Atualizada em: 19 de março de 2010. Disponível em http://migre.me/5bR24 Acesso em 19/mar/2010.
Bento XVI, Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, é papa desde o ano de 2005 e tem inúmeras obras publicadas antes do pontificado. Como Papa, é autor de três encíclicas e inúmeros outros documentos. Nascido na Alemanha em 1927, é doutor em Teologia e atuou como consultor teológico no Concílio Vaticano II. Antes de ser eleito Papa, foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional.
Na carta encíclica Caritas in Veritate o Pontífice Romano trata de maneira progressiva e articulada os diversos aspectos que constituem a problemática do desenvolvimento integral do homem e, conseqüentemente da humanidade, sempre interligado às noções inseparáveis da caridade e da verdade. Já na introdução, explana os conceitos de amor e sua interligação com a verdade, afirmando que em Cristo este binômio torna-se o seu próprio Rosto e também a vocação do homem para a fraternidade. Afirma que é neste conjunto “caridade-verdade” que se apóia a doutrina social da Igreja e, apesar de admitir que esta não pretenda dar “soluções técnicas” nem “imiscuir-se nas políticas dos Estados”, sustenta que sua missão a serviço da verdade é irrenunciável e que a caridade na verdade é de igual modo indispensável na construção de uma sociedade que centralize o homem em sua dignidade e vocação.
O pontífice afirma pretender recordar e homenagear a encíclica Populorum Progressio, do papa Paulo VI, de 1967, que trata do desenvolvimento dos povos, buscando seguir num processo de atualização que perpassou pela publicação da encíclica Sollicitudo Rei Socialis do papa João Paulo II. Analisa também, na mesma perspectiva do desenvolvimento humano, outros documentos de Paulo VI e de João Paulo II (Humanae Vitae, Evangelii Nuntiandi, Evangelium Vitae) incrementando destes e de sua própria análise as noções de vocação e dom como essência do paradigma de desenvolvimento. Disso, trata logo no 1º dos seis capítulos que constituem o documento.
Nos cinco capítulos seguintes expõe os desdobramentos da reflexão deste tema, detalhando e aprofundando as temáticas da contextualização atual da questão do desenvolvimento humano (capítulo 2), relacionando a economia à sociedade civil numa perspectiva de fraternidade (capítulo 3), estabelecendo vínculos entre o desenvolvimento maduro da noção de cidadania entre os povos e as repercussões disso no ambiente (capítulo 4), ressaltando a relevância da experiência relacional, em especial a que se dá na família humana (capítulo 5) e por fim, tocando no polêmico e delicado ponto da técnica e sua influência no desenvolvimento humano e dos povos.
Bento XVI conclui declarando que “o humanismo que exclui Deus é desumano” pois o desenvolvimento genuinamente humano não é tão-somente gerado no homem, mas dado por Deus. O mundo necessitaria, assim, para o seu pleno desenvolvimento nas perspectivas anteriormente detalhadas, de cristãos realmente conscientes e orantes, amparados na caridade e na verdade.
Ao resgatar o tema do desenvolvimento da pessoa humana e decorrente progresso integral da humanidade, o papa Bento XVI é extremamente feliz em sua redação que consegue ser tão abrangente nos fatores constituintes dessa temática e, ao mesmo tempo, profunda na análise de cada uma delas. Sobressai em suas linhas o brilhantismo de um autor mundialmente consagrado e reconhecido inclusive fora do âmbito religioso. O conteúdo da obra é atualíssimo, extremamente bem contextualizado e muito bem explanado, não obstante a linguagem rebuscada exigida num documento desse porte.
A matéria central do texto é de sumo valor e interesse num mundo que se vê num momento histórico decisivo de discussão a respeito das crises causadas pelo atual sistema financeiro, do aquecimento do clima derivado da estrutura industrial apoiada no capitalismo global e do dilema moral causado pelo avanço das tecnologias ligadas às comunicações de massa e ao campo da Bioética.
Nesse ínterim, o papa evidencia uma opinião que, embora concorde com o corpo doutrinário de uma religião específica, revela-se de uma lógica racional incontestável para qualquer tipo de leitor. Muitos posicionamentos, de fato, pelo teor evangélico, podem chocar e dividir opiniões, mas não se pode negar que a fundamentação provoca a reflexão e, para os mais abertos e de mais boa vontade, não é impossível que realize uma mudança de mentalidade.
Para o leitor alheio ao contexto católico podem parecer utópicas certas declarações (especialmente as que relativizam os fatores econômicos), e radicais outras (as que questionam as posturas comportamentais da atualidade, como a contracepção e o consumismo), contudo uma análise da posição do autor em seu posto de líder religioso e arauto de uma doutrina permitem o entendimento de sua maneira de pensar e justifica-a.
Para o leitor cristão, e mais devidamente o católico, o texto é verdadeira riqueza de conceitos evangélicos aplicados nas questões concretas dos tempos de hoje, no mundo de hoje, para o homem de hoje. Com o peso da autoridade de Pastor da Igreja de Cristo, estes preceitos devem ser adotados, antes de mais nada, na vida daqueles para quem a encíclica foi endereçada, a saber: presbíteros, diáconos, consagrados, leigos, todos os de boa vontade. Seria altamente recomendável que cada destinatário supracitado conhecesse, aprofundasse, seguisse e divulgasse esta obra.
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