Na festa da exaltação da Santa Cruz, recordo das palavras sábias do meu pároco na homilia: "A meditação da Cruz de Cristo deve nos remeter à meditação das nossas próprias cruzes". Em dias em que usar a cruz leva pessoas a perderem o emprego ou literalmente a cabeça, as palavras de São Paulo são cada vez mais verdadeiras e atuais: "A linguagem da cruz é LOUCURA para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina." (1 Cor 1, 18)
Loucura. O mundo considera a Cruz loucura, morte, fracasso, ficção, exagero, desnecessária, dispensável, ofensiva. Ateus e outras denominações religiosas se ofendem em ver uma cruz em local público, não aceitam o que consideram um proselitismo desrespeitoso a laicidade do país. A Cruz é considerada cafona, fanatismo, falta de instrução ou inteligência. O mundo rejeita a Cruz e seu simbolismo com toda hostilidade.
Bom, nosso país ainda é uma democracia, graças a Deus não é um país ateu (nem por seu povo nem por sua Constituição) e não se pode ignorar que é um país massivamente cristão. Enquanto cidadã brasileira eu tenho o direito de me expressar religiosamente e quero pedir licença: eu me prosto sob a Cruz de Cristo. Eu a uso, eu a tenho em minha casa, eu a quero em locais públicos. Faço questão que minha voz seja ouvida, faço questão de não ser ignorada. É um símbolo de fé, símbolo da religiosidade de milhões de compratiotas, recordação de uma acontecimento histórico relevante mundialmente (isso é inegável!), símbolo do que a falta de uma justiça imparcial pode fazer com os homens.
Jesus afirmou: "Aquele que QUISER me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga." (Lc 9, 23) Não são todos obrigados a reverenciar a Cruz e o que ela significa. Jesus deixa bem claro: AQUELE QUE QUISER ME SEGUIR. Mas são todos obrigados a reconhecer o evento histórico, a fé de milhões de pessoas, a religiosidade do povo.
Como canta o antigo hino cristão: "Eu amo a mensagem da Cruz! Até o fim eu a vou proclamar! Levarei eu também minha cruz! Até por uma coroa trocar!" Mas nem todos os cristãos amam a Cruz e sua mensagem, essa é uma verdade incômoda mas real. Algumas pessoas adotam a pregação da teologia da properidade, outras se apegam a teologia da libertação, outras resumem seu cristianismo à condenação o aborto, o homossexualismo, o socialismo tão somente... Usa-se os microfones dos Templos para intermináveis orações que prometem a cura e o "colinho" de Deus, ou para louvores e mais louvores ao som de forró, reggae, funk ou sertanejo... Fala-se, anuncia-se, prega-se, mas a Cruz muitas vezes é excluída. Cada vez mais raro ouvir a mensagem da Cruz!! E os que a pregam com destemor são considerados fanáticos, fundamentalistas, bitolados, "santos do pau oco". Evita-se convidar ou dar a chance para os profetas da Cruz anunciarem, pois consideram-nos muito radicais, "sem caridade", eles afastam os fiéis! É melhor um pregador que fale da misericórdia, que transmita a paz, o amor de Jesus... **(Beijinhos de luz!)** Me pergunto até que ponto isso é verdadeiro seguimento de Jesus... Obviamente não excluo a verdade da bênção, da misericórdia, do amor de Deus, mas reafirmo que o Reino de Deus não se anuncia sem anunciar a CRUZ, sem a renúncia do discursso fácil para encher templos de mentes vazias e superficiais espiritualidades.
O mundo atual é hedonista e rejeita com todas as forças o valor do sacrifício, da doação gratuita, do amor fiel até ultrapassar todos os limites. O mundo atual é o mundo dos descatáveis: usa, joga fora, pega outro, quem sabe recicla... O mundo é o mundo, mas precisamos profetizar que ó Reino de Deus é incompatível com o mundo! O mundo odeia toda a ideia da CRUZ. Mas nós não somos do mundo, como Jesus também não era do mundo (Jo 17, 14).
O mundo odeia os que são de Cristo, os que tem a marca da Cruz. Até entre os teístas encontra-se quem questiona o sacrifício redentor de Jesus na Cruz: espíritas, esotéricos, budistas, hinduístas, judeus não dobraram ainda seus joelhos diante do Cristo Crucificado por amor e ressuscitado pelo poder divino. Islamistas tem caçado os cristãos e literalmente tem os crucificado em praça pública sem que as mídias sociais dêem o devido destaque a esse absurdo não apenas religioso, mas humanitário! Vídeos de decapitações se multiplicam e o mundo não se choca, não se revolta, simplesmente assiste inerte. Ateus e agnósticos ofendem, perseguem e generalizam os cristãos no mundo real e no virtual e zombam da cristianofobia. Enquanto isso o Papa Bento XVI enunciava o martírio branco da ridicularização e o Papa Francisco denuncia o martírio vermelho atual.
Como é fácil amar a Cruz em teoria, na doçura das experiências místicas individualistas! Como é sangrento e humilhante amar a Cruz no meio político, na vida real, do mundo real, em meio a perseguições verdadeiras, massacres reais, mortes e dor.
Filipenses 2, 6-11 evidencia a humildade concreta dos que servem a Cristo e carregam sua Cruz. "Aquele que não carrega sua Cruz e me segue, não pode ser meu discípulo." Lc 14, 27
Possa o Espírito Santo nos fazer verdadeiros cristãos, daqueles que tem a marca da Cruz e que anunciem essa vida que passa por entre cruzes cotidianas mas que alcançam a vitória da ressurreição pela fidelidade, com derramamento de sangue ou não, amém.
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