempre dando
preferência aos símbolos cristãos e abafando o Papai Noel e coisas de neve. O
primeiro, excluímos de dentro de casa, deixamos para os passeios nos shoppings
com a história simplificada de São Nicolau para que as crianças entendam. Sobre
a neve, bem... Apesar de parecer super óbvio para mim excluir a neve, já que
dezembro costuma ser bem quente, época boa para curtir a piscina e de esperar
os temporais por causa do calor e da umidade característica no Brasil, ainda
preciso tentar explicar para as crianças (e também alguns parentes e visitas) que
neve não tem nada a ver com a nossa realidade. Resumindo: Papai Noel: abafa!
Terceiro, quarto ou quinto planos (São Nicolau, rogai por nós!). Neve: nesse
calor que tem feito? O que que tem a ver bonecos de neve, casas cobertas de
neve, lareiras enfeitadas com meiões de lã? Moramos num país tropical, galera!
Basta a árvore
de Natal com toda sua simbologia cristã: o pinheiro, a árvore que “morre” todo
inverno e “ressuscita” na primavera, símbolo de Jesus, a Árvore da Vida, que
ligou para sempre a terra, com suas raízes humanas, e o céu, com a alta
estatura de sua copa divina; as bolas de natal são os frutos que frutificam em
nós pela ação do Espírito Santo; os pequenos sinos que celebram a encarnação do
Deus-menino nas inúmeras capelas, igrejinhas, basílicas e santuários cristãos
de todo mundo; os anjinhos, que entoaram o solene glória naquela noite em Belém
em anúncio aos pastores; a estrela coroando tudo, assim como a Estrela de Belém
que conduziu os Magos para o reconhecimento e a adoração ao
recém-nascido e, por fim, os presentes embaixo, como memória do ouro, incenso e
mirra recebidos pela Sagrada Família e em sinal do amor que une nossa família
em torno de Jesus. Isso só a título de exemplo, quantos outros símbolos cristãos
podemos utilizar!
As luzes enfeitam
a casa para a alegria dos pequenos, mas só tem sentido junto com a catequese de
que “o Povo que andava nas trevas viu uma grande luz (Isa 9, 1)” e que “O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao
mundo, ilumina todo homem (Jo 1, 9)”, obviamente adaptado para as crianças.
A Bíblia é o “destaque da estação”, lida em família
(inclusive pelas crianças), cantada, celebrada, entronizada na sala.
O presépio é o foco central, trazido aos poucos, conforme o
desenvolvimento de outra atividade muito aclamada aqui em casa: a famosa “Novena
de Natal”**! Sempre tentamos participar de algum modo: ou com os grupos da Igreja
que participamos, ou nas casas dos familiares, ou a novena da rua... Esse ano
fizemos diferente: organizamos uma novena adaptada para as crianças aqui em
casa. Bem simples, todos de pijama, antes de dormir, um tema a cada dia, a
catequese do papai, os cantos com a mamãe, a mais velha fez as leituras,
imagens no computador para eles visualizarem. Um Pai Nosso, uma Ave Maria, um
Santo Anjo e o Glória. A cada tema, íamos montando o presépio, até que no dia
24 ele se completaria com o menino Jesus e mesmo com papai ausente por
alguns dias (por conta de uma viagem a trabalho) pudemos partilhá-la via
internet, apesar da empolgação das crianças! (: Vale tudo para vivermos em família!
Na véspera de Natal, começo o dia contemplando os mistérios gozosos
do Santo Rosário, independente do dia da semana. Tento passar o dia em paz, na
convivência familiar, preparando a casa exterior e a interior para a Noite de
Luz, de Amor. A atividade
mais importante do dia, sem sombra de dúvidas é a Santa Missa!
Essa todo
mundo sabe!
Está aí uma
ocasião para qual vale a pena uma boa produção! A melhor roupa para todos,
ficamos todos lindos e cheirosos aqui em casa, pois acho que se a Santa Missa
de Natal não vale esse esforço, nada mais nessa terra valeria. Contudo, mais
importante que o exterior é a paz na família, a união, um coração aberto para a
Palavra e para a Eucaristia. Normalmente a Missa de Natal é um pouco tumultuada
pelo fato de com certeza estar lotada, da liturgia ser solene, entre outros
aspectos. Mas nessas horas eu me recordo das palavras de Scott Hahn no seu
livro “O Banquete do Cordeiro: a Missa segundo um convertido” (Ed. Loyola, pág.
18) quando afirma que a Missa pode ser “uma hora desconfortável interrompida
por choro de bebês (...), divagações (...), vizinhos vestidos como se fossem a
um jogo de futebol, à praia ou a um piquenique... Mesmo assim (...), realmente
vamos ao Céu quando vamos à Missa (...), trata-se de algo que é objetivamente
verdade, algo tão real quanto o coração que bate dentro de você. A Missa – e quero
dizer toda Missa – é o Céu na terra.” Nesse espírito participamos com muita piedade,
negociando com as crianças, celebrando com a nossa comunidade.
Em casa,
ficamos à vontade, as crianças de pijamas, música ou TV são o de menos,
prioridade mesmo é estarmos juntos! Preparamos
uma Ceia simples. A cada ano o meu desafio é a simplicidade na Ceia e na
reunião, pois penso que qualquer ostentação provoca um distanciamento daquele
presépio no qual Ele nasceu. Qualquer farra no estilo de balada, para mim, não
combina com o natal de Nosso Senhor Jesus, com músicas que não remetam a Ele ou
bedidas. Tudo isso, na minha vivência e opinião, bate de frente demais com o
silêncio e a sacralidade daquela manjedoura. Mas essa é apenas minha vivência
e opinião, que partilho aqui nessas linhas. É este o motivo pelo qual
geralmente dispenso convites para essa data. É especial demais para passar de
qualquer jeito... Muitas vezes sou incompreendida, até pelos mais próximos, mas
acho que vale a pena lutar pelo que se acredita, vale a pena os esforços pela
autenticidade da fé que se busca praticar.
É sempre difícil equilibrar a simplicidade da estrebaria de
Belém com a dignidade do nascimento de Jesus, Nosso Senhor, mas a cada ano que passa
me esforço mais e mais nessa tentativa. Festejar na medida certa, com unção, é
a minha ambição para o Natal. Outro dia li na internet uma frase que gostei
muito e basicamente resume meu desejo para a véspera de Natal:
Foi
justamente assim que vivi meu Natal esse ano.
*Saiba mais sobre esse Retiro aqui: http://eutenhodeusedeusmetem.blogspot.com/2011/04/retiro-da-boa-morte-so-temos-o-agora.html
**Sobre a Novena de Natal, acesse aqui:
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