A passagem do Evangelho de São João, capítulo 3 sempre me intrigou. No versículo 8 Jesus explica para Nicodemos: "O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito."
Quando afirmamos que o Espírito é quem age e faz, lembro-me logo desse trecho belamente cantado na voz de Eugênio Jorge: "O vento sopra onde quer"... Também em 1 Cor 12, 6, São Paulo afirma que é Deus que, pelo Espírito, opera tudo em todos.
Nessas duas passagens bíblicas podemos perceber que o Espírito é o protagonista nas ações, é Ele que sopra onde quer, é Ele que opera! Quando um batizado, servo de Deus abre seu coração e permite que o Senhor prevaleça nele com sua Vontade, Ele de fato age e faz.
A título de exemplificação, poderíamos lançar um questionamento: quem corta? É o homem ou é a faca que ele usou? Poderíamos afirmar: é o homem, já que a faca sem ele nem se moveria. Por essa análise, a autoria da ação, o protagonismo da ação, não poderia ser transferido para o objeto inanimado.
Poderíamos, então, fazer uma comparação: quando a pessoa age na unção e condução do Espírito, ela se torna uma espécie de objeto, uma ferramenta, ou, como gostamos de falar na RCC, um INSTRUMENTO nas mãos do Espírito. Assim, no caso, apesar de parecer que somos nós quem está fazendo e agindo, quem na verdade está é o Espírito. Como no exemplo citado, seríamos a faca, mas a mão que faz o corte é a mão do Espírito Santo.
É claro que a ação sobrenatural não anula a nossa natureza. Na verdade não somos meras marionetes nas mãos de Deus. Nesse processo somos colaboradores da graça que age na natureza. Deus poderia fazer o que Ele quisesse sem nossa atuação? Claro que sim, visto que Ele é onipotente! Mas o mais interessante é que Ele sempre "quer precisar de nós"! Ele opta por realizar certas obras por meio de nós. De fato, Ele nos usa, ou poderíamos dizer, se utiliza da nossa colaboração, conforme o "beneplácito de sua Vontade"! Só porque Ele ama, só porque Ele quer!
É Ele quem age, quem faz, quem movimenta, quem dá a vida, quem nos usa como melhor lhe aprouver, desde que lhe sejamos dóceis. Sabendo disso, o orgulho na obra de Deus não faz sentido. Nós somos apenas servos inúteis, fazemos apenas o que deveríamos fazer sob a condução do Espírito (Lc 17, 10).
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