A filosofia
nos explica que o homem é um ser racional e também um ser religioso. O homem é
um ser complexo e inquestionavelmente superior a qualquer outro ser deste
planeta pois é o único que o pode transformar o ambiente por meio do seu
trabalho, o único que pode transcender essa realidade e questionar o que está
por trás de tudo isso, o que há acima dessa existência, qual sua origem, qual o
seu fim. Olhando para si mesmo ou para a natureza, desde a Antiguidade, o homem
busca respostas.
O ser humano
não se contenta com a ignorância, com o desconhecimento, com a passividade.
Através de sua razão foi capaz de sair das “cavernas” e organizar cidades,
conhecer sua biologia (e a de outros inúmeros seres), descobrir os segredos do
planeta e do universo, entrar na intangível psique, inventar tecnologias cada
vez mais surpreendentes. E ainda assim, tudo isso para muitos homens não é o
suficiente. Como diz o antigo rock nacional “a gente não quer só comida, a
gente quer comida, diversão e arte”... e mais. O homem não quer só o natural,
sua alma deseja o sobrenatural.
A experiência
religiosa vem preencher essa necessidade de auto-transcendência. A Revelação
Divina vem em auxílio do homem que busca algo além dele mesmo e das realidades
temporais, é um diálogo de amor. A Encarnação do Verbo é o extremo dessa
comunicação divino-humana. Pela fé o homem encontra muitas respostas que sua
razão não pode alcançar sozinha e, mais do que respostas, encontra um sentido
mais profundo da realidade e da existência.
Obviamente o
homem, como ser racional, não iria se eximir de raciocinar sobre nada,
inclusive sobre o que crê. Faz parte do ser do homem racionalizar, ele tem
necessidade de buscar compreender tudo o que o cerca, e isso não excluiria sua
fé. Historicamente, a cultura humana vem elevando a razão ao cume do pensamento
civilizatório. A religião, mais especificamente a cristã, acompanha esse
movimento e pela teologia busca dar um tratamento científico e racional do que
se crê, sem que para isso a fé como graça divina seja excluída na experiência
religiosa e científica.
Tanto interna
quanto externamente se faz necessário ao homem participante da Igreja racionalizar
sua fé. Para os fiéis, a compreensão dos artigos da fé aumentam ainda mais essa
fé. À medida que se compreende a adesão é mais consciente e a vivência é mais
coerente, já que não se trata de uma obediência cega ao que os líderes
religiosos orientam, sem reflexão, mas de um entendimento que quando é
assimilado intelectualmente aquece o coração e movimenta para a ação, como no
episódio dos discípulos de Emaús (Lc 2, 13-33). A falta de conhecimento, pelo
contrário, leva ao afastamento do povo, conforme Oséias 4, 6: “Meu povo se
perde por falta de conhecimento”.
Para os que
não creem, um tratamento racional da fé da parte dos que creem é também necessário.
São Paulo em Efésios 4, 18 afirma sobre os pagãos: “Têm o entendimento
obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos
afastados da vida de Deus”. O Catecismo da Igreja Católica evidencia esse ponto
em seu parágrafo 39: “Ao defender a capacidade da razão humana para conhecer
Deus, a Igreja exprime a sua confiança na possibilidade de falar de Deus a
todos os homens e com todos os homens. Esta convicção está na base do seu
diálogo com as outras religiões, com a filosofia e as ciências, e também com os
descrentes e os ateus.” São Pedro em sua 1ª Carta nos exorta a estarmos sempre
prontos a responder a todo aquele que nos pedir a razão de nossa fé (1 Ped 3,
15).
Num nível
pessoal de relacionamento místico com Deus, é preciso buscá-lo de todo coração,
com toda a alma, com todas as forças (Dt 6, 5), o que obviamente inclui
buscá-lo pela razão, pelo estudo, pela reflexão. Amá-lo de “todo pensamento”
excede todos os holocaustos e sacrifícios (Mc 12, 33). Tudo obviamente embasado
na fé: “Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de
nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. (2 Cor 3, 5). Pois “sabemos que o
Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro (1 Jo
5, 20).
Assim sendo,
não se deve ter vergonha ou temor da necessidade de compreensão do que se crê,
pelo contrário, assumindo a natureza humana racional busque-se o entendimento,
a assimilação, o aprofundamento sobre a fé para se alcançar uma cada vez maior
convicção, um assentimento cada vez mais comprometido, uma interlocução cada
vez mais embasada com os que não creem.
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