Resposta de Dostoiévski à
carta de uma mãe, em 27 de março de 1878:
Posso ver por sua carta que
a senhora é uma boa mãe e se aflige com o desenvolvimento de seu filho. (…) A
senhora deveria considerar as coisas por uma perspectiva mais simples.
Pergunta-me, por exemplo: “O que é bom, e o que não é bom?” A que podem levar tais
questões? (…) Seja boa, e faça seu filho perceber que a senhora é boa; deste
modo sua obrigação para com ele cumprir-se-á inteiramente, pois assim lhe terá
dado a convicção imediata de que as pessoas têm de ser boas. Seu filho então,
por toda a vida, estimará a memória materna com grande reverência, e talvez
mesmo com uma profunda emoção. E mesmo que a senhora faça algo errado – isto é,
algo frívolo, mórbido ou até absurdo – seu filho cedo ou tarde o esquecerá e
lembrar-se-á apenas das boas coisas. Tenha certeza: em geral, não há nada além
que a senhora possa fazer por seu filho. E isso é de fato mais do que
suficiente. A lembrança das boas qualidades de nossos pais – de seu amor à
verdade, de sua retidão, da bondade de seu coração, de seu desprendimento da
falsa vergonha e de sua constante relutância diante da mentira – tudo isto cedo
ou tarde fará de seu filho uma nova criatura: acredite em mim.
Seu filho hoje está com oito
anos; mostre-lhe o Evangelho, ensine-o a acreditar em Deus, e isto do modo mais
ortodoxo possível. Eis um sine qua non. De outro modo a senhora não conseguirá
fazer de seu filho um bom ser humano, mas na melhor das hipóteses um sofredor,
e na pior um letárgico e indiferente “bem sucedido”, o que é um destino ainda
mais deplorável. A senhora não encontrará em parte alguma algo melhor do que o
Salvador, esteja certa.
Suponha que seu filho, aos
dezesseis ou dezessete anos (após o contato com colegas de escola corrompidos),
dirija-se à senhora ou ao seu esposo com a seguinte questão: “Por que eu devo
te amar, e por que me dizes que este é meu dever?” Creia-me, nenhum
conhecimento teórico poderá ajudá-la então; a senhora não saberá o que
responder. Por isso é que deve tentar agir de modo que jamais ocorra a seu
filho fazer-lhe semelhante pergunta. Isto, porém, só será possível se ele for
ligado à senhora por um amor tal que impeça esse tipo de pergunta de lhe cruzar
a cabeça. É verdade que na escola semelhantes pontos de vista talvez seduzam
seu filho, mas a senhora com facilidade conseguirá separar o falso do
verdadeiro; e mesmo que venha a deparar-se com a infeliz pergunta, poderá
respondê-la com um simples sorriso e seguir tranquilamente fazendo seu melhor.
Se a senhora afligir-se
exagerada e superfluamente com o destino de seus filhos, poderá acabar
tornando-se um estorvo para eles e afetar seus nervos, e isto mesmo que haja
entre vocês um amor imenso; de modo que a senhora deve ser cuidadosa e cultivar
moderação em todas as coisas. Em sua carta, há a seguinte colocação: “Se eu
viver para eles (isto é, para meu marido e meus filhos), será uma vida egoísta.
Posso me dar ao luxo de viver egoisticamente quando ao meu redor há tantas
pessoas a quem poderia ajudar?” Que pensamento inútil e descabido! O que a
impede de viver para os outros e ser ao mesmo tempo uma boa mãe e esposa? Ao
contrário, se a senhora viver também para os outros e dividir com eles seus
bens terrenos e as emoções de seu coração, dará a seus filhos um radiante
exemplo, e seu marido necessariamente a amará mais do que antes.
Creia-me: é imensamente
importante e útil dar um bom exemplo mesmo em uma esfera de atividade limitada,
pois deste modo podemos influenciar dúzias e centenas de pessoas. Seu objetivo
de jamais desviar-se do caminho da verdade fará com que aqueles ao seu redor
reflitam, assim influenciando-os. Isto por si só é um grande feito. Assim se
pode fazer muito por todos.